terça-feira, 2 de junho de 2009

Um Ano, Adeus, Bye Bye!

Ah, um ano. É fato, um ano passa rápido demais.

Há um ano esse blog iniciava de verdade sua jornada. Um post tímido sobre o GP Canadá que se aproximava. Um jeito de escrever bem diferente, um moleque que achava que sabia de alguma coisa, muito envaidecido pelos comentários dos amigos, e que decidiu que aquilo que ele pensava a respeito de Fórmula-1 certamente iria interessar a muitas pessoas. E por isso criou um blog.

Pois é, esse moleque sou eu e esse blog é o presente. Há um ano o De Olho na F-1 começava a existir de verdade e deixava de ser uma simples idéia diversas vezes adiada pelas inúmeras dúvidas na cabeça do blogueiro. E o começo foi cheio de dúvidas, em que o escriba fazia uso de um modo empírico para levar o diário virtual a diante. “Aprender fazendo”, era mais ou menos o único lema por aqui.

E para falar a verdade ainda é.

No começo o pensamento era o de “durar pelo menos um ano”. E está cumprido o objetivo, para grande surpresa do blogueiro que achava que não ia durar 6 meses.

Foi durante esse um ano que o blogueiro conheceu de verdade o que é ter um blog. Blogar é muito mais do que redigir uma algaravia todos os dias. É relacionar-se com outros blogs, porque isolado ninguém faz nada na web. É surpreender-se com a quantidade de gente boa fazendo trabalhos soberbos. É aprender muito, divertir-se, sentir-se reconhecido e, claro, ter uma boa dose de senso autocrítico para reconhecer os vacilos.

Foram até aqui 365 dias de aprendizado constante, a cada dia. Não só sobre automobilismo, mas também sobre o próprio ritual de criação. Hoje, tenho muito mais objetividade na hora de redigir textos em geral e sei onde quero chegar já no início do processo de criação. Foi o blog, com a quase diária rotina de produção que me deu essa rapidez.

Por outro lado, manter o De Olho exigiu uma certa dose de sacrifício, algumas faltas a compromissos que fizeram com que familiares me mandassem a lugares não muito publicáveis e uns pecadinhos contra o sistema fisiológico nas corridas da madrugada. Isso sem falar nas horas de estudo roubadas para manter a página do jeito que eu queria. Mas o saldo é positivo, ainda assim.

Há ainda muitas nuances a observar. A interação social é uma das mais interessantes. Amigos “virtuais” foram feitos, impressões trocadas, admiração mútua e, (por que não?) críticas recebidas por aqui como sinal de que certas perspectivas precisavam melhorar.

Mas, é com pesar que o blogueiro anuncia que é hora de dar tchau. Se não tchau, pelo menos um “até breve”.

Acho que todo mundo sabe, o objetivo do editor-chefe do De Olho é ingressar no curso de jornalismo, de preferência da Universidade Federal do Espírito Santo, a UFES. E, como foi amplamente noticiado nos últimos dias, o Ministério da Educação decidiu, agora, no meio do ano, alterar o modo de avaliação dos aspirantes a universidade, unificando a prova, obrigando os cursinhos a mudar todo o planejamento às pressas, e a alterar profundamente a dinâmica dos vestibulares do país. O objetivo do MEC é fazer do ENEM o novo e universal vestibular para todas as instituições de ensino superior público do Brasil. Não entrando no mérito da mudança e da forma como ela foi operada, o que dá pra dizer rapidamente é que todos os envolvidos com o vestibular, alunos, professores, diretores, estão sofrendo com a indefinição e com a falta de um modelo de prova a seguir. Somos todos cobaias do Novo Vestibular, com suas paquidérmicas 180 questões, sem saber se será mantido o nível do ENEM dos últimos anos ou se a prova ganhará caráter mais conteudista. E no meio do fogo-cruzado, os cursinhos resolveram aumentar a carga horária e intensificar o ritmo das aulas. Afinal, a prova agora não será mais aplicada em novembro/dezembro, como era o costume dos vestibulares regionais, e sim em outubro. Restam 4 meses para que todo um novo conteúdo (sim, detalhe: muitos assuntos contemplados pela grade do vestibular da UFES simplesmente não constam no programa do Novo ENEM, ao passo que tópicos historicamente ignorados pela federal capixaba passarão a ser exigidos) seja passado aos alunos.

