domingo, 30 de novembro de 2008

Soma Infeliz

Sabe quando parece que está dando tudo errado? Quando a vida lhe reserva uma série de dores de cabeça em série? Quando você tem vontade (alô Groo!) de comprar um livro de auto-ajuda de Lair Ribeiro para consertar todos os seus problemas? Se não sabe, eu ensino como conseguir. Tudo se dá por meio de uma operação matemática simples.

Em primeiro lugar se inscreva em um vestibular. É essencial para que o plano dê certo. Inscreva-se em um vestibular e, claro, adicione um blog na operação aritmética. Em poucas semanas você não terá tempo para uma das duas atividades. Depois disso, certifique-se de seu computador terá problemas de funcionamento. A placa de vídeo é um ótimo local para uma pane. No meio dessa operação matemática de simples resolução fique 2 semanas sem postar no tal blog. Irrite-se, tenha vontade de quebrar o computador, o quarto e a casa. Está pronta uma soma extremamente infeliz.

Por isso tudo, senhores, peço desculpas pelas semanas seguidas sem postagens. Não abandonei esse bendito blog durante as férias. Pelo contrário, tinha algumas idéias em mente para esse período. Peço desculpas e paciência a todos.

Não se enganem: ninguém está tão irritado com a situação como eu. Espero resolver o problema durante a semana.

Também peço desculpas ao meus companheiros ddos blogs "vizinhos" pelo sumiço. Quando der, volto à ativa.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Toc Toc Toc! Há alguém aí?

Uma semana de ausência e algumas coisas passaram em branco. Agora, vamos àquela mania deste blogueiro que não consegue levar a vida sem dar uns pitacos nesse mundo da velocidade.

Os testes de Barcelona

O vestibular (ai!) da Honda parece ter premiado Bruno Senna. Na briga entre o primeiro-sobrinho e Lucas di Grassi, parece que o brasileiro de sobrenome famoso levou a melhor. Olhando a tabela de tempos, eles não ficaram muito distantes, mas por algum motivo, a preferência foi de Senna.

Na verdade, na verdade, a vaga já parecia destinada à Bruno desde antes dos testes. Porém, um rumor levantado pelo jornalista Bruno Vicaria embolou ainda mais a situação da vaga que resta na Honda: segundo Vicaria, uma fonte sigilosa cedeu a seguinte informação, em tom de notícia não confirmada: Rubens Barrichello estaria garantido na equipe em 2009 e encerraria a carreira normalmente. Os testes realizados na semana passada apenas teriam a intenção de fomentar a posição de Senna como piloto de testes em 2009, para que ele estreasse como titular em 2010.

No meio disso tudo o jovem Lucas di Grassi ficaria com uma outra vaga, a de bobo da corte.

A contusão de Webber

No sábado Mark Webber fraturou a perna numa corrida ciclística na Austrália, seu país natal. Ironia das ironias: Webber passa o ano em bólidos que atingem mais de 300 km/h e nunca havia quebrado um dedo. Quebrou uma perna por muito menos.

Webber passou por uma cirurgia e pela colocação de pinos em sua perna direita.

O caso, porém, é relativamente ameno. Webber ainda está hospitalizado mas deve receber alta nos próximos dias. O maior problema será o período de recuperação do piloto australiano: ele deve perder a maior parte dos testes justamente no período em que a maioria dos pilotos estará se adaptando aos novos carros da F-1 revitalizada que entrará em cena em 2009.

A equipe Red Bull, no entanto, espera que o piloto esteja em plena forma para a estréia da temporada 2009, dia 29 de março.

As medalhas e a aliança de Bernie

Numa daquelas idéias de girico que só poderiam sair de mentes muitíssimo evoluídas, a F-1 pode alterar radicalmente seu sistema de pontuação. Se hoje o vencedor ganha 10 pontos na tabela, a partir de 2009 ele pode passar a ganhar medalhas de ouro, como numa olimpíada. Nesse novo sistema, defendido com empolgação por Bernie Ecclestone, o campeão seria simplesmente o piloto que vencesse mais corridas. Regularidade seria um traço jogado na lata do lixo com uma impressionante desfaçatez.

Tudo bem que quem comanda o circo quer ver os pilotos voltando a arriscar. A vitória realmente precisa voltar a valer a pena. O atual sistema, bolado para conter o fenômeno Michael Schumacher é extremamente obsoleto. Em primeiro lugar porque não conseguiu segurar o alemão. Dos 4 campeonatos que disputou com o atual sistema de pontos, Schumi venceu 2. Ou seja, a eficiência do dispositivo é amplamente relativa. Em segundo lugar, Schumacher já vestiu seu pijama e pulou fora da F-1. Não há mais necessidade de tentar frear ninguém.

Para fazer a vitória voltar a ter algum sentido na F-1 basta tomar uma medida simples e sem as pirotecnias de titio Ecclestone: fazer o sistema de pontuação voltar a privilegiar a vitória. Para isso basta voltar ao sistema antigo (10-6-5-4-3-2-1) ou manter o atual, elevando a diferença de pontos conquistados pelo vencedor para a de pontos conquistados pelos segundo. Premiar o vitorioso com 12 pontos, por exemplo, é um bom caminho.

Ou então, o excelentíssimo senhor Bernie pode adotar o sistema de medalhas. Mas ao invés de usar medalhas, o cartola podia usar alianças. Já que o velho Ecclestone parece estar se divorciando de sua esposa, poderia doar sua aliança ao circo e estrear mais uma de suas medidas descabidas com chave (literalmente) de ouro.

[Off] - Por Água Abaixo

Quem acompanhou o noticiário com alguma atenção nos últimos dias não pôde ignorar as tragédias que a chuva causou no estado de Santa Catarina. Inundações, enxurradas e deslizamentos de terra já provocaram mais de 50 mortes no estado do sul. A bela Florianópolis sofre com a chuva e um dos acessos a suas famosas praias foi obstruído pela queda de uma barreira. É, enfim, o começo da temporada de enchentes que assolam o Brasil a cada verão.

A hecatombe catarinense é perfeitamente justificável. Nos últimos dias choveu no estado um volume de água 4 vezes superior ao esperado para todo o mês de novembro. Em lugar algum do mundo, seja esse mundo o “desenvolvido” ou o “em desenvolvimento”, uma quantidade de água dessas cairia sem causar prejuízos. O que acontece em cidades como Blumenau, quase que totalmente submersa, teria de acontecer, independente da infra-estrutura da cidade. Simplesmente pelo fato de que a quantidade de água foi excessivamente exorbitante. Claro, sujeira nas ruas, assoreamento dos rios, tudo isso deve ter contribuído para o desastre, mas a enchente aconteceria, independente desses fatores.

Enquanto isso, aqui no meu modesto Espírito Santo, também chove de forma insistente desde a última sexta-feira. E não é porque esse blog diz que está "De Olho na F-1" em seu título que as impressões sobre o resto do mundo precisam ser ignoradas.

São quase 80 horas de chuva praticamente ininterrupta. E nesse tempo o caos se instalou nas principais cidades do estado. Em Vitória várias barreiras desabaram sobre casas e a defesa civil, abarrotada de chamados, não consegue atender a todas as ocorrências. Na Serra, a Lagoa de Carapebus subiu mais de 3 metros e ilhou os moradores do Balneário Carapebus. Em Vila Velha, cidade mais populosa do estado, os alagamentos se espalham com a velocidade de uma endemia. As principais avenidas da cidade, pólo turístico que guarda o monumento mais visitado do Espírito Santo, o Convento da Penha, se transformaram em rios, situação se repetiu na capital do estado.

A diferença entre a enchente catarinense e a capixaba é uma só: lá ela era inevitável. Aqui ela poderia, no mínimo ser amenizada. A chuva que cai no Espírito Santo é insistente, mas não forte. As pancadas mais violentas foram registradas apenas na sexta-feira. De lá pra cá a chuva cai de forma muito menos intensa. Qualquer cidade com um sistema de escoamento decente conseguiria atravessar esse período com menos problemas. Ao contrário, a região metropolitana de Vitória pára a cada chuvisco, se transformando numa São Paulo em escala muito reduzida. Bastam 5 minutos de chuva. Pára o trânsito, pára a vida do cidadão, que (sempre vale lembrar) trabalha quase 5 meses para encher o bolso do poder público e não recebe esse investimento de volta.

Na maior cara-de-pau, o governo do estado anda fazendo campanha para incentivar a emissão de nota fiscal. Parece piada.

Pra quem não conhece Vitória e suas artimanhas, vai uma pequena explicação: várias áreas da minúscula capital do Espírito Santo são frutos de aterros e outras tantas estão centímetros abaixo do nível do mar. Regiões como as da Avenida Maruípe e Leitão da Silva necessitam de um sistema de bombeamento para retirar a água das galerias e enviá-la até o mar. O grande problema é que essa bombas há muito estão defasadas e não dão conta de fazer o transporte de toda a água. Quando coincidem chuva forte e maré cheia, é caos na certa.

O resultado são os alagamentos faraônicos e os congestionamentos quilométricos. Na sexta-feira houve quem levasse 3 horas para cortar a Avenida Reta da Penha, com risíveis 2,5km de extensão. A situação mais grave, porém é a de Vila Velha, cidade localizada do outro lado da baía de Vitória. Com seus 400 mil habitantes e muitos cursos d’água convertidos em valões, a cidade amarga grandes prejuízos a cada chuva. Por se tratar de um município essencialmente plano, Vila Velha sofre com alagamentos que tomam bairros inteiros.

Lá, os efeitos da chuva são sentidos com mais força. Na Avenida Carlos Lindenberg, uma das principais ligações com a capital Vitória, a água atinge os joelhos de quem se arrisca a trafegar a pé. E a cidade continua parada.

Continua parada porque o poder público se omite, pra variar. A cada chuva, a cada sereno, a região de Vitória pára. A chuva dos últimos dias tem sido insistente, é inegável. Mas não tem sido forte. Soluções simples, como limpeza adequada de bueiros e valões, facilitariam a situação. A omissão de quem existe para garantir a boa ordem é assustadora. Na própria Carlos Lindenberg um senhor se enfiou num buraco com água até a cintura, tudo para sinalizar aos motoristas que naquele ponto, trafegar é impossível. Sinalização do trânsito é responsabilidade da prefeitura, mas é o cidadão quem precisa, mais uma vez, tomar a iniciativa de resolver o que os senhores (ir)responsáveis que lidam com as cidades não resolvem.

O que acontece aqui, senhores, é um descaso generalizado, não muito diferente do que acontece em outras regiões Brasil afora.

Um poder público que contribui para que a sociedade contabilize prejuízos dá um tiro em sua própria existência. Um poder público que não se mexe, permanece imóvel enquanto o cidadão perde casa e móveis, trai sua própria essência. Mas só reclamar da paralisia alheia é muito cômodo.

É esse o poder público que a gente legitima em cada eleição. O discurso é ridiculamente repetitivo, mas válido: num país em que se troca um voto por um saco de cimento, muita gente ainda vai ver esse cimento derreter na próxima enxurrada.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Falta

Confesso: ando em falta com este espaço. Semana que antecede o temido vestibular é dose.

