segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Itália - Memories

Causos de Monza

O GP Itália do ano 2000 não foi uma corrida convencional. Decisão do título se aproximando, Schumacher, mais uma vez, com chances e a velha esperança da torcida ferrarista de ver um piloto vermelho campeão, numa ocasião em que já se acumulavam 21 anos desde que o sul-africano Jody Scheckter sagrou-se campeão pela Scuderia.

O circo chegava à Monza, literalmente, pegando fogo. Restando, antes da corrida italiana, 4 provas para o fim da temporada, Mika Hakkinen, o bicampeão finlandês que era a maior pedra no sapato de Schumi, tinha 74 pontos e Schumacher 68. A vantagem de Mika era relativamente confortável, mas não segura. Foi o que se viu naquele fim de semana.

No sábado, a Ferrari domina a classificação: Schumacher faz a pole e Barrichello é o 2º. A McLaren ocupa a segunda fila com Hakkinen em 3º e Coulthard em 4º. No domingo, a largada ocorre, e Barrichello, que deveria servir de escudeiro, larga mal, perdendo muitas posições e caindo para o 5º lugar. Mas o pior daquela 1ª volta ainda estava por vir.

Os pilotos passam pela Variante Del Rettifiglio com certa tranqüilidade. A corrida segue, aparentemente sem maiores problemas até a próxima chicane, a Variante della Roggia. Na freada para o contorno da primeira tomada, o alemão Heinz Harald Frentzen se afoba, e tenta espremer sua Jordan entre os carros de Jarno Trulli e Rubens Barrichello. Sem conseguir concluir a manobra e sem espaço para frear adequadamente, o alemão atinge a Ferrari de Barrichello e a Jordan do companheiro de equipe. Barrichello, empurrado pelo carro de Frentzen, se choca com a McLaren de Coulthard e um incrível acidente acontece. A tentativa desastrada de ultrapassagem iniciada por Frentzen resulta num engavetamento envolvendo 7 carros.




Embalado no mega-engavetamento, Pedro de La Rosa chega à variante completamente desgovernado, capotando e girando com sua Arrows, que mergulha na nuvem de poeira formada pelo 1º acidente. O temor dos espectadores e dos comentaristas de TV era de que o carro de de La Rosa caísse sobre um dos outros bólidos nocauteados no genocídio automotivo promovido por Frentzen. E foi por pouco que essa hipótese não se tornou fato. A Arrows de Pedro, sem controle, atingiu a McLaren de Coulthard, ganhou altura e caiu ao lado da Ferrari de Barrichello, arrancando uma lasca do capacete do brasileiro, sortudo por não sofrer nenhuma contusão mais grave.

Porém, as batidas não foram os piores acontecimentos da 1ª volta maluca de Monza. Na confusão, um comissário de pista foi atingido por destroços dos carros e se feriu gravemente. Enquanto o Safety Car permanecia na pista, a ambulância prestava socorro ao fiscal inutilmente. O fiscal morreu no hospital, oficialmente, horas depois da conclusão da corrida.

Até hoje não se chegou a um consenso sobre o culpado pelo acidente. Na época, Frentzen e Barrichello trocaram acusações sobre a colisão. O brasileiro dizia que o alemão merecia uma “punição exemplar”, ao passo que Frentzen acusava Rubens de ter freado muito cedo e causado a batida. Um inquérito foi aberto, com o objetivo de encontrar os culpados pelo acidente (eu confesso que pesquisei e não encontrei o resultado da investigação. Se alguém souber de alguma pista sobre a conclusão dos trabalhos da perícia policial da Itália, por favor, se manifeste!).

Depois de ficar na pista por 10 voltas, o Safety Car voltou aos boxes e o GP Itália recomeçou. Schumacher seguiu em 1º, sempre acompanhado de perto por Mika Hakkinen. As posições não se alteraram até o fim da corrida e, para histeria dos tiffosi presentes em Monza, Michael Schumacher venceu o Grande Prêmio da Itália, com Hakkinen em 2º e Ralf Schumacher, da Williams, em 3º.




Daí em diante, a Fórmula-1 moderna conheceu uma das seqüências mais emocionantes de sua história. Após realizar a volta da vitória e descer do carro, um Michael Schumacher diferente do habitual foi para a festa do pódio. Visivelmente emocionado, Schumi cumprimentou vários mecânicos da Ferrari, e, gesticulando muito, subiu ao pódio de Monza para ouvir o hinos da Alemanha e da Itália. A massa ferrarista presente no autódromo ferveu quando o hino italiano se pôs a tocar, e Schumacher se emocionou ao ver a estrondosa festa oferecida pelo público, que, como manda a tradição do GP Itália, invadiu a pista. Porém, as emoções ainda não haviam terminado.

Na sala de imprensa, onde os três primeiros colocados concedem a tradicional coletiva exclusiva, aconteceu um lance que marcou a carreira de Schumacher. A vitória em Monza, sob a euforia da massa vermelha, era a 41ª da carreira de Schumacher, que acabara, talvez ainda sem assimilar a informação, de igualar o número de vitórias de Ayrton Senna. Perguntado sobre como se sentia ao atingir tal feito, Michael Schumacher, o alemão conhecido pela frieza que àquela altura havia lhe rendido dois títulos mundiais, desabou num choro compulsivo. A entrevista seguiu, com Hakkinen e Ralf Schumacher tentando falar e, simultaneamente, controlar o pranto de Schumacher.




A imagem de Schumacher chorando, com a cabeça baixa, correu o mundo e foi manchete de todos os jornais no dia seguinte. E o alemão voltaria a ser destaque na imprensa por mais três vezes naquela temporada. Depois de Monza, restavam três corridas para o encerramento do ano e Schumi estava apenas 2 pontos atrás de Hakkinen na classificação. Em um fim de ano perfeito, Schumacher ganhou o GP EUA e, menos de um mês após a epopéia italiana, retribuiu o carinho oferecido pela apaixonada torcida ferrarista tornando-se tricampeão do mundo no GP Japão, tirando a Ferrari de uma espera de 21 anos. De quebra, ainda ganhou a última corrida do ano, na Malásia, ratificando o primeiro dos cinco títulos que viriam na vertiginosa seqüência de domínio da Ferrari na F-1.

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