Resultado: todo mundo perdido, tentando se adaptar repentinamente a um novo modo de “ver” uma prova que na verdade é inexistente. A impressão que se tem, fazendo um paralelo com o futebol, é a de que mudaram as regras com o primeiro tempo de jogo concluído e que ainda subtraíram uns 15 minutos da segunda etapa. E todo sai correndo atrapalhado, tentando se adaptar não se sabe bem a que.

Portanto, a vida do blogueiro muda a partir de agora e o comprometimento com o vestibular ganha um contorno mais importante. E o blog fica prejudicado.

Já há algumas semanas o ritmo do De Olho tem diminuído progressivamente. Sim, dar um tempo no blog já era algo estudado há um certo tempo, desde que o anúncio das mudanças na provas começou a se concretizar.

Como que não poderia deixar de fazer, agradeço muitíssimo aos companheiros de jornada: aos outros blogueiros que fecharam parceria com esta casa e que enriqueceram este blog com seus comentários. Aos leitores anônimos e aos que eu não conheço pela imagem de exibição que aparece no blogger. Aos que nunca comentaram, mas que rotineiramente visitaram o De Olho e aos tais “seguidores”. A todos, um muito obrigado por levar a sério tudo o que foi feito aqui.
Quando se começa algo, a tendência natural é a de se espelhar em alguém. Hoje, olhando para trás, dá pra notar clara inspiração em muito macaco velho da blogosfera. A esses agradeço também, porque tê-los na minha lista de links é um tremendo orgulho.

O blog está aí, retratando um ano (e que ano) de corridas de F-1 na sempre visão de um moleque. Estão aí as opiniões, os erros, os acertos, os puxões de orelha e o retrato de um cara que começou meio sem saber onde estava se enfiando e hoje tem um outro olhar sobre carros que ficam dando voltas pelo mesmo local. E não só sobre isso, esse cara hoje vê muita coisa a seu redor de outra forma. E o blog, o contato com gente de tão longe mas que é capaz de fazer a gente se surpreender, tem boa parcela de responsabilidade nisso. Até porque os acertos e erros cometidos aqui serviram para o blogueiro ter uma melhor noção do exercício e da responsabilidade de publicar opiniões. Talvez o maior aprendizado seja o da disciplina e da correção antes de levar palavras a público.

Pretendo não sumir das caixas de comentários dos amigos. E, se possível, continuar a conhecer gente nova. Porque a blogosfera não pára de se reinventar.
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Tchau!
Ou
Até breve!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

E no dia 29...

Morde e assopra. Foi a isso que se resumiu a novela a respeito do teto orçamentário e da hipotética saída de grandes times da F-1. Hoje, no último dia para a inscrição de equipes para a temporada do ano que vem, todas as 9 equipes que ainda não haviam assinado o documento compareceram e confirmaram presença no mundial de F-1.

A nota divulgada pela FOTA é vaga e um tanto quanto confusa. A associação das equipes confirma a presença de todas as equipes coligadas no mundial do ano que vem, mas condiciona a real presença de todas à assinatura de um novo Pacto de Concórdia em 12 de junho, algo que deve ser acertado até lá. Para 2010 o regulamento continua o mesmo, e começará a ser implantado um programa de redução de custos a médio prazo, com efeitos a serem sentidos nos próximos 3 anos.

Ou seja, pelo menos para 2010 (ou até que a FIA se pronuncie) cai o teto de 40 milhões de libras e a "F-1 de dois regulamentos".

Aparentemente e o fim do pega-rabo entre FOTA e Max Mosley. Resta esclarecer alguns pontos:

- por que a Williams ganhou uma suspensão da FOTA na quarta-feira. Apenas por se antecipar e acabar com o elemento-surpresa?

- algumas novatas se inscreveram para a próxima temporada acreditando no teto de 40 milhões de libras. O que será delas? Disputam um campeonato mambembe contra as grandonas ou caem fora?