E o pior é que eu sinto falta disso aqui. Sinto falta de "perder" uns minutinhos gerando conteúdo por aqui. Acho que manter um blog é algo meio viciante.

Juro que volto rapidamente para pôr o papo em dia com quem me acompanha por essa página. Por enquanto, fica esse postzinho só para esclarecer: não morri (ainda), logo volto.

Talvez eu fique louco (quem já passou pelo processo sabe como que é a pressão), mas volto, mesmo que num estado pscológico alterado. Na verdade eu lido bem com toda a tensão que envolve esses dias de espera. Mas sempre rola aquele frio na barriga.

Enfim, o retorno deve acontecer em breve.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Grande Encontro

Essa semana acontecem testes da F-1 no Circuito da Catalunha, região de Barcelona, na Espanha. As equipes começam a testar seus bólidos adaptados às mudanças no regulamento do ano que vem. Alguns times, porém, testaram com carros não totalmente adaptados às alterações, o que possibilitou uma grande discrepância quanto aos tempos registrados.

Apesar de toda a comoção causada pelos novos traços do bólidos (em especial o da BMW), o grande destaque do dia é o encontro dos dois pilotos brasileiros que disputam a vaga na Honda. Bruno Senna e Lucas di Grassi , ambos procedentes da GP2, ambicionam um lugar na equipe nipônica. Quem se despede da equipe japonesa é outro brasileiro, Rubens Barrichello. A outra vaga na equipe deve ser ocupada pelo já titular Jenson Button.

No 1º dia de briga entre Bruno e Lucas, o sobrinho do tricampeão Ayrton Senna levou a melhor. Marcou o 15º tempo do dia e imprimiu uma superioridade de quase 1,1s sobre di Grassi. Os próximos dias nos dirão mais.

Como ficou óbvio, esta é a 1ª vez em que o sobrenome Senna volta a ter contato direto com a F-1 desde 1994. É também o retorno do vínculo entre a marca da montadora nipônica Honda e sobrenome do tricampeão depois de 16 anos. Explica-se: a Honda motorizou a McLaren dos três títulos de Ayrton até 1992. Por tudo o que já foi citado até aqui, Senna parece favorito à vaga, mas há um detalhe que pode ser ainda mais decisivo.

A coluna Radar da revista Veja da semana passada noticiou que a Petrobras pretende lançar uma gasolina com o nome Senna, substituindo a atual Supra. Curiosamente, a Petrobras passará a fornecer combustível a Honda a partir de 2009. Existiria melhor garoto-propaganda do que o sobrinho de Ayrton Senna?

Quem também marcou presença no 1º dia de testes em Montmeló foi o francês Sébastian Loeb, pentacampeão mundial de Rali. O multicampeão andou com modelo da Red Bull em Barcelona e disse ter gostado da experiência, apesar de não se entusiasmar com a idéia de competir formalmente na F-1.

Em tempo: Loeb registrou um bom 8º tempo em sua série de voltas.

O Inferno São os Outros

Que eu ando me irritando com a insistência de Rubens Barrichello em implorar um vaga na F-1 em 2009, não é novidade. Do ponto de vista do torcedor e apoiante do Rubinho que sempre fui, me irrita esse comportamento xiita de só querer a F-1, de fechar os olhos a tantas outras categorias automotivas que desejam ter Barrichello como integrante. Enfim, é assunto para uma outra (e possivelmente extensa) postagem.

A outra cena meio patética que Barrichello tem protagonizado também não é nova. Rubinho diz que vai escrever um livro contando tudo o que passou em seus 6 anos de Ferrari. “Um dia saberão a verdade” – disse Rubinho em entrevista à revista Veja. O assunto é antigo. Em outubro do ano passado, numa entrevista concedida a Galvão Bueno na semana do GP Brasil, o piloto duas vezes vice-campeão já havia revelado a intenção de escrever o tal livro.




Que Barrichello passou por situações incômodas e engoliu muitos sapos na Ferrari todo mundo sabe. A pergunta que fica é: por que então ficou tanto tempo na equipe italiana?

Oportunidades para abandonar o barco vermelho não faltaram. No início de 2001, as especulações da “rádio-paddock” sinalizavam um Barrichello fora da Ferrari ao final daquele ano, o último de seu contrato. O comportamento, de Rubinho no GP Áustria (corrida em que Barrichello cedeu o 2º a Schumacher na última curva), no entanto, pareceu ser decisivo e, semanas depois, o vínculo do brasileiro com o time italiano foi estendido por mais um ano.

Em 2002, semanas antes daquele GP Áustria que ninguém esquece, a Ferrari anunciou a extensão do contrato de Rubinho até 2004.

No início de 2004, situação repetida: o contrato que acabaria no final daquele ano, foi estendido até 2006. E agora sem choro e sem vela: já estava claro para todos que a Ferrari trabalhava com um regime hierárquico rígido, que premiava Michael Schumacher com os privilégios de 1º piloto. Essa renovação se deu depois da marmelada vermelha da Áustria. Portanto, se Rubinho estava tão infeliz na Ferrari, por que continuou?

Talvez pela mesma postura radical de quem não aceita correr em outra categoria. Foi a mesma cegueira travestida em esperança de um impossível título que fez de Barrichello um dos escudeiros mais afáveis que a F-1 já conheceu. Rubinho não foi obrigado a ficar 6 anos na Ferrari. Ficou porque quis. Desperdiçou seu talento a serviço de Schumacher também porque quis. Tentar posar de vítima do destino agora é trair a sua torcida e a si próprio. Se estava mesmo tão insatisfeito na Ferrari e consciente de que o papel de 2º piloto era a única coisa que lhe restava, Barrichello teve várias oportunidades para se despedir da equipe italiana e tentar a vida em outras equipes. É claro para o mundo que o brasileiro passou por muitas dificuldades no time vermelho, mas a autonomia para dar uma banana ao cavalinho rampante jamais lhe foi negada. Pelo contrário, chances para pular fora da barca vermelha capitaneada pelo alemão papa-títulos não faltaram.

Antes de culpar terceiros pelas situações desagradáveis vividas na Ferrari, seria interessante para Barrichello medir até que ponto suas próprias decisões interferiram nessa controversa relação Barrichello-Schumacher-Ferrari.

O Show de Horrores Continua...

Não sei não, mas a cada novidade que as equipes apresentam, mais aumenta meu medo em relação aos carros de 2009. A cada simulação das especificações regulamentares surge um pequeno monstro motorizado. Hoje cedo, em Montmeló, a BMW foi clicada nos testes coletivos para a próxima temporada:

As conclusões ficam por conta de cada um. Só fico com a impressão de que 2009 baterá todos os recordes de esquisitices e aberrações automobilísticas. Vai ser difícil se acostumar.

O Tyrrel de 6 rodas de 1976/1977 vai virar fichinha!

sábado, 15 de novembro de 2008

Ecclestone: Eterno, Profano e Divino

Testes de Ferrari e Williams? Que nada! A notícia mais importante da semana vem do dono do circo, Bernie Ecclestone, que, aos 78 anos, afastou qualquer possibilidade de aposentadoria.

“Nunca, nunca, nunca” – respondeu Bernie, ao ser indagado sobre um possível descanso. "O primeiro dia em que não estiver indo trabalhar, pode ter certeza que estarei morto. E isso não acontecerá nem tão cedo” – reforçou o dirigente que, talvez acostumado com a forma tirânica com a qual dita os rumos da F-1, acredita que tem o poder sobre a vida e a morte. O chefão imperial deve se achar eterno.

Bernie Ecclestone é uma velha raposa do circo da F-1. É mais conhecido pelos anos de cartolagem, tanto como “chefão” da categoria, como dono da extinta equipe Brabham. Além desses cargos, Ecclestone já se aventurou como empresário de pilotos britânicos e até como piloto, ofício que não lhe rendeu muitos sucessos.

Nos anos 70, Bernie comprou a Brabham e passou a desfilar influência nos bastidores do circo da F-1. Junto com outros chefes de equipe fundou a FOCA (uma FOTA de 30 anos atrás) e se tornou a voz mais ativa dentro da entidade. Mas foi com a aquisição dos direitos televisivos da F-1 que Bernie deu o pulo do gato. O inglês passou a ter controle cada vez maior na área financeira e é hoje o maior acionista da categoria, uma espécie de deus que decide os rumos da F-1 de forma quase totalitária.

Nos últimos anos Ecclestone se notabilizou por levar a F-1 a lugares cada vez mais inusitados. Malásia, China, Bahrein, Cingapura e, no ano que vem, Abu Dhabi são lugares para onde o circo andou migrando nos últimos tempos. Países com tradição automobilística nula, mas com muitos dólares a oferecer para ter o direito de sediar um gp. Enquanto isso a categoria se desfaz dos gp’s Canadá e França (países que nos deram pilotos como Gilles Villeneuve e Alain Prost, respectivamente), e em breve também deixará um de seus palcos mais sagrados, a pista de Silverstone. As despedidas quase sempre são motivadas por fatores financeiros: ao menor sinal de prejuízo, a F-1 abandona o barco. No lugar de traçados históricos, Bernie enfia construções suntuosas mas com valor agregado nulo, como a do autódromo de Xangai, profanando a memória da F-1.

É graças ao pragmatismo financeiro que não respeita e não reverencia o passado, que a F-1 segue seu caminho rumo à Ásia. Circuitos moderníssimos, arquitetura requintada e cenário livre de qualquer toque pessoal de pistas como uma Montreal, ou uma Spa-Francorchamps. Essas últimas não oferecem a mesma (e relativa) finura da arquitetura tilkenizada, mas possuem histórias para contar. Mais do que isso, são pistas de verdade, nascidas em tempos em que correr riscos fazia parte da essência de um esporte que consiste em andar o mais rápido e da melhor forma possível, fechando os olhos aos iminentes acidentes de forma quase que negligente, mas irresistivelmente moleca. Nada contra a exemplar segurança que rege a F-1 moderna, mas há décadas atrás a categoria vivia tempos em que as atenções estavam menos voltadas ao politicamente correto e mais ao puro prazer de se guiar. Tempos românticos que se afastam cada vez mais, em grande parte, pela fúria profanadora do homem que parece se julgar eterno.

Para desespero geral, Ecclestone deu pistas de que sua saga rumo a países excêntricos tende a continuar: "Se vocês soubessem o tamanho da lista de pedidos [de países desejando receber a F-1] que eu tenho em meu escritório, dificilmente você acreditaria” – disse o inglês em entrevista. Porém, ainda há tempo para Bernie se redimir.