- aliás, se todas as 4 equipes estreantes (Campos, Lola, ProDrive e USGPE) resolverem se manter mesmo em 2010 (hipótese remota, mas, como toda hipótese, possível), serão 14 as equipes inscritas e uma vai ter de ficar de fora. O regulamento só permite 26 carros no grid. Mas as 4 novatas se inscreveram antes da turma da FOTA. Vai ser por ordem de chegada, tio Max?

É melhor a FIA preparar um FAQ.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Proibido o Acesso de Cadeirantes

Francamente, o mundo todo vaia a FOTA neste momento. Uma decisão completamente inapropriada, em desacordo com a cartilha politicamente correta que nos rege. Uma vergonha, que deveria, inclusive, ser objeto de intermináveis protestos da parte das associações que cuidam dos cadeirantes.
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Lógico, não estamos falando da suspensão temporária da Williams na FOTA. Isso se tornou café pequeno. Estamos falando, lamentavelmente, de algo muitíssimo mais grave. A redação do presente blog teve acesso exclusivo a uma foto tirada hoje cedo, por fonte anônima, do que se acredita ser a porta da sede da FOTA:

Pô, Montezemolo! Se até os ônibus estão saindo de fábrica adaptados às necessidades dos cadeirantes, satisfazendo a uma antiga (e, sobretudo, justa) reinvidicação dessa parcela da população, você resolve andar para trás?

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mais do Mesmo: Vamos bajular o Chico Ferrari?

A transmissão de tv cravou: a Ferrari está de volta. De fato o desempenho da scuderia em Mônaco foi muito melhor do que a média das 5 corridas anteriores. Felipe Massa e Kimi Raikkonen foram constantes e o fim de semana monegasco foi tão bom que o brasileiro ficou com a melhor volta da corrida. A equipe italiana brigou pela 1ª fila na classificação e o 3-4 conquistado ao final do GP Mônaco ficou foi de bom tamanho.
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Foi a primeira vez no ano que os dois rossos terminaram uma corrida na zona de pontuação. Ironia das ironias, o melhor resultado da temporada da Ferrari vem justamente na pista em que a scuderia está a mais tempo em jejum: desde 2001 os italianos não comemoram uma vitória no principado. Mas a Ferrari voltou mesmo ao posto de equipe de ponta?

Inegável que Mônaco consagrou o poder de reação do cavalino rampante. Poder de reação que, aliás, já era louvado desde de Barcelona, quando Felipe Massa passou a corrida inteira brigando pelo pódio e se encaminhava para um relativamente bom 4ª lugar, até seu carro apresentar problemas com a medição de combustível. Com o desempenho de domingo, já se fala que a Ferrari já é a segunda força do grid, mas nunca é demais recordar: Monte Carlo é uma prova completamente atípica para qualquer categoria que corra lá. Mônaco não é propriamente o melhor lugar para se elaborar tendências sobre o resto do ano. A natureza particular da pista e da dinâmica da corrida no principado tornam Mônaco um caso único, sem paralelo entre as outras corridas do ano, mesmo as de rua. Por mais que o salto de qualidade da Ferrari seja visível, ainda é cedo para desconsiderar Red Bull e Toyota, que até aqui apresentaram desempenho mais sólido do que o do time italiano.

Mas para a Ferrari abrem-se concessões, e ao menor sinal de melhora, ela já “é a segunda equipe do grid”. O time de Maranello, talvez pela força de seu mito, certamente por carregar consigo uma parte da história da F-1 e, seguramente, devido aos recentes e numerosos títulos, torna-se uma espécie de Chico Buarque da F-1. Explico: dias atrás o cineasta Walter Carvalho cravou: “É uma tarefa complicada fazer algo com o Chico, porque ele pensa e você já começa a elogiar, antes de ele falar”. O paralelo com a Ferrari na F-1 torna-se então, fácil: antes mesmo de a recuperação da equipe ser comprovada, ela torna-se previamente favorita, mesmo que o parâmetro seja uma corrida que não reproduz a realidade dos autódromos do restante do campeonato.