Já que o chefão se julga tão poderoso, bem que ele poderia nos fazer um senhor favor, quando decidir desencarnar. Transmitir lá do além, uma corrida com mestres que já não estão aqui. Uma prova especial, exibida graças a grande influência que Ecclestone deve possuir lá em cima, uma vez que o britânico parece saber quando será a hora de sua morte. Uma corrida com Fangio, Clark, Peterson, Villeneuve e muitos outros inesquecíveis heróis, de tempos clássicos e distantes. Uma atitude como essa, e Bernie Ecclestone deixaria de ser lembrado como profano, para se tornar divino.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Morde e Assopra

O dia foi de um incomum morde e assopra, protagonizado pela equipe Williams. Primeiro a escuderia inglesa, numa iniciativa pioneira, exibiu um modelo aproximado do carro do ano que vem, um FW30 adaptado às alterações regulamentares de 2009, como a limitação dos apêndices aerodinâmicos. O bólido que a equipe de Grove apresentou confirmou as expectativas: é bem “diferente”, com a asa dianteira mais larga e a traseira mais compacta. Não é tão pior do que bigornas e orelhas de dumbo, mas foi uma mordida dolorida no âmbito visual dos F-1.

Mais tarde, porém, veio o reparador assopro: a seguradora Allianz renovou o contrato publicitário com a Williams por mais 10 anos. O vínculo que já existia desde o ano 2000 se tornará um dos mais longevos da história não só da categoria, mas como do esporte mundial. A renovação também sinaliza um alívio para sir Frank Williams, já que seus outros colaboradores dão pistas de que abandonarão a equipe em 2009.

A Petrobras migra da Williams para Honda ano que vem. Mas essa não é, nem de longe, a perda mais significativa.

O banco RBS (Royal Bank of Scotland), um dos principais patrocinadores da equipe, por exemplo, precisou de socorro do governo inglês para não quebrar. Os rumores indicam que há forte possibilidade de a parceira não continuar em 2009 e a perda dessa fatia do orçamento pode colocar a Williams em situação delicada. Anualmente, o RBS injeta US$ 14 milhões na equipe. A falta dessa quantia pode iniciar um sério período de dificuldades financeiras para a única das equipes independentes que não recebe apoio de grandes montadores e/ou bilionários endinheirados.

O sinal de alerta já está aceso na equipe inglesa. Desde de 2006 os prejuízos acumulados atingem a marca de US$ 88 milhões. A falta de verba já causa danos à rotina do time. A Williams sofre com a concorrência de equipes emergentes como a Toro Rosso, apoiada pela Red Bull, e costumeiramente fica de fora do Q3 nas sessões classificatórias. É um sintoma sério da estagnação financeira de uma escuderia que já faturou 7 mundiais de pilotos e 9 de construtores. Hoje, infelizmente, o glorioso time do passado briga apenas pelos pontos.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Olhando ao Redor

Confesso que graças à F-1 esse blog passou o fim de ano de olhos vendados ao que aconteceu em outras categorias pelo mundo. Mas, nunca é tarde para se manifestar.

Na Indy deu Scott Dixon, que decidiu o título na última corrida em Chicago. A vitória na corrida ficou com o brasileiro Hélio Castroneves, da Penske, numa das chegadas mais sensacionais da história. Mas as notícias mais palpitantes ficaram para o pós-temporada: Helinho foi acusado de sonegação fiscal pela Justiça americana.

O caso é grave. Segundo a Justiça americana, Castroneves teria sonegado quantias milionárias ao Leão. A irmã e o advogado do piloto teriam participado do caso como cúmplices. Segundo a acusação, Castroneves deixou de declarar boa parte dos estimados US$ 5,5 milhões que recebeu da Penske de 1999 a 2004. Ontem saiu a data do julgamento do piloto brasileiro: 2 de março de 2009. Até lá o piloto estará em liberdade, mas não poderá deixar os EUA.

Se condenado por todos os 7 crimes aos quais é acusado, Hélio Castroneves pode pegar até 35 de prisão.

O piloto brasileiro está, definitivamente, em maus lençóis. Seu futuro como esportista já foi comprometido, afinal, empresa alguma deseja patrocinar e/ou se envolver com pessoas ligadas a escândalos desse porte. Some-se a isso o fato de que Castroneves, inevitavelmente, passará alguns anos afastado de suas atividades profissionais em razão da possível pena que conheceremos em março.

Helinho também sai do caso com sua imagem de ídolo abalada. Um piloto que conquistou sucesso numa categoria como a Indy poderia passar sem essa. Apesar de Hélio se dizer inocente, investigações como essa, que também contou com a participação da Polícia Federal brasileira, têm destino certo e não costumam falhar.

Olhares do Futuro

Sem dormir em serviço, a Ferrari foi flagrada pelo jornal italiano La Gazzetta dello Sport, testando as novas configurações para 2009, temporada em que a F-1 sofrerá mudanças profundas.

Se em 2008 o controle de tração foi abolido, em 2009 outras alterações darão tom de novidade à categoria. Os recursos aerodinâmicos serão limitados e estará autorizada a implantação do KERS (sistema de recuperação de energia cinética, um dispositivo que fornecerá cerca de 80 cavalos de potência extra aos F-1. É acionado pelo pelo piloto). O uso desse novo sistema, no entanto, será facultativo, somente se tornando obrigatório a partir de 2010.

Na foto divulgada pela Gazzetta, o modelo ferrarista, pilotado pelo piloto de testes Luca Badoer em Fiorano, está mais clean, sem os excessivos apêndices aerodinâmicos. Ainda não se trata do carro de 2009, mas sim do F-2008K, uma adaptação do modelo que disputou o campeonato desse ano.

A equipe italiana, no entanto, fez mistério em relação aos testes. Não foram divulgados detalhes a respeito dos tempos de volta e se Badoer realmente andou com o KERS a pleno funcionamento.

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Falando na temporada do ano que vem, o Blog do Capelli divulgou essa semana uma foto-simulação dos bólidos da Ferrari em 2009. A postagem com as imagens está aqui.

A primeira impressão deixa no ar a sensação de que há algo fora do lugar. A parte traseira do carro ficou bem compacta, como algumas imagens divulgadas pela Williams já denunciavam.

Alguns acharam que a figura se assemelha aos carros do início dessa década. Pode até ser, mas carros como o F-2001 possuiam a asa traseira bem mais larga.

Se a 1ª impressão é a que fica, ela não foi boa.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Há o que Comemorar?

No último fim de semana a Ferrari comemorou seu 16º campeonato de construtores. A equipe italiana é, de longe, a mais vitoriosa da F-1, mas sabe que deve esse número expressivo de títulos ao alemão Michael Schumacher. Dos 16 mundiais conquistados pelo cavalinho rampante, 6 deles tiveram Schumacher como ponto de apoio.

A festa da equipe foi realizada na pista particular de Mugello, como acontece tradicionalmente. Mecânicos, pilotos e o alto comando da equipe estiveram presentes, com direito a uma exibição de Kimi Raikkonen e Felipe Massa. No mais, foram brincadeiras do presidente Luca di Montezemolo e as tradicionais fotos de toda a escuderia reunida, como uma grande família italiana.

No meio disto tudo, fica a pergunta: há o que comemorar? Por um lado sim, a Ferrari conquistou o mundial de times, o objetivo maior da equipe desde sempre. Mas a própria equipe, a imprensa e os torcedores sabem que a Ferrari não foi 100% em 2008. Pelo contrário, esteve longe disso. A equipe técnica falhou, a equipe de estrategistas falhou e a dupla de pilotos falhou. Foram erros no atacado, em série, do alto comando até os mecânicos, passando pelas estrelas Raikkonen e Massa. Felipe se redimiu dos erros de Melbourne e Sepang no decorrer da temporada, mas as patacoadas do restante do time puxaram o desempenho do brasileiro para baixo.

No domingo do GP Brasil, dia 2, esse blog ganhou uma postagem que tocava num ponto: por mais que a Ferrari tenha cometido erros inadmissíveis, Massa não perdeu o título por culpa (exclusiva) de seu time. Sem o erro da Malásia (que até onde se sabe foi pessoal e não mecânico), Massa teria vencido o mundial desse ano por 8 pontos de vantagem. É chato tocar nesse ponto mais um vez, mas essa é uma questão que merece uma revisão. Acompanhe:

- Com os 8 pontos que viriam no GP Malásia, Massa terminaria o GP Brasil com 105. Hamilton, que encerrou a corrida em Sepang em 5º, ficaria com o 6º posto. Na tabela de classificação o inglês encerraria com 97, ao invés dos 98 conquistados ao fim do GP Brasil.

Resultado: terminar o ano como vice-campeão dependeu, basicamente, apenas do próprio Felipe Massa. Eu pensava assim até o último fim de semana, quando me ocorreu um outro pensamento: “Hamilton também cometeu seus erros, até mais graves do que os de Massa. Por que foi campeão, afinal?”

É aí que entra a responsabilidade de uma equipe.

A McLaren jamais cometeu erros tão gritantes como os da Ferrari. O erros mais importantes dos quais me lembro foram os de Hockenheim, gp em que a McLaren vacilou ao não chamar Hamilton para o pit stop quando o Safety Car entrou na pista; e Monza, quando a equipe calçou o carro de Hamilton com pneus intermediários numa pista que secava rapidamente, forçando o inglês a fazer nova parada. Fora isso, a McLaren forneceu carro e táticas de corrida impecáveis a Hamilton. O inglês não sofreu um só abandono por falha mecânica em 2008, ao contrário de Massa que quebrou a três voltas do fim em Hugaroring. O inglês não sofreu um probleminha de reabastecimento, enquanto Massa foi vítima de falhas em Montreal e Cingapura. O inglês teve uma equipe que realmente merecia o mundial de construtores pela grande evolução demonstrada durante a temporada, nada a ver com a Ferrari, que começou o ano com um carro expressivamente superior e cedeu ao assédio das rivais.

Com o carro do início do ano, a equipe italiana era franca favorita ao mundial de pilotos e de construtores. Raikkonen e Massa davam a impressão de que 2008 seria um ano de briga doméstica dentro da equipe vermelha, ao estilo Schumacher. A equipe, porém, sofreu com a evolução da McLaren no meio do ano e não construiu uma boa vantagem na tabela. Para completar o inferno vermelho, faltou uma liderança que chamasse a responsabilidade para si. Stefano Domenicali é um chefe de equipe que não inspira a confiança de um Ron Dennis ou de um Jean Todt. Não mesmo.

Resumo da obra: a comemoração em Mugello foi murcha. Não há muito o que comemorar. A derrota no mundial de pilotos foi sentida e foi vergonhosa porque, no conjunto da obra, o F-2008 foi superior ao MP4/23. Era carro para a Ferrari fazer campeão, vice, e vencer o campeonato de times.

Eis a razão do sorriso amarelo de Montezemolo ao lado de Domenicali.

domingo, 9 de novembro de 2008

Palavras, Idéias e Agradecimentos

Quando eu comecei a idealizar esse blog, no início do ano, não tinha planos. Não tinha idéias, nem sabia se ia conseguir dar conta de mantê-lo atualizado com a freqüência que eu queria. Agora que o ano acabou eu posso olhar para trás e dizer: “consegui.”

Não foi fácil. Acho que a maior dificuldade foi acreditar que eu poderia fazer disso aqui um espaço que valesse a pena para o leitor. Por causa dessa dúvida adiei o começo das atividades por aqui. O que era para ter começado desde o início do ano só virou realidade no começo de junho.

Escrever eu sempre quis. Mas a gente sempre arruma um jeito de adiar as coisas por motivos geralmente bobos. Relutei, fui empurrando a idéia desse blog com a barriga. Até a hora em que a vontade de falar se tornou insustentável.