Istambul Park, daqui a pouco menos de 15 dias, dará uma melhor noção do rearranjo de forças no mundial. Aí sim com maior segurança e menor ansiedade provocada pelo recente passado de excelência do time italiano.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mônaco Memories: 2002

Crime e Castigo?

O principado de Mônaco sediava a corrida imediatamente posterior ao escândalo ferrarista de A1 Ring em 2002. A Fórmula-1 respirava os ecos da marmelada promovida por Ferrari e protagonizada por Michael Schumacher e Rubens Barrichello. Entre um rigoroso Bernie Ecclestone que afirmava que “a Ferrari tratou os torcedores como bobos” e um condescendente Jean Todt que assegurava que “F-1 é apenas um jogo em que você precisa, de vez em quando, apelar para a estratégia”, o circo aportava em seu palco mais visado.

Até aquela altura, o campeonato seguia sob um ritmo monótono. Nas duas primeiras corridas do ano houve alguma incerteza quanto a superioridade da Ferrari. Na Austrália, ainda correndo com o F-2001, Schumacher venceu fácil. Na Malásia, no entanto, a Williams aplicou uma sonora lavada nos italianos, fazendo a dobradinha com Ralf Schumacher em 1º e Juan Pablo Montoya em 2º, fato que levou a Ferrari a adiantar a estréia do F-2002. O novo modelo, que estava previsto para debutar apenas em Ímola, na abertura da fase européia do mundial, foi precocemente levado a Interlagos, para a 3ª prova do ano, o GP Brasil. E de Interlagos até Monte Carlo, o F-2002 estava invicto.

E logo em Mônaco, corrida mais cobiçada do ano, o F-2002 conheceria pela primeira e única vez a derrota. No sábado a pole ficou, como foi relativamente comum naquele ano, com Montoya, seguido por David Coulthard, da McLaren. Pela primeira vez fora da 1ª fila no ano, a Ferrari colocou seus carros no 3º e no 5º posto, respectivamente com Schumacher e Barrichello. A 4ª colocação ficou com Ralf Schumacher.

No domingo Montoya foi surpreendido pela excelente largada de David Coulthard. Partindo do 2º posto, o escocês roubou a ponta antes mesmo da freada da Saint Devote, e ao contornar a 1ª curva na liderança, apenas precisou assinar, como beneficiário, a nota promissória com vencimento em 78 voltas, assim como Jenson Button fez ontem. Atrás dele estavam Montoya, o Schumacher mais velho e o Schumacher mais moço, respectivamente.

O colombiano da Williams durou até a volta 46, quando abandonou com uma quebra no motor. Entre os 3 primeiros, Ralf adotava a estratégia de duas paradas, contra apenas uma de Coulthard e Michael Schumacher, que se tornavam os únicos candidatos à vitória.

A grande vantagem, entretanto, era de David. Além de estar com a mesma estratégia de Schumacher, o escocês tinha 7 voltas de combustível a mais do que o alemão. E aí ficou fácil. David venceu a única da McLaren no ano e a Ferrari acompanhou, incrédula, a única derrota do esmagador F-2002, derrota que ganhou traços de castigo divino depois dos acontecimentos da Áustria. Se em A1 Ring o vencedor foi escolhido atrás do pit wall, em Mônaco ele foi consagrado legitimamente entre os guard-rails do principado.

domingo, 24 de maio de 2009

Mônaco - Results & Coments

Alguma Poesia

A pista de Mônaco, em seus poucos mais de 3300 metros de comprimento, é recheada de poesia. E isso nem sempre significa algo lisonjeiro. Um poeta inspirado pode enxergar poesia até mesmo num aparelho de ar-condicionado ou num saquinho de pipocas. Mas imaginemos que no caso de Mônaco a poesia exista pela beleza, pela opulência, e pelo curioso fascínio que as pessoas sentem ao ver carros que podem passar dos 330km/h serem enjaulados em ruelas castradoras de toda e qualquer potência motorizada.

É só sobre isso que falaríamos hoje.