Um dos motivos para os tais adiamentos era o medo de não ter tempo. Sou meio cismado, se é pra começar a fazer alguma coisa que fique direito. Que eu tenha tempo para me dedicar, para fazer bem feito. O medo de que os estudos para o vestibular me impedissem foi, talvez, o maior vilão mental deste blogueiro.

No começo eu procurava um tom. Continuo procurando, na verdade. Mas tenho certeza que hoje isso aqui é um lugarzinho que possui algum atrativo aos leitores. Está longe de ser um blog em alto nível, mas não é todo de se jogar fora. O engraçado é que quando decidi criar essa casa, em maio, não tinha idéia do rumo que isso aqui iria ter. Eu não sabia o que fazer para cativar o leitor. Tudo foi acontecendo por obra do acaso.

A primeira seção apareceu assim, por um grande acaso mesmo. Na quinta-feira anterior ao GP Canadá, o primeiro “coberto” por este blogueiro, eu queria fazer um texto relembrando o ano anterior. Aí nasceu “A Mesma Praça, Outro Jardim”, que se manteve até o fim do ano. Foi assim com todas as outras seções, como a “Memories”, surgida na segunda-feira pós-Hungria, quando me lembrei de um acidente com a Ferrari do Barrichello em 2003 em Hungaroring. A “Coluna do Fábio” foi uma idéia louca do Deivison Conceição, que cismou de me convidar para escrever semanalmente para o EsporteZone. A “Mais do Mesmo” também foi uma filha não planejada: nasceu no pós-Bélgica, ocasião em que batizei um post sobre o debatido episódio Raikkonen-Hamiltom com o título que se tornaria mais uma seção periódica.

De junho pra cá, vivemos uma sensacional temporada de F-1. Aí fico pensando no capricho das coisas. Justamente quando resolvo me aventurar num caminho como o blog, sou presenteado com um campeonato tão bonito. Do período em que comecei a escrever até o fim do mundial, a F-1 conheceu três novos vencedores, e construiu imensas polêmicas. Hamilton e Raikkonen na Bélgica e Hamilton e Massa no Japão fizeram o mundo da velocidade palpitar. E no final de tudo, na última prova do ano, justamente no GP Brasil, se desenrola uma das melhores corridas que já vi. Uma decisão de campeonato ímpar, pra ficar guardada com carinho na memória.

Todas essas questões me obrigaram a tomar partido de algo, a não poder ficar sobre o muro da dúvida. Afinal, um blog nada mais é do que debate de opiniões. E para promover uma discussão decente é preciso, em primeiro lugar, ter uma opinião minimamente embasada. Me forcei a isso e acho que não errei.

No final das contas, restam os números: 292 postagens (contando essa) em 284 dias de funcionamento (desde o dia 1º de junho), o que dá a média de 1,02 postagens por dia. Nesse período foram 502 comentários de leitores, uma média de 1,7 comentários por postagem. Pouco? É mais do que esperava para esses primeiros 6 meses.

E falando em comentários, vem a parte mais prazerosa dessa brincadeira toda. A interatividade, a discussão, o debate e os novos amigos feitos aqui. Aos poucos fui sendo descoberto e me fazendo descobrir por outros blogueiros. Fomos trocando impressões e nos divulgando mutuamente. E assim nasceram as parcerias que me deixam extremamente contente. Gente que faz um trabalho realmente top e que eu admiro muito. Não posso deixar de agradecer aos parceiros que me ajudaram nessa jornada.

Paulo Maeda, do Blog da F-Indy; Ron Groo, do Blog do Groo; Juliano Barata, do Blog do Mulsanne; Felipe Maciel, do Blog F-1; Gustavo Coelho, do Blog F-1 Grand Prix; Felipão, do BlogSport; Thiago Raposo, do Café com F-1; Speeder_76, do Continental Circus; Deivison Conceição, do EsporteZone; Kimi_Cris, do Galáxia-F1; Marcos Antônio, do GP Séries; Bruno Aleixo e Fábio Campos, do Grid GP; Diego Maulana, do No Mundo da Velocidade; Francisco Grijó, do Ipsis Litteris e ao editor do Net Esportes, que confesso não saber o nome. A todos um imenso e sonoro MUITO OBRIGADO pela gentileza que “linkar” esse blog. Obrigado pela consideração e pelos comentários que são o maior incentivo para continuar nessa jornada. Já disse milhões de vezes e repito: ter gente tão boa me visitando é uma honra. Os comentários e as palavras de apoio depositadas aqui estão guardadas com muita reverência.

Enfim, foram erros, acertos, momentos um pouco difíceis, mas este blog resistiu. Resistiu à falta de tempo em algumas semanas um pouco mais atribuladas. Resistiu e se tornou motivo de orgulho para esse blogueiro. Resistiu mas deve entrar num período de recesso nas próximas semanas. O editor desta casa entra agora nas duas semanas decisivas para o Vest-UFES 2009. Os estudos se intensificarão e o De Olho na F-1 deve ficar um pouco de lado (pelo menos eu vou tentar, porque não consigo ficar muito longe disso aqui). Eu não deixarei de passar por aqui, dar uns pitacos sobre o que acontecer de mais interessante nas próximas semanas. Mas o ritmo dever ser reduzido.

Torcida para que 2009 seja ainda melhor do que foi 2008.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Um Caminho Sutilmente Pavimentado

Foi anunciado hoje o já esperado rompimento da Force India com a Ferrari. O vínculo entre as partes iria até o fim do ano que vem e foi rompido “amigavelmente.” A Force India era uma dos times equipados com os motores italianos e o rompimento é sinal inequívoco de que a escuderia indiana irá se coligar à Mercedes-Benz a partir da próxima temporada.

A união Force India-Mercedes é um dos muitos passos que o bilionário Vijay Mallya, dono do time, deu na reestruturação da equipe. O alto comando do time e a equipe técnica também sofreram alterações importantes para a próxima temporada.

A parceria deve incluir o fornecimento, da parte da Mercedes, de motores à escuderia indiana. O detalhe mais importante dessa aproximação, porém, é outro. A Mercedes-Benz é a maior acionista da equipe McLaren e esse “chega mais” entre a Force India e a equipe inglesa pode, rapidamente, evoluir para um rodízio de pilotos entre as duas equipes. Os rumores ganham mais força quando se imagina que a McLaren não estaria satisfeita com o baixo rendimento de Heikki Kovalainen, apesar de ter renovado o contrato do finlandês por mais um ano. A ligação entre as duas equipes poderia resultar na ida de Adrian Sutil para a o time de Woking em 2010, no lugar de Kovalainen.

Porém, nada passa de boataria, por enquanto.

Um Amor Para Exibir

Uma mocinha chamou a atenção do público nos boxes da McLaren em Interlagos no último domingo. Uma morena bonita, sempre ao lado de Nicholas Hamilton, irmão do agora campeão do mundo. A senhorita em questão é a xará do irmão de Lewis Hamilton, Nicole Scherzinger.

Nicole é a namorada do mais novo campeão do mundo. A moça, aliás, fez questão de sofrer todos os percalços emocionais que o posto de aspirante a 1ª dama da F-1 lhe ofereceram. Nicole foi flagrada pelas câmeras rezando, se contorcendo, apertando as mãos de Nicholas e ao final da corrida elevou as mãos ao céu em agradecimento pelo recém-conquistado título do namorado.

Aí o leitor deve estar se perguntando: “e daí?” E daí que Nicole é uma popstar famosa nos EUA. Alguns pasmaram ao saber que tão desconhecida garota fosse famosa em algum lugar do mundo. Mas é. Nicole Scherzinger é vocalista e compositora do grupo de pop/rap Pussycat Dolls.

Não sabe o que é Pussycat Dolls? Então, leitor, está por fora da maior demonstração de talento feminino dos últimos anos. Deve ser o talento, aliás, que deixou o campeão de 2008 caidinho por Nicole:




Que talento, não? (claro que meus leitores prestaram muita atenção no talento da garota. Nem piscaram, eu presumo)

Piadinhas à parte, o fato é que Nicole continuou a fazer o papel de namorada dedicada durante a semana. A Pussycat Doll acompanhou Hamilton na festa da McLaren em Woking, na Inglaterra. O curioso da situação é que os dois são duas figuras públicas, Hamilton é um dos ídolos mais destacáveis da Inglaterra e, justamente no país do tablóides, os dois ainda não foram vítimas de um escândalo, o que seria normal nesses casos. A mídia inglesa é célebre por produzir farto material envolvendo famosos em suas páginas e o casal Hamilton-Nicole seria um prato cheio. Estaria Hamilton tão em alta no coração dos ingleses a ponto de ter sua imagem preservada pelos paparazzi?

Ou, talvez, o motivo do protecionismo seja o talento da moça. Um talento transbordante, eu diria.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Um Caso Clínico

A temporada de F-1 se foi. Um ano divertido, saboroso, uma disputa empolgante até a volta final. Agora, porém, os motores pararam de roncar. Hamilton, o campeão, foi descansar em alguma ilha paradisíaca com sua também paradisíaca Pussucat Doll. Corridas de novo, só no finalzinho de março do ano que vem.

Daqui até lá os domingos serão mais monótonos. As manhãs não mais terão o sibilo dos F-1 rasgando retas e contornando curvas. Pra quem respira o esporte, tudo vai parecer mais chato. Namoradas e mães vão se irritar com a incessante obsessão de cidadãos que passarão a contar cada dia até o esperado 29 de março de 2009.

As linhas acima não carregam nenhuma ponta de exagero. Será assim em muitos lares que abrigam os F-1-maníacos. Daqui até março são quase 5 meses de espera. Durante esse período irá se questionar o motivo de a F-1 não se estender, pelo menos, até dezembro. Quem passa o ano dizendo que “devia ter F-1 toda semana” intensificará os apelos: “F-1 devia ser o ano todo.”

Se você, leitor, apresenta o quadro acima, saiba que você é mais um dos atingidos por uma síndrome grave, que assola milhões de pessoas pelo mundo. A ciência ainda busca uma definição, mas informalmente a patologia é conhecida por Depressão Pós-Temporada de F-1 (DPT). As pessoas que sofrem desse mal costumam entrar em severo processo de isolamento nos períodos compreendidos entre o fim de uma temporada e o começo de outra. É comum flagrar esses pacientes no Youtube, revendo lances da temporada que passou ou até mesmo de outros anos mais distantes. Segundo alguns estudiosos, a compulsão por vídeos de F-1 não é mais do que uma tentativa do inconsciente de reviver momentos de bem-estar proporcionados pelo vício.


Os sintomas da DPT não são muito diferentes dos da depressão comum. Acompanhe:

- Pessimismo: é comum o paciente pensar que sua vida não terá mais alegria enquanto a temporada não recomeçar. Os domingos passam a ser dias de luto.

- Desesperança: cada dia parece uma guerra a ser vencida. E o relógio insiste em não correr, os dias insistem em não passar. Uma profunda desesperança se instala, acompanhada de uma forte irritabilidade;

- Sentimento de pena de si mesmo: é típico. Quando a Globo exibe as chamadas da temporada que vem, a coisa ferve;

- Dificuldade para realizar tarefas cotidianas: é um dos sintomas mais irritantes para quem convive com o depressivo. Muitos conflitos são gerados por causa desse sintoma específico, porque o paciente já pega o calendário de 2009 e começa a marcar os finais de semana em que haverá F-1, portanto, dias de reclusão quase monásticos. Aí, namoradas, família e amigos entoam um coro em uníssono: “você vai deixar de ir ao casamento da Aninha?”; “vai faltar no aniversário do Marcão?” Se houver algum compromisso profissional no mesmo fim de semana da F-1 há o grande risco de o depressivo pós-temporada perder o emprego;

- Perda do desejo sexual: é o único sintoma da depressão clássica que não foi observado em pacientes com DPT.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ano Novo, Novo Tempo

Dia cheio de pequenas novidades para quem está De Olho na F-1. Duas delas chamaram a atenção:

- O Calendário-2009, que já fora divulgado, sofreu novas alterações. Depois das saídas das corridas do Canadá e da França, a Federação Internacional de Automobilismo decidiu remodelar o calendário do ano que vem. O mundial que iria até o dia 15 de novembro terminará no dia 1º do mesmo mês. Com essa decisão, o GP Brasil volta ao mês de outubro, no dia 18.

O GP China, tradicionalmente realizado no último terço do ano, foi transferido para o princípio de 2009. Será a terceira prova da temporada que vem.

Ficou assim, o Calendário-2009:

29/03 - Austrália
05/04 - Malásia
19/04 - China
26/04 - Bahrein
10/05 - Espanha
24/05 - Mônaco
07/06 - Turquia
21/06 - Inglaterra
12/07 - Alemanha
26/07 - Hungria
23/08 - Europa (Valência)
30/08 - Bélgica
13/09 - Itália
27/09 - Cingapura
04/10 - Japão
18/10 - Brasil
01/11 - Abu Dhabi

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A outra mudança que saltou aos olhos foi um pouco mais profunda. A FIA anunciou alterações importantes no que diz respeito às punições aplicadas aos pilotos durante as corridas. Devido ao grande número de sanções polêmicas aplicadas em 2008, a federação passará a adotar novos expedientes, na tentativa de tornar a relação fiscal-público mais amena.

O ritual punitivo que funcionou até hoje era o seguinte: uma comissão de fiscais locais (ou seja, em cada prova havia uma comissão diferente) julgava os casos suspeitos como ultrapassagens indevidas e qualquer outra espécie de fuga às regras da F-1. Essa comissão não era obrigada a justificar a punição. Apenas ficava encarregada de anunciá-la durante a prova.

A partir de 2009 as coisas mudam. Numa tentativa de dar mais lisura ao processo, a FIA passará a se pronunciar sobre as punições em seu site oficial e no site oficial da própria F-1. Nesses pronunciamentos a entidade divulgará vídeos e fotos nos quais os fiscais se embasaram para chegar às conclusões.

Também acontecerão mudanças na estrutura do corpo de fiscais. Do ano que vem em diante, dos três fiscais existentes em cada corrida, apenas um poderá ser local. Os outros dois terão de ser internacionais. Todos eles passarão por períodos de aprendizagem antes de se efetivarem como oficiais de fiscalização de corridas de F-1.

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Depois disso tudo fica a pergunta: ao invés de instituir novas regras, seria mais interessante diminuir o nível de interferência dos fiscais nas corridas, não?

Ó, Novidade...

A Renault anunciou a dupla para 2009. Novidades? Nenhuma! Fernando Alonso e Nelsinho Piquet continuam no time francês.

Poucas vezes o anúncio das vagas de uma equipe foi tão previsível. Alonso até tentou fazer um suspense no meio do ano, mas depois que as vagas na BMW foram fechadas, ficou claro que o espanhol continuaria na Renault. Na certa o bicampeão já esperava o bom fim de ano da equipe e as boas perspectivas para 2009. Alonso andou mais que o carro, ganhou duas corridas e provou por "A" + "B" que é o piloto que faz a diferença atualmente. Terminou o ano em 5º, com 61 pontos.

Nelsinho Piquet esteve mais ameaçado do que Alonso. O brasileiro sofreu em sua temporada de estréia na F-1. Passou as 7 primeiras corridas do ano sem pontuar. Os seguidos abandonos geraram um factóide nos bastidores: Piquetzinho teria um prazo para mostrar serviço ou seria substituído. O boato, porém, não se confirmou e Nelsinho continua na Renault após marcar 19 pontos e ficar em 12º lugar no campeonato de pilotos.

Alonso e Nelsinho serão os proprietários dos carros de números #7 e #8.

Mais do Mesmo: o vilão de Massa estava na outra Toyota

Será mesmo Glock o vilão de Massa em Interlagos?

A seção Mais do Mesmo dessa semana ganha tom investigativo e pergunta: onde diabos se meteu Jarno Trulli, que largou em 2º e desapareceu no decorrer da corrida, quando Massa precisava dele?

Juntando essa informação com os dados do Inforace, ferramenta disponibilizada pelo site Grande Prêmio, chega-se a seguinte conclusão:

Trulli ficou boa parte da corrida preso atrás de um punhado de carros mais lentos. Explica-se: o italiano tentou se defender de Lewis Hamilton na freada do “S” do Senna na volta 12 e perdeu o controle de sua Toyota. Retornou à pista muitas posições atrás da ideal e com carros mais lentos a frente. Longe dos 5 primeiros, Trulli se perdeu em sua estratégia de corrida. Enquanto os pilotos que ocupavam posições intermediárias antes da secagem da pista faziam seus respectivos pit stops e voltavam à pista andando rápido, o italiano perdia tempo. Trulli deu muito azar e finalizou em 8º após ter largado em 2º.

Para entender o motivo de Trulli ser o vilão de Massa em Interlagos, é preciso um bom entendimento de dinâmica de corrida.

A largada foi dada com chuva. Todo mundo de pneus intermediários. Porém, a pista de Interlagos secou rápido e todos precisaram antecipar suas paradas para voltar com pneus lisos. No momento do entra-e-sai dos boxes, Fisichella surgiu em 5º. Trulli era o 6º, Hamilton o 7º. O inglês tentou ultrapassar Trulli no “S”. Ao tentar se defender, o italiano da Toyota deu uma espalhada e perdeu muitas posições. Limitado por vários carros que agora estavam a sua frente, Trulli perdeu tempo e contato com os carros da ponta, que continuavam a andar rápido.

Trulli caiu para a 9ª posição, atrás de Bourdais. Na volta 20 Jarno avançou para 8º, graças a parada do francês. A partir daí, Trulli ficou limitado por Giancarlo Fisichella, da Force India, perdendo de vez qualquer chance de boa posição na corrida.

Enquanto Trulli dava voltas lentas atrás de Fisichella, pilotos como Vettel voltavam dos boxes a frente do italiano, com pista livre e andando rápido.

Portanto, deixem o pobre do Glock em paz. Trulli foi o grande "vilão" (muitas aspas no "vilão") de Massa em Interlagos. Se (odeio lidar com o tal do “se” porque ele não é factual, mas, se não há remédio) o italiano da Toyota não tivesse errado em sua tentativa de defesa de posição, certamente haveria mais um carro entre Massa e Hamilton ao final da prova. No momento em que fosse superado por Vettel, Lewis estaria em dificílima situação, pois cairia não para 6º, mas para 7º (imaginando sempre que Trulli estivesse no pelotão da frente, Hamilton passaria a maior parte da corrida em 5º, não em 4º como aconteceu de fato. Nesse cenário, quando a chuva do final da corrida se confirmasse, as perdas de posições para Glock e Vettel, levariam Lewis ao 7º posto). Ainda que recuperasse a posição perdida para Glock, Hamilton não seria campeão. Como Trulli estaria, em teoria, um pouco mais a frente do que Glock esteve, eram grandes as chances de o italiano cruzar a linha de chegada antes de ser alcançado por Hamilton, mesmo com os pneus de pista seca.

Mas...

Se Trulli continuasse entre os 5 primeiros, tinha grande chance de vencer a corrida. Imaginem o seguinte: o italiano em 3º ou 4º continuaria na pista na hora da chuva. Pularia na ponta e iria se arrastar na pista molhada com o pneu de seco. Massa ficaria em 2º, posição que lhe tiraria o título, e avançaria rapidamente para alcançar o italiano. Será que o brasileiro dava conta de alcançar Trulli antes do fim da prova?

Não acredito em destino e em nenhum tipo de determinismo, mas no caso específico desse GP Brasil eu sou obrigado a dar o braço a torcer: tinha que ser um final emocionante de qualquer jeito.

A F-1 estaria de volta à massa?

Já é quarta, me atrasei um pouco. Mas está valendo...

Conversando com o professor Grijó no último sábado, cheguei à conclusão de que, definitivamente, a F-1 está em baixa no Brasil.

Pouco mais de 24 horas depois, eis que me contradigo. Graças ao GP Brasil e seu final arrepiante, o assunto volta à tona com força total. Será que as coisas continuam assim por muito tempo?

Tema da última Coluna do Fábio de 2008, no EsporteZone.

Comentários são bem-vindos!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Brasil em Vídeos

Dois vídeos interessantes sobre o GP Brasil:

- Um deles é a despedida das tirinhas animadas Los Quemagomas, produzidas pela Animatomic e exibidas pela tv espanhola TeleCinco antes da corridas. A tirinha final de 2008 revela a ignorância que a estrangeirada ainda possui quando o assunto é o Brasil. A estátua do Cristo Redentor foi retratada na paisagem de São Paulo. Ou seja, para o pessoal lá de fora, tanto faz se é Rio ou São Paulo, o importante é que aqui todos vivemos um eterno carnaval de mulheres peladas e com uma cesta de frutas na cabeça (o podre da história é pensar que, analisando a situação com profundidade, o estereótipo do Brasil lá fora não está tão errado).

Mas, a tirinha é hilária. A parte em que o Montezemolo prega uma imagem do Cristo no carro do Massa é impagável. Segue o vídeo:



- O outro vídeo é o das voltas finais do GP Brasil. Não se engane, é teste para cardíacos. Mesmo já sabendo o desfecho, eu confesso que fiquei nervoso ao ver o vídeo novamente. Minha pernas não pararam de tremer até agora. Segue o vídeo:

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Brasil - Memories

Coulthard triunfa sob chuva em Interlagos

Edição 2001 da prova brasileira, Interlagos.



Ontem a corrida de Coulthard terminou na 1ª volta. Foi sua despedida das pistas de F-1. Uma despedida um tanto quanto sem graça, logo no “S” do Senna. Mas o escocês já teve dias mais gloriosos em Interlagos.

Em 2001 Coulthard faturou o GP Brasil. Deu muita sorte, viu seus adversários mais fortes serem eliminados por erros, tanto pessoais como causados por terceiros. E venceu.

O GP Brasil daquele ano, como de costume, foi movimentado. Antes da largada já havia preocupação: Rubens Barrichello tem problemas com sua Ferrari na volta de alinhamento. Barrichello abandona o carro na pista e se dirige aos boxes correndo. Consegue pegar o carro reserva e sai dos boxes da Ferrari próximo do limite de tempo para que o pit lane fosse fechado.