Porque Button era o pole e venceu, fácil. Porque o 2º colocado ganhou a posição também de forma simples, na largada. Porque, surpreendentemente, o Safety Car não precisou ser acionado durante as 78 voltas. E sendo assim, Mônaco foi o que ela sempre é em corridas sem chuva ou confusões épicas: uma corrida com charme, com uma importância enorme, com muita poesia em cada uma das suas famosas curvas, mas na qual os carros são apenas um detalhe compondo a paisagem.

E viva Button!




GP Mônaco, após 78 voltas:


1. Jenson Button - Brawn GP, 1h40:44.282

2. Rubens Barrichello - Brawn GP, + 7.666

3. Kimi Raikkonen - Ferrari, + 13.443

4. Felipe Massa - Ferrari, + 15.110

5. Mark Webber - Red Bull, + 15.730

6. Nico Rosberg - Williams, + 33.586

7. Fernando Alonso - Renault, + 37.839

8. Sebastien Bourdais - Toro Rosso, + 1:03.142

9. Giancarlo Fisichella - Force India, + 1:05.040

10. Timo Glock - Toyota, + 1 volta

11. Nick Heidfeld - BMW, + 1 volta

12. Lewis Hamilton - McLaren, + 1 volta

13. Jarno Trulli - Toyota, + 1 volta

14. Adrian Sutil - Force India, + 1 volta

15. Kazuki Nakajima - Williams, + 2 voltas



Não completaram:


Heikki Kovalainen - McLaren

Robert Kubica - BMW

Sebastian Vettel - Red Bull

Nelsinho Piquet - Renault

Sebastien Buemi - Toro Rosso

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Mesma Praça, Outro Jardim: Mônaco 2008

Pilotos e equipes chegavam à Monte Carlo em 2008 querendo desempatar um mundial algo estranho. Na Ferrari, duas vitórias para cada volante, porém, os êxitos não se traduziam em superioridade acachapante na tabela. Na McLaren, Lewis Hamilton contava apenas uma corrida no alto do pódio, a da Austrália. E ninguém arriscava apontar um favorito.

Mônaco era a 6ª etapa do campeonato e, como sempre, trazia ao mundial o tradicional charme daquela que se tornou a mãe de todas as corridas de rua. Pela importância da corrida, a Ferrari sentia-se pressionada a vencer, algo que não acontecia desde 2001. A McLaren, no outro oposto, sentia-se muito confortável como a maior vencedora do passado recente da prova do principado. O mal retrospecto em Monte Carlo incomodava (e ainda incomoda) o time italiano, fato agravado pela grande adaptação da McLaren ao circuito monegasco.

No sábado a maioria dos palpites para a classificação apontavam Lewis Hamilton como o pole, certamente muito influenciados pelo sucesso recente e pela dobradinha da McLaren no principado em 2007. Para a Ferrari a 2ª fila era considerada como algo “de bom tamanho”, visto que havia a crença de que a equipe se especializara em produzir carros para pistas velozes. Engano generalizado.

Para surpresa geral, a scuderia conquistou a 1ª fila do grid de Mônaco com Felipe Massa em 1º e Kimi Raikkonen em 2º. Lewis Hamilton cravou o 3º melhor tempo, seguido por Heikki Kovalainen e Robert Kubica.

O domingo amanheceu chuvoso no principado e crescia a expectativa em torno de uma corrida molhada nas ruas estreitas de Monte Carlo. Antes da largada a Ferrari iniciou um penoso ritual de erros. Rompendo uma cláusula do regulamento, a equipe italiana decidiu torcar os pneus de Raikkonen no grid, a menos de três minutos da largada. O finlandês foi punido com um drive-through voltas mais tarde e teve a corrida comprometida. Outro prejudicado foi o compatriota de Raikkonen, Kovalainen, que com o motor apagado na partida da volta de aquecimento, teve de largar dos boxes.

Na úmida largada, Massa manteve a ponta, enquanto Hamilton pulou na 2ª posição. O brasileiro seguia num rimto seguro, abrindo vantagem em relação aos demais. Chuva e Mônaco, porém, formam uma combinação que praticamente exige a presença do Safety Car.