Na hora da largada, um susto: o bicampeão Mika Hakkinen levanta os braços freneticamente, sinalizando problemas em sua McLaren. A largada, no entando, não é abortada e o finlandês fica exposto ao choque dos carros que partem do grid. Felizmente nada acontece e o Safety Car é acionado para que a McLaren de Mika seja retirado da pista.

Na relargada Juan Pablo Montoya faz sua ultrapassagem mais famosa. Retarda a freada no “S” do Senna e dá uma “chega pra lá” em Schumacher, pulando na ponta do GP Brasil.

A essa altura Coulthard, que largara em 5º, já era 3º.

Na freada seguinte Rubens Barrichello encerra sua corrida mais cedo. Sua e de Ralf Schumacher. O alemão tentava uma ultrapassagem e fazia zigue-zague na Reta Oposta. Na freada da Curva do Lago, o brasileiro acerta a traseira da Williams de Ralf em cheio. Fim de corrida para os dois.

Na briga da frente Schumacher é o 1º a ir aos boxes, deixando clara a estratégia de duas paradas. Montoya e Coulthard estão com combustível para uma parada só e torcem para que a chuva caia logo, para que eles possam trocar os pneus com segurança.

Na 39ª volta, porém, um fato pra lá de inusitado acontece. O retardatário Jos Verstappen, da Arrows, acerta a Williams de Montoya em cheio, inexplicavelmente. Fim de corrida para o colombiano, menos um no caminho de Coulthard.

Na volta 41 Coulthard realiza sua parada para reabastecimento e troca de pneus. A chuva ameaçava, mas não caía. O piloto da McLaren calça os pneus lisos e volta à pista ainda em 1º.

No 45º giro a chuva começa. Schumacher logo vem aos boxes e se equipa com pneus intermediários. Coulthard estranhamente permance na pista e perde muito tempo. Só entra nos boxes na volta seguinte e retorna em 2º. A estrela de Schumacher parecia ter brilhado novamente.

Mas, muita coisa estava para aconteceu até o fim da corrida. Debaixo da chuva paulistana, Coulthard se aproxima perigosamente de Schumacher na Reta do Boxes. A posição seria negociada na freada do “S” do Senna, mas um retardatário influencia a manobra de forma decisiva, num lance parecidíssimo com a ultrapassagem de Hakkinen sobre Schumacher em Spa no ano 2000.

Pra completar, Schumacher ainda roda na Curva do Lago e sai da pista no Laranjinha cedendo grande vantagem a Coulthard.

Coulthard vencia o GP Brasil de 2001, com Schumacher em 2º e o jovem e promissor Nick Heidfeld em 3º com a Sauber, depois de uma ultrapassagem sobre Jarno Trulli. O alemão Frentzen abandonava a corrida nas voltas finais para desepero de Eddie Jordan e para a felicidade de Peter Sauber.

Bye, Bye, Schumacher!

A temporada que acabou de acabar enterra de vez a figura de Schumacher. Antes ainda muito presente na rotina da F-1, mesmo que virtualmente, agora o alemão começa a ser “esquecido.”

De ontem pra hoje e Fórmula-1 provou que pode voltar a ser emplogante. Aliás, a corrida de ontem foi a mais emocionante da história. Hamilton, Massa, Vettel e Glock já entraram, inevitavelmente para os anais da F-1. E tudo apenas dois anos depois da aposentadoria do maior piloto da história.

Os “Anos-Schumacher” foram a representação da maior supremacia de um piloto e de uma equipe na F-1. Junto com a Ferrari, Schumi fez da F-1 um joguinho previsível, rotina quebrada em raras ocasiões. O esporte perdeu público durante o reinado do alemão e da equipe italiana. Nada acontecia de diferente enquanto Schumacher estava na pista.

Agora, apenas dois anos após a saída do heptacampeão, a F-1 teve dois campeonatos decididos por um ponto. O equilíbrio voltou, as viradas, as incertezas, tudo o que faz o automobilismo ser delicioso e que dificilmente acontecia com Schumacher na pista. Não mais tivemos campeonatos decididos com 6 corridas de antecipação, como em 2002. Tivemos um mundial somente terminado na penúltima curva, da última volta, da última corrida.

Alonso, Raikkonen, Hamilton, Massa e CIA trataram de enterrar, definitivamente, Michael Schumacher.

Os Números Falam

Terminado o campeonato, vamos ouvir o que a tabela e os números nela contidos nos dizem:

- O que mais chama a atenção ao primeiro olhar é o 3º lugar de Raikkonen. O finlandês, tão criticado (com razão) pelo apagão de 2008 só perdeu para os dois que disputaram o título. Mesmo depois de ser ultrapassado por Kubica e dado como morto, Kimi ressucitou com o 3º lugar no GP Brasil. O destempero da BMW nesse fim de temporada ajudou muito;

- O título desse ano, assim como o do ano passado, foi decidido por um ponto. E reitero o que já disse aqui em algum momento dessa louca temporada, agora com certeza total: 2008 tem muito mais motivos para ser lembrado no futuro do que 2007;

- O 5º colocado no mundial é Fernando Alonso. Pouco para um bicampeão? Sim. Porém, muito para quem guia um carro como a Renault. Alonso conquistou duas vitórias, mais do que Heikki Kovalainen, da McLaren, e a mesma quantidade de êxitos de Raikkonen, da Ferrari. Grande é o resultado do espanhol;

- Kubica termina o ano em 4º, empatado com Raikkonen nos pontos. Um grande resultado para um carro como a BMW, nem sombra da força de uma Ferrari;

- Kovalainen é uma vergonha pública. Enquanto Hamilton sagrou-se campeão, o finlandês termina o mundial numa péssima 7ª posição. É diferença demais para dois pilotos com o mesmo equipamento;

- Exultante é o resultado de Sebastian Vettel. 8º colocado no mundial, 35 pontos e uma vitória no currículo. E não é qualquer vitória, é Monza e sob chuva. A maior promessa para o futuro a meu modo de ver;

- Terrível é comparar o desempenho do Tião alemão com o do Tião francês, o Bourdais. O outro piloto de Gerhard Berger se despede de 2008 com apenas 4 pontos conquistados. Uma pena porque Bourdais não é mau piloto, foi muitas vezes campeão na extinta Champ Car, por exemplo. O francês deu um certo azar, até por ter encontrado um companheiro de equipe tão barra pesada. Corre o sério risco de ser substituído em 2008;

- Nelsinho Piquet é o Kovalainen da Renault. Enquanto o companheiro apresentou um desempenho arrasador, o brasileiro ficou devendo. Piquetzinho já admitiu que seu ano de estréia não foi dos melhores. Resta esperar que as coisas melhorem em 2009, quando ele já estará ambientado ao ambiente da F-1. Se vier outro mau resultado, não haverá mais desculpa;

-Rubens Barrichello engoliu Jenson Button na Honda: 11 X 3. Mesmo assim não tem contrato para 2009, é mole?;

- David Coulthard mostrou que estava mesmo na hora de ir embora. Termina o ano em 16º, com magros 8 pontos;

- No campeonato de equipes, prevaleceu quem tinha o melhor carro do início da temporada: a Ferrari. O conjunto vermelho sofreu com uma certa decadência no meio do ano, passou 3 corridas sem vencer nada, mas recuperou performance. Os seguidos maus resultados de Kovalainen, no entanto, foram decisivos para que a McLaren não avançasse muito;

- A BMW foi mesmo o destaque entre as equipes, mesmo com a queda no fim do ano. Liderar um mundial de equipes foi o sinal da evolução desse time. Só que várias equipes também cresceram no decorrer do ano e a BMW perdeu um pouco do brilho. Se quiser estar acima em 2009, terá de trabalhar arduamente;

- Como já havia ficado claro desde o meio do ano, a STR imprimiu uma lavada constrangedora à RBR. 39 X 29. Os 10 pontos da incrível vitória de Vettel em Monza construíram essa diferença. Será que a “promoção” é um bom negócio para o jovem alemãozinho?;

- Na briga das japonesas, sonora vantagem para a Toyota: 56 X 14. A Honda é a última colocada entre as equipes que pontuaram. Terminou o ano com um carro em chamas. Era só o que faltava.

domingo, 2 de novembro de 2008

Tabela 2008 - Final

GP Brasil, após 71 voltas:

01
Felipe Massa
Ferrari
01h34m11s435

02
Fernando Alonso
Renault
+00m13s298

03
Kimi Raikkonen
Ferrari
+00m16s235

04
Sebastian Vettel
Toro Rosso
+00m38s011

05
Lewis Hamilton
Mclaren-Mercedes
+00m38s907

06
Timo Glock
Toyota
+00m44s368

07
Heikki Kovalainen
Mclaren-Mercedes
+00m55s074

08
Jarno Trulli
Toyota
+01m08s463

09
Mark Webber
Red Bull
+01m19s666

10
Nick Heidfeld
Bmw Sauber
+1 volta

11
Robert Kubica
Bmw Sauber
+1 volta

12
Nico Rosberg
Williams
+1 volta

13
Jenson Button
Honda
+1 volta

14
Sebastien Bourdais
Toro Rosso
+1 volta

15
Rubens Barrichello
Honda
+1 volta

16
Adrian Sutil
Force India
+2 voltas

17
Kazuki Nakajima
Williams
+2 voltas

18
Giancarlo Fisichella
Force India
+2 voltas

19
Nelsinho Piquet
Renault
+71 voltas

20
David Coulthard
Red Bull
+71 voltas

Classificação Geral de Pilotos, após 18 etapas:


01 - Lewis Hamilton (McLaren) - 98 (CAMPEÃO)
02 - Felipe Massa (Ferrari) - 97
03 - Kimi Raikkonen (Ferrari) - 75
04 - Robert Kubica (BMW) - 75
05 - Fernando Alonso (Renault) - 61
06 - Nick Heidfeld (BMW) - 60
07 - Heikki Kovalainen (McLaren) - 53
08 - Sebastian Vettel (STR) - 35
09 - Jarno Trulli (Toyota) - 31
10 - Timo Glock (Toyota) - 25
11 - Mark Webber (RBR) - 21
12 - Nelsinho Piquet (Renault) - 19
13 - Nico Rosberg (Williams) - 17
14 - Rubens Barrichello (Honda) - 11
15 - Kazuki Nakajima (Williams) - 9
16 - David Coulthard (RBR) - 8
17 - Sebastien Bourdais (STR) - 4
18 - Jenson Button (Honda) - 3
19 - Giancarlo Fisichella (Force India) - 0
20 - Takuma Sato (Super Aguri) - 0
21 - Anthony Davidson (Super Aguri) - 0
22 - Adrian Sutil (Force India) - 0

Classificação Geral de Equipes, após 18 etapas:


01 - Ferrari - 172 (CAMPEÃ)
02 - Mclaren-Mercedes - 151
03 - Bmw Sauber - 135
04 - Renault - 80
05 - Toyota - 56
06 - Toro Rosso - 39
07 - Red Bull - 29
08 - Williams - 26
09 - Honda - 14
10 - Force India - 0
11 - Super Aguri - 0

Brasil - Especial: Em Primeira Pessoa

Incrível, estupendo, emocionante, histórico. Sobrarão adjetivos para classificar o mundial desse ano. Faltarão para classificar a corrida de hoje em Interlagos.

Quando eu imaginei, semana passada, que a última corrida do ano seria de tirar o fôlego, não esperava algo como hoje. Foi especial, sem a menor sombra de dúvidas, a melhor decisão de título que já vi. Uma das corridas que não serão esquecidas nunca.

Acordei hoje e a primeira coisa que pensei foi: “É hoje!” A F-1 ditou meus passos e pensamentos, não só hoje, como durante toda a última semana. E quando a hora da corrida chegou, foi um bate-coração terrível.

Depois da largada rola aquele instante de relaxamento. Correu tudo bem, Felipe levava a Ferrari tranqüilo na ponta, Hamilton era o 4º. O inglês ainda era campeão, mas a torcida por uma quebra ou por um erro de Lewis persistia. Afinal, “ainda restavam mais de 60 voltas para o final”, afinal, “corrida não se decide na 1ª volta.”

Mas a corrida prosseguiu, nada de Hamilton errar e o título parecia decidido.

Parecia.

Foi quando a chuva caiu, Glock surgiu em 4º e Vettel ultrapassou Hamilton. Me levantei do sofá, tremendo, com o coração na boca. Soltaria o grito de campeão que jamais soltei para um piloto brasileiro, veria a Ferrari mais uma vez campeã de pilotos e construtores.

Quando Felipe abriu a última volta, havia nada menos do que histeria aqui em casa e na vizinhança. Eu de pé, minha mãe idem, os dois abraçados e tremendo de nervosismo.

Dava pra ouvir o burburinho nas casas vizinhas. O morador de uma das casas aqui ao lado berrava. Eu o acompanhava como quem dialoga num tom de voz ensurdecedor: “vai Vettel! Vai Vettel!”

“Me larga que eu vou gritar” – adverti minha mãe.

Felipe cruza a linha em primeiro, seguro o grito porque ainda falta confirmar a posição de Hamilton.

O coração ameaça parar, sinto uma dorzinha fina no peito. Finalmente, chegou a hora.

Aí a imagem é cortada para a Junção. Glock, o teimoso do pneu de seco, perde velocidade de forma incrível. Hamilton o ultrapassa e é 5º. Campeão.

"Como assim?"

É, assim.

Fico feliz pelo título de Hamilton. Apesar de não ser o meu favorito, tem todos os méritos pelo belo campeonato que fez.

Fico feliz pelo 16º mundial de construtores da Ferrari, equipe do coração.

Mas é difícil esconder a frustração. O que era histeria torna-se um silencio duro e seco. Não só dentro de casa, mas entre os antes agitados vizinhos.

Era para ser e não foi. Já estava na mão e escapou. Uma broxada terrível depois de uma ejaculação precoce.

O final de campeonato mais emocionante da minha vida, daqueles que eu vou contar para os netos.

O ano de 2008 fechado com chave de ouro. Um temporada divertida desde a etapa inicial na Austrália até a penúltima curva do Brasil.

Ron Groo decretou e faço minhas suas palavras.

"Já estou com saudades."

Brasil - Results & Coments [7]

Enfim, campeão

O dono da festa em 2008 é Lewis Hamilton. O talento do piloto inglês lhe garantiu, finalmente o título mundial.

Vamos àquilo que chama mais atenção, os fatores que fazem esse título de Hamilton algo especial:

- É o mais jovem campeão da história da F-1, aos 23 anos;

- É o 1º negro a ser campeão de mundial de F-1;

- Hamilton acabou com um jejum de títulos de 12 anos da Grã-Bretanha na F-1. O último súdito da rainha Elizabeth a vencer um mundial foi Damon Hill, em 1996, com a também britânica Williams;

- A vitória do moleque inglês também tira a McLaren de uma seca de 9 anos sem um título de pilotos. Desde Mika Hakkinen em 1999 a equipe não faz um piloto campeão;

- Apesar de tudo, persiste o período sabático da McLaren no campeonato de construtores. São 10 anos sem ganhar o mundial de times.

Hamilton leva o título merecido em 2008. O ano esteve longe de ser tranqüilo para o inglês, que cometeu erros sérios, como em 2007. Porém, mesmo com os atropelos dos boxes em Montreal ou com a largada suicida em Fuji, Hamilton finalmente solta o grito de campeão.

Foi um título suado, conquistado nos últimos metros de uma temporada que foi divertida desde o início. Hamilton fez o necessário hoje em Interlagos. Foi tão conservador que chegou a ter o título ameaçado. A chuva um pouco mais forte na última volta foi fator de sorte na vida desse inglês, que chegou em 5º, posição mínima para seu êxito na tabela desse ano.

A aposta de Ron Dennis, que apadrinhou Hamilton desde que o menino tinha 13 anos, se vê coroada.

Depois de ser o melhor estreante da história da F-1, Hamilton confirma seu nome na história. Junta-se a outros campeões como Giuseppe Farina (1950), Mike Hawthorn (1958), Phil Hill (1961), John Surtees (1964), Danny Hulme (1967), Jochen Rindt (1970), Mário Andertti (1978), Jody Scheckter (1979), Alan Jones (1980), Keke Rosberg (1982), Nigel Mansell (1992), Damon Hill (1996), Jacques Villeneuve (1997) e Kimi Raikkonen (2007).

Um título merecido de um piloto que esteve a frente da tabela de classificação durante a maior parte do ano.

Brasil - Results & Coments [6]

Sobre a perda de um título


A imagem de Felipe Massa retornando de sua Volta da “Vitória” foi conclusiva. O golpe de hoje em Interlagos foi forte.

Depois de batalhar uma corrida inteira e de liderá-la praticamente de ponta-a-ponta, Massa venceu seu gp doméstico. Foi campeão por instantes. Mas a chegada do 5º colocado era o fiel da balança. E ela não pendeu para o lado de Felipe.

O brasileiro venceu em Interlagos pela 2ª vez em sua carreira. Foi o piloto que mais venceu em 2008, totalizando 6 triunfos em 18 corridas, ou seja, 1/3 das provas. Felipe demonstrou maturidade em seu 3º ano de Ferrari, suplantou Kimi Raikkonen e chegou até a última corrida com chances de título. Deveria estar contente. Não está.

Não está porque perdeu o mundial. Perdeu o mundial quando já era anunciado como campeão, diante de sua torcida. Perdeu o mundial quando sua equipe já comemorava o título de pilotos e o de construtores. Perdeu de forma particularmente cruel, com a bandeirada já dada. Situação inédita na história da F-1.

Nos próximos dias, haverá choro e ranger de dentes em terras brasileiras. A Ferrari será acusada de ser a culpada pela derrota de Massa, especialmente pela mangueirada em Cingapura. As vozes iradas da torcida e da impensa irão eleger o time italiano como o vilão do ano.

Um papo meio louco. A Ferrari tem sim, sua culpa na perda do campeonato de Felipe, mas não foi em Cingapura que Massa perdeu o título.

Quando acontece um acidente aéreo é comum ouvirmos especialistas dizerem que “um erro só não derruba um avião.” O conceito se aplica com fidelidade a um campeonato de automóveis. Não foi só o erro no Marina Bay Circuit o responsável pela derrocada da Ferrari no mundial de pilotos. Uma seqüência de erros tirou o título das mãos de Felipe.

E alguns deles são, erradamente, creditados à Ferrari. O de Cingapura, inclusive.

O leitor vai me achar louco, mas defendo minha tese com unhas e dentes. Massa dificilmente venceria esse GP Cingapura. A corrida seria inevitavelmente dominada pelos pilotos que já haviam parado nos boxes quando o Safety Car entrou na pista. Ok, sem a mangueirada Massa tinha chances remotas de pódio. Mas dificilmente venceria. É preciso que se perceba uma coisa: ainda que “o cara do botão verde” tenha feito a burrada mais perceptível, a corrida de Felipe já estava comprometida por causa da mangueira de combustível emperrada no bocal de sua Ferrari. Imaginem que Felipe não fosse autorizado a sair e que a equipe esperasse a retirada da mangueira de combustível para liberar sua saída. O brasileiro perderia 15 ou 20 segundos, como perdeu depois que os mecânicos o alcançaram no fim do pit lane. Isso bastaria para comprometer sua corrida inteiramente.

“Mas a mangueira de combustível é da Ferrari, logo a equipe é responsável pela peça defeituosa” – dirão os mais apressados.

Sinto informar, mas as mangueiras de combustível usadas no reabastecimento são provenientes de um mesmo fabricante, ou seja, iguais para todo mundo. O que aconteceu com Massa poderia acontecer com qualquer um dos outros pilotos. É o imponderável, afinal.

Problemas da equipe foram muitos, quase incontáveis. A quebra em Hungaroring, a errada escolha de pneus em Silverstone e mais muitos outros. Esses serão lembrados amanhã na edição do Globo Esporte. Mas apontar terceiros pela infelicidade própria é um comportamento de quem não segura a própria onda.

Além do mais, qual o problema em aceitar que Hamilton foi superior o ano todo? A Ferrari tem sim sua cota de culpa na derrota de Massa. Mas não é possível negar que o piloto inglês liderou quase a totalidade do campeonato. O normal hoje em Interlagos era o título de Hamilton, afinal ele chegou a São Paulo 7 pontos a frente. Hamilton foi campeão de forma merecida, como Felipe também seria.

A Ferrari passará sua vergonha porque, apesar de ser campeã do mundial de construtores, tinha o melhor carro da primeira metade do ano, indiscutivelmente. Na primeira parte de 2008 os vermelhos pareciam voar rumo ao título em céu de brigadeiro. Com a superioridade do início do ano, Massa e Raikkonen deveriam ter conseguido uma vantagem segura para esse final de temporada. Não conseguiram, em grande parte, graças aos erros da equipe. Portanto, eu não estou aqui defendendo e/ou tentando amenizar a responsabilidade da equipe. Os erros foram graves, incompatíveis a uma equipe do porte da Ferrari.

Mas eu insisto. Cada um é responsável pelo próprio destino e colocar a culpa de uma derrota “nos outros” é muito fácil. Difícil é assumir que se os 8 pontos da Malásia (quando Felipe rodou sozinho e abandonou quando era o 2º colocado), por exemplo, estivessem na conta de Massa, ele seria, a essa hora, campeão com 8 pontos de folga. Disso, meus amigos, Rede Globo nenhuma vai se lembrar.

Porém, a chegada de Massa aos boxes hoje, após a corrida foi tocante. Felipe é frio, lida bem com a pressão, já deixou isso provado em diversas ocasiões. Mas hoje, o vice-campeão do mundo acusou o golpe. A vitória em Interlagos foi uma das mais melancólicas de toda a F-1.

Foi a maior batida na trave da história.

Brasil - Results & Coments [5]

Superprodução épica!