Vários incidentes povoaram as primeiras voltas. David Coulthard, Sebastien Bourdais, Nico Rosberg, Fernando Alonso e Nick Heidfeld eram alguns dos que se envolviam em toques e colisões pelas ruas monegascas. O erro mais significativo para a dinâmica da corrida, porém, foi o de Hamilton, que “raspou” o pneu traseiro direito no guard-rail da curva da Tabacaria. Depois da intervenção do carro-madrinha, Massa liderava, seguido por Kubica. Hamilton, carregado de combustível, era o 5º.

Na 15ª volta, um susto para Massa. Uma saída de pista, felizmente numa das poucas áreas de escape do traçado, na Saint Devote, quase pôs a corrida do brasileiro a perder. Felipe conseguiu retornar, mas agora em 2º, atrás de Robert Kubica. O brasileiro, entretanto, logo retornou ao 1º posto, assim que Kubica se dirigiu aos boxes para a 1ª parada.

Massa permaneceu 6 voltas a mais na pista até fazer sua primeira parada. Retornou em 2º, superou Kubica, mas não teve como segurar Hamilton, que tinha pela frente uma “perna” de corrida longa. O segundo trecho da corrida foi monótono e consistiu simplesmente em Hamilton andando velozmente para abrir os 40 segundos necessários para fazer o pit stop e voltar ainda líder.

Assim foi feito. Hamilton parou na volta 53 e voltou ainda líder. A Ferrari, por sua vez, dava uma ajudinha, atrasando o pit stop de Felipe Massa e devolvendo-o à pista em 3º.

Antes do fim, duas batidas marcaram a corrida. Nico Rosberg estampou com força o guard-rail do “S” da Piscina, provocando a entrada do Safety Car. Pouco depois da saída do carro-madrinha, Kimi Raikkonen acertou criminosamente a Force India de Adrian Sutil, que estava prestes a conquistar o melhor resultado da carreira e de sua equipe, o 4º lugar. O erro tirou Sutil da prova e levou o alemão às lágrimas nos boxes.

Ao final, vitória de Hamilton, que chegara ao principado em 3º e saía líder do mundial. E um efusivo inglês subiu ao pódio para ouvir, emocionado ao “Deus, salve a Rainha!"

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Rompimento Reticente

Ela, italiana, altiva, ainda em forma apesar de seus mais de 60 anos. Dama de Vermelho foi seu apelido de juventude consagrado até os dias atuais pelo fato de ela adorar trajes na cor da paixão. Vestia-se também de amarelo e outras cores, mas gostava de se olhar no espelho ao rubro. Achava que suas curvas sempre ficavam mais ressaltadas sob belos modelos rossos. Dona de um porte aristocrático, Ela despertava certa inveja em outras senhoras. Elegante, sabia se portar e se fazer notar sem apelar para outra coisa que não sua própria presença.

Ele, também sessentão, um senhor não tão interessante, não tão protagonista de sua própria vida, meio gagá, é verdade, mas velha raposa da vida.

Ela queria, intimamente, o divórcio, insatisfeita com um casamento de anos que não lhe fazia tão feliz nem lhe trazia muitos benefícios. Na verdade o casamento até era bom, já havia passado por alguns tremores, mas sempre resistiu. O problema é que Ela queria mais. Achava-se boa e conservada demais para ficar retida a um compromisso que a tornava prisioneira. Tinha desejos, vontades que eram irrealisáveis com o marido. Mas tinha medo de se arriscar em terreno novo. Também causava incômodo o fato de que, naquela idade, anunciar-se como divorciada não causaria um impacto social propriamente positivo. Achava mais conveniente manter um casamento de mentira.

Ele, velho gatuno, já fora descoberto pulando a cerca e tinha um fogo sexual ainda ativo, mesmo para o respeitável senhor. Era capaz até mesmo de ter fantasias sadomasô que nunca concretizaria com a madame oficial. Para isso Ele procurava as distintas moças da rua. Ela, no entanto, preferiu manter o casamento, mesmo que apenas de fachada, para preservar-se perante os amigos.