Demorei para começar a escrever esse post. Ainda me recomponho das inacreditáveis emoções de Interlagos hoje. Eu não vou ser o único a dizer, mas não há como fugir de certos jargões: A Fórmula-1 viveu uma das maiores (não veja exagero se alguém disser que foi A MAIOR) decisões de sua história. Palavras jamais conseguirão descrever com exatidão o que se passou no autódromo José Carlos Pace.

A história dessa decisão pode ser dividida em três atos bem definidos, como num teatro: os minutos que antecederam a largada, a corrida até a volta 65 e as 7 voltas finais. Não se engane. A peça de hoje é uma superprodução que Hollywood não conseguiu e não conseguirá reproduzir jamais.

O 1ª Ato:

Faltando 5 minutos antes do virtual início do 37º Grande Prêmio do Brasil de Fórmula-1 a chuva caiu sobre Interlagos. Esparsa, fraca para gerar um spray denso, forte o suficiente para obrigar todo mundo a calçar pneus intermediários. E com um detalhe: a chuva só caiu na reta dos boxes e alguns pontos isolados da pista como o Laranjinha. A largada foi adiada para as 3 e 10 da tarde. Pontualmente nesse horário os pilotos partiram para a volta de apresentação e aquecimento de pneus. Estava para começar o GP Brasil, com suas 71 voltas, 7 delas com inimagináveis reviravoltas. O mundo não podia imaginar o que estava para acontecer.

O 2ª Ato:

No momento da partida, as posições dos líderes não sofrem grandes alterações. Com poucas voltas a pista seca e todos são obrigados a antecipar suas paradas para voltar a usar os pneus lisos. No entra-e-sai dos boxes, Hamilton cai para 6º e, por alguns instantes, vê o título escorregar pelas mãos. O inglês, porém, logo despacha Giancarlo Fisichella, numa surpreendente 5ª posição com a Force India, e volta a ser campeão.

Daí em diante, pouca coisa muda. A corrida se torna morna, com poucas trocas de lugares entre os ponteiros. O grande destaque da prova era Sebastian Vettel, que se tornaria uma dos principais nomes do final da corrida.

Felipe Massa continuava líder, levando o F-2008 à frente com folga. Hamilton se mantinha em 4º durante a maior parte da prova. A posição era mais do que suficiente para lhe garantir o título.

Passados os pit stops e com a corrida se aproximando do fim, tudo levava a crer que Massa, fazendo o papel que lhe cabia com louvor, venceria a corrida e Hamilton, idem, levaria o campeonato com tranqüilidade. Restando 15 voltas para o fim as equipes começavam a alertar seus pilotos: “chuva em 10 minutos.” E eis que a água veio.

Água que foi anunciada para o início da corrida, mas que teimou em vir no final.

O 3º Ato:

Como toda boa peça teatral, o melhor do decisivo GP Brasil ficou reservado para o final. Do momento em que Galvão Bueno anunciou o “olha a chuva aí” em diante, a F-1 pode dizer que viveu o ápice de sua emoção. Jamais houve uma decisão de título tão emocionante como a de horas atrás.

A água veio, sem muita força, de novo. De imediato, Heidfeld e Barrichello trocaram os pneus de pista seca pelos intermediários. Na volta seguinte é a vez de Raikkonen, Alonso e Hamilton. Na outra volta, Felipe Massa faz sua parada.

Tensão evidente em Interlagos. Torcida petrificada. O mundo assistia as voltas finais do derradeiro gp de 2008 em suspense.

Para a surpresa geral, Timo Glock surgia em 4º. O alemão da Toyota arriscou e continuou na pista com pneu de pista seca. Como o asfalto de Interlagos não estava encharcado, Glock se mantinha na pista. Mas não era esse o principal acontecimento das voltas finais.

Na penúltima volta do 59º Campeonato Mundial de Pilotos de Fórmula-1, outro alemão faz o que até então parecia impossível. Sebastian Vettel ultrapassa Lewis Hamilton. O inglês cai para a 6ª posição. Com esse resultado, Felipe Massa estaria quebrando um jejum de 17 anos sem um título brasileiro na F-1.

Tudo isso dentro de São Paulo, diante de sua apaixonada torcida.

Massa abria a última volta do GP Brasil na liderança. As arquibancadas de Interlagos exalavam nervosismo. Nada estava decidido, Hamilton apertava Vettel ferozmente. Bastava ultrapassar alguém para voltar a ser campeão.

O mundo se dividia entre Massa e Hamilton, entre aquela que é a maior rivalidade da história do automobilismo: Ferrari versus McLaren.

O panorama não muda, Massa leva o F-2008 até o fim e cruza a linha de chegada em 1º. Vence o GP Brasil. É o virtual campeão do mundo.

Mas, como bem cravou Juan Manuel Fangio, um dos gênios desse esporte, “carreras son carreras.” É outro clichê, mas não há como fugir deles. Em bom português, a frase de Fangio quer dizer algo muito simples e redundante: “só acaba quando termina.”

Com o 1º colocado já decidido, e com Hamilton em 6º, o mundial estava terminado. Massa protagonizara mais uma virada da Ferrari sobre Hamilton e sua McLaren. Um título épico, dentro do Brasil, diante de sua torcida, garantido a duas voltas do final com a ajuda preciosa do garoto Vettel. Mas, só acaba quando termina.

E não havia terminado para Hamilton. A chuva aperta na volta final, e o alemão Glock, que não quis parar para equipar-se com pneus intermediários, perde rendimento. Na Junção, penúltima curva do traçado de Interlagos, Timo é ultrapassado por Vettel e por Hamilton. O inglês volta a ser 5º. Volta a ser campeão, a 500 metros do fim da temporada.

Um feito épico.

A torcida que comemorava a vitória de Massa fica perplexa. O inacreditável acontece. Quando tudo parecia estar acabado, uma reviravolta sensacional se materializa.

É uma metáfora desse incrível campeonato. Diversão da primeira corrida até a última volta.

Com o 3º ato consumado, fecham-se a cortinas. Aplausos para Lewis Hamilton.

sábado, 1 de novembro de 2008

Brasil - Especial: Água Fervente

O Autódromo José Carlos Pace não ficou conhecido pelo nome de Interlagos por acaso. O circuito antigo, esmigalhado pela imposição de um novo padrão de pistas desejado pela FIA, abraçava o lago existente no terreno da pista. Hoje em dia os carros não mais contornam as águas desse lago, que dá nome a uma das curvas do circuito. A água do lago, no entanto, deveria voltar a se envolver com a corrida de F-1 em São Paulo com uma finalidade clara: refrescar a torcida brasileira na pista paulistana.

Todos os anos Interlagos recebe um bom público para a corrida da categoria máxima do automobilismo mundial. Desde a ida de Rubens Barrichello para a Ferrari, em 2000, há um brasileiro com chances razoáveis de conseguir bons resultados na prova. Rubinho jamais conseguiu a esperada vitória, mas esteve bem perto em 2003, quando foi pole e abandonou quando era líder, graças a uma incrível pane seca (falta de gasolina no motor, para os não iniciados). Em 2004, Barrichello também deixou o torcedor esperançoso depois de marcar novamente a pole em Interlagos. No domingo, porém, a torcida viu a vitória escorrer novamente pelas mãos de Rubinho.

De 2006 pra cá, Massa substituiu Barrichello na Ferrari e em seu primeiro ano na escuderia de Maranello fez a pole e venceu a corrida em casa. Interlagos voltou a ferver naquela ocasião, uma das corridas mais interessantes dessa década. Massa foi pole novamente em 2007 e repetiu a dose agora em 2008. Em todas essas ocasiões (as poles de Barrichello e Massa e a vitória de Felipe em 2006) um traço da torcida brasileira ficou bem claro: a participação, o incentivo e a interação entre o público e o que acontece na pista é algo impossível de ser ignorado.

É assim desde sempre. A vitória de Senna no Brasil em 1993 rendeu imagens que são emblemáticas no quesito “torcida apaixonada.” A cena de Interlagos invadida, de Senna nos braços do povo, deixam claro o quanto o brasileiro se liga ao esporte, mesmo que isso seja fruto, em grande parte, das circunstâncias da época. Nos anos 80 e no início dos 90 a seleção brasileira de futebol, signo maior ao qual a massa, historicamente, sempre prestou reverência, estava amargando um severo jejum de títulos. A economia ia mal, a vida política do país estava em convulsão e Senna era o sujeito que vingava a decadência geral do brasileiro médio. Era o cara que “dava certo”, o Messias-Salvador em quem estavam depositadas todas as esperanças de reverter as frustrações de uma nação inteira.



Se o frisson da torcida é uma manifestação correta ou equivocada eu não sei. Quem sou eu, aliás, para julgar um mito da magnitude de Ayrton Senna. Sim, foi uma imagem construída com a ajuda de uma gigante da mídia, não há dúvidas quanto a isso. Mas, parafraseando o próprio Ayrton, em uma de suas melhores frases, “não há marketing que sustente um blefe.” Senna foi sim um piloto diferenciado. Vitórias épicas, como as duas de Interlagos (Ayrton também venceu a corrida de 1991, cruzando a linha de chegada com apenas a 6ª marcha de seu McLaren funcionando), fazem parte de um seleto grupo de exibições inesquecíveis da F-1. E o brasileiro, marrento que é, sente necessidade de viver seu apogeu intensamente. Até mesmo por possuir raros momentos de liderança inequívoca em atividades que envolvem competições internacionais.

Hoje a F-1 (e o esporte como um todo no Brasil) vive um outro momento. A torcida reencontrou certo prumo em sua vida “real.” O país vive em certa estabilidade política, o nível de vida subiu nos últimos anos e a imagem de Salvador da Pátria hoje está relacionada ao próprio mandatário-mor da nação, o presidente Lula. O brasileiro parece ter se desligado um pouco do esporte. Até a seleção de futebol, aquele vício tupiniquim que mesmo enfraquecido jamais pode ser ignorado, está em baixa no coração da galera. Fórmula-1, então, não é assunto das rodas de boteco há muito tempo.

Mas paixão é coisa que esfria, mas não morre. E hoje, 15 anos depois de última vitória de Senna no Brasil, a chama está acesa de novo como nunca esteve desde a morte do tricampeão. As imagens da tv foram conclusivas a esse respeito. Cada vez que Massa aparecia nos telões espalhados por Interlagos a platéia fervia. Cada vez que Hamilton era focalizado, uma sucessão se vaias se instalava. Falta de respeito? Juro que não sei. Até gosto dessa pimenta que a torcida adiciona ao clima do GP Brasil. Molecagem me parece um termo mais apropriado. Outro traço da personalidade desse povo que floresceu entre diversas “molecagens” entre índios, negros e brancos.

O Brasil é uma molecagem, afinal.

E molecagem maior poderia ser a da direção de prova, se resolvesse tentar amenizar o fogo do torcedor em Interlagos com a água do velho lago. De molecagem em molecagem, o GP Brasil adiciona um ar menos formal, mais caloroso, à categoria que faz de tudo para se tornar cada dia mais asséptica e distante de toda e qualquer manifestação autêntica. É um sopro de personalidade numa F-1 que se esforça para ser cada vez mais impessoal.