Só que a paciência Dela não era perpétua. E Ele, já na 3ª idade, estava farto de viver sob os julgos conservadores da sociedade. Desejava livrar-se das convenções e mandar em casa sozinho, sem interferências, fazendo as coisas do seu jeito. Algo que Ela não permitia, pois como boa mulher, queria palpitar em todas as instâncias dos assuntos da vida Dele.

Ele começou a sabotá-la. Ameaçou limitar os gastos da velha companheira. Tomar medidas sem consultá-la tornou-se praxe. A irritação Dela crescia a ponto de alguns amigos ficarem sabendo, pela boca Dela, dos problemas de casa. Algo raro, visto que Ela sempre fora muito discreta quanto aos problemas de relacionamento doméstico e procurava resolvê-los por meio da diplomacia. O ápice dos problemas foi quando Ele decidiu que abrigaria algumas novatas em casa, nos fundos, no quarto das empregadas. Fachada, lógico, para as novas amantes da rua poderem estar acessíveis. Pelo que Ela sabia, Ele sempre se envolvia com moças mais novas e, quase sempre, se aproveitava da fortuna de anos de trabalho para ganhar vantagem. Sua principal arma de sedução, evidentemente, não era a virilidade da juventude e sim de sua conta bancária.

Para Ela, aquilo era o cúmulo da humilhação. “Como Ele pode me trocar por várias menininhas deslumbradas?” – Ela pensava, deixando transparecer que apesar das birras, havia uma pontinha de paixão no meio daquele relacionamento gasto pelo tempo. Mas Ela não podia admitir. O que as pessoas pensariam se Ela se calasse diante de algo tão vexatório? Ela o procurou, num belo dia, e disse que se Ele realmente continuasse com seu comportamento imprevisível e desafiador, Ela sairia de casa. Fez ameaças, falou alto, em tom firme, certa de que Ele também se iria se preocupar com o prejuízo social que um divórcio traria. Ela falou durante longos minutos, sem ser interrompida por Ele, que ouvia tudo com ares de desdém. Quando terminou, Ela chegou a considerar, por uma fração de segundos, que Ele pediria desculpas. Em outra fração de mínima de tempo, Ela imaginou que Ele certamente continuaria a ter relacionamentos extra-casamento, mas isso não a incomodava, desde que fosse bem acobertado. O que se seguiu, entretanto, não foi nenhuma coisa, nem outra.

Ele a olhou fixamente e disse laconicamente que estava disposto a comprar a briga. Se Ela tivesse de sair, que saísse. “A porta da rua é a serventia da casa” – disparou Ele, fazendo com as palavras entrassem pelos ouvidos Dela como se fossem flechas em chamas. Ela estremeceu, e ficou por segundos sem ação, como se realmente tivesse sido atingida por flechas incandescentes. Seu rosto mudou de feições, ameaçou um quase choro. Estava preparada para tudo, menos para descobrir que as convenções socais já não eram a maior preocupação de seu ainda marido.

O pouco caso Dele a deixou irada. Só que Ela ainda não era capaz de viver com a vexação social de ser uma senhora divorciada naquela idade. Por hora ela engoliu alguns sapos, não teve coragem de ir embora e mantém-se até o presente momento estudando uma forma de golpear as pretensões Dele. Mas, claro, de forma elegante, como sempre foi próprio de seu estilo.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Analogia Debutante

No final de semana Max Mosley resolveu metaforizar. E juntou a atual ameaça da saída da Ferrari com a morte de Ayrton Senna em 1994, para provar que ao final, a F-1 sempre sobreviverá: “É como o que aconteceu com o pobre Senna. Ele era o piloto mais importante do mundo, quando morreu e a F-1 continuou”.

A noção análoga do velho é quase boa. O problema é que ele atirou pro lado certo, mas errou o alvo.

Sob esse ângulo Senna e Ferrari dificilmente podem andar juntos. Porque a escuderia italiana não está (hipoteticamente) saindo da F-1 por força de uma circunstância inevitável e inapelável como aconteceu com Senna. A Ferrari, junto com Renault e CIA, está ameaçando (e no fundo, todo mundo sabe que é só ameaça mesmo) sair porque, além do esdrúxulo regulamento que cria duas categorias em uma, está insatisfeita com a possibilidade de aumento no número de times disputando o mundial. Com o teto orçamentário fixado em 40 milhões de libras, Lola, USGPE e Prodrive já admitiram que a F-1 passa a ser viável e possível. E com mais equipes disputando o mundial, a divisão dos lucros entre os times seria reformulada e o valor ficaria abaixo do atual. É essa a pedra no sapato de Ferrari e outras montadoras. E é aí que a metáfora com Senna se torna possível.

Porque em 1993, irritado com a saída da Honda do circo e com a medíocre temporada da McLaren em 92 e sonhando com a Williams onde Alain Prost vetara seu nome, Ayrton Senna apelou para a encenação. Ameaçou ir para a Indy (o que seria um duro golpe contra a F-1, já que a categoria americana havia surrupiado Nigel Mansell, campeão de 92 e também insatisfeito com a contratação de Prost por Frank Williams), e também falou em “tirar um ano sabático”, inconformado que estava com a posição mediana que o equipamento lhe permitia disputar. Chegou a simular uma briga com o chefe Ron Dennis e passou a exigir U$S 1 milhão por corrida para competir. A Philip Morris acreditou na história, passou a comparecer com o dinheiro em todas as corridas e Ayrton seguiu calmamente em 93, fazendo o ano em que, se não foi campeão, colecionou apresentações históricas, para, finalmente, sentar no sonhado carro azul em 94.

Aí a analogia é quase perfeita. A Ferrari de hoje e o Senna de uma década e meia atrás apenas se encontraram insatisfeitos com alguma situação momentânea e jogaram com seus respectivos pesos políticos, inteligentes e sabedores da força que seus nomes carregam. Senna conseguiu o que queria há 15 anos atrás, talvez porque percebeu que política também é imposição de força. E isso já faz parte da sintaxe da F-1 há bastante tempo.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Em Primeira Pessoa - Concordo Contigo, Garoto!

Bem, o texto tá todo lá no Tazio, não vou me dar ao trabalho de fazer o ctrl + c ctrl + v.

Não sou o maior fã do rapaz. Não contesto sua capacidade. Só não costumo concordar com o que ele fala e faz fora das pistas. Mas isso também é irrelevante, porque, para fins de discussão em um blog sobre F-1, a pessoa Lewis Hamilton precisa ser menor do que o piloto Lewis Hamilton.

Antes de julgar (se é que me cabe fazer isso. Mas todo mundo, intimamente, faz) se Lewis fala o que fala porque não está mais na ponta da tabela, acho que é a hora de dizer algo com o qual quase todos os que acompanham esporte a motor pensam: como é chata a politicagem que permeia a categoria que se diz máxima.

É chato para os pilotos, e imagino como deve ser frustrante para profissionais da área, que passaram alguns anos estudando para atingir o topo de sua área e são obrigados a reportar a mais nova reviravolta no caso dos velhinhos engravatados que resolveram ter uma briga de madames.

É chato também para palpiteiros de plantão, acredite. Há momentos em que o esporte passa a ser apenas um detalhe no mundo de cifras e interesses milionários da F-1. E tudo isso tira o tesão de criar, de inventar, de interagir, simplesmente porque não foi para falar de política que criei um blog. Já vivo questionando qual o papel de um amador num universo como a blogosfera, com profissionais altamente preparados trabalhando no blog ao lado. Questiono diariamente se o que faço aqui possui alguma serventia e se uma pseudo-análise esportiva da F-1 feita por mim é relevante para alguém. Imaginem então, o que eu posso dizer a respeito de algo que me incomoda muito, o jogo de interesses feroz dos bastidores, olhando para tudo de longe? Não será nada que valha a pena.

Por isso eu prefiro me calar. Querem acompanhar as ameaças de Ferrari e CIA contra Mosley e sua trupe? Os endereços dos sites especializados estão aí ao lado. Blogs de profissionais da área também não faltam e os tais sites os divulgam. Só abro a boca para concordar contigo, menino Hamilton.

É chato, é muito chato.