sexta-feira, 29 de maio de 2009

E no dia 29...

Morde e assopra. Foi a isso que se resumiu a novela a respeito do teto orçamentário e da hipotética saída de grandes times da F-1. Hoje, no último dia para a inscrição de equipes para a temporada do ano que vem, todas as 9 equipes que ainda não haviam assinado o documento compareceram e confirmaram presença no mundial de F-1.

A nota divulgada pela FOTA é vaga e um tanto quanto confusa. A associação das equipes confirma a presença de todas as equipes coligadas no mundial do ano que vem, mas condiciona a real presença de todas à assinatura de um novo Pacto de Concórdia em 12 de junho, algo que deve ser acertado até lá. Para 2010 o regulamento continua o mesmo, e começará a ser implantado um programa de redução de custos a médio prazo, com efeitos a serem sentidos nos próximos 3 anos.

Ou seja, pelo menos para 2010 (ou até que a FIA se pronuncie) cai o teto de 40 milhões de libras e a "F-1 de dois regulamentos".

Aparentemente e o fim do pega-rabo entre FOTA e Max Mosley. Resta esclarecer alguns pontos:

- por que a Williams ganhou uma suspensão da FOTA na quarta-feira. Apenas por se antecipar e acabar com o elemento-surpresa?

- algumas novatas se inscreveram para a próxima temporada acreditando no teto de 40 milhões de libras. O que será delas? Disputam um campeonato mambembe contra as grandonas ou caem fora?

- aliás, se todas as 4 equipes estreantes (Campos, Lola, ProDrive e USGPE) resolverem se manter mesmo em 2010 (hipótese remota, mas, como toda hipótese, possível), serão 14 as equipes inscritas e uma vai ter de ficar de fora. O regulamento só permite 26 carros no grid. Mas as 4 novatas se inscreveram antes da turma da FOTA. Vai ser por ordem de chegada, tio Max?

É melhor a FIA preparar um FAQ.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Proibido o Acesso de Cadeirantes

Francamente, o mundo todo vaia a FOTA neste momento. Uma decisão completamente inapropriada, em desacordo com a cartilha politicamente correta que nos rege. Uma vergonha, que deveria, inclusive, ser objeto de intermináveis protestos da parte das associações que cuidam dos cadeirantes.
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Lógico, não estamos falando da suspensão temporária da Williams na FOTA. Isso se tornou café pequeno. Estamos falando, lamentavelmente, de algo muitíssimo mais grave. A redação do presente blog teve acesso exclusivo a uma foto tirada hoje cedo, por fonte anônima, do que se acredita ser a porta da sede da FOTA:

Pô, Montezemolo! Se até os ônibus estão saindo de fábrica adaptados às necessidades dos cadeirantes, satisfazendo a uma antiga (e, sobretudo, justa) reinvidicação dessa parcela da população, você resolve andar para trás?

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mais do Mesmo: Vamos bajular o Chico Ferrari?

A transmissão de tv cravou: a Ferrari está de volta. De fato o desempenho da scuderia em Mônaco foi muito melhor do que a média das 5 corridas anteriores. Felipe Massa e Kimi Raikkonen foram constantes e o fim de semana monegasco foi tão bom que o brasileiro ficou com a melhor volta da corrida. A equipe italiana brigou pela 1ª fila na classificação e o 3-4 conquistado ao final do GP Mônaco ficou foi de bom tamanho.
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Foi a primeira vez no ano que os dois rossos terminaram uma corrida na zona de pontuação. Ironia das ironias, o melhor resultado da temporada da Ferrari vem justamente na pista em que a scuderia está a mais tempo em jejum: desde 2001 os italianos não comemoram uma vitória no principado. Mas a Ferrari voltou mesmo ao posto de equipe de ponta?

Inegável que Mônaco consagrou o poder de reação do cavalino rampante. Poder de reação que, aliás, já era louvado desde de Barcelona, quando Felipe Massa passou a corrida inteira brigando pelo pódio e se encaminhava para um relativamente bom 4ª lugar, até seu carro apresentar problemas com a medição de combustível. Com o desempenho de domingo, já se fala que a Ferrari já é a segunda força do grid, mas nunca é demais recordar: Monte Carlo é uma prova completamente atípica para qualquer categoria que corra lá. Mônaco não é propriamente o melhor lugar para se elaborar tendências sobre o resto do ano. A natureza particular da pista e da dinâmica da corrida no principado tornam Mônaco um caso único, sem paralelo entre as outras corridas do ano, mesmo as de rua. Por mais que o salto de qualidade da Ferrari seja visível, ainda é cedo para desconsiderar Red Bull e Toyota, que até aqui apresentaram desempenho mais sólido do que o do time italiano.

Mas para a Ferrari abrem-se concessões, e ao menor sinal de melhora, ela já “é a segunda equipe do grid”. O time de Maranello, talvez pela força de seu mito, certamente por carregar consigo uma parte da história da F-1 e, seguramente, devido aos recentes e numerosos títulos, torna-se uma espécie de Chico Buarque da F-1. Explico: dias atrás o cineasta Walter Carvalho cravou: “É uma tarefa complicada fazer algo com o Chico, porque ele pensa e você já começa a elogiar, antes de ele falar”. O paralelo com a Ferrari na F-1 torna-se então, fácil: antes mesmo de a recuperação da equipe ser comprovada, ela torna-se previamente favorita, mesmo que o parâmetro seja uma corrida que não reproduz a realidade dos autódromos do restante do campeonato.

Istambul Park, daqui a pouco menos de 15 dias, dará uma melhor noção do rearranjo de forças no mundial. Aí sim com maior segurança e menor ansiedade provocada pelo recente passado de excelência do time italiano.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Mônaco Memories: 2002

Crime e Castigo?

O principado de Mônaco sediava a corrida imediatamente posterior ao escândalo ferrarista de A1 Ring em 2002. A Fórmula-1 respirava os ecos da marmelada promovida por Ferrari e protagonizada por Michael Schumacher e Rubens Barrichello. Entre um rigoroso Bernie Ecclestone que afirmava que “a Ferrari tratou os torcedores como bobos” e um condescendente Jean Todt que assegurava que “F-1 é apenas um jogo em que você precisa, de vez em quando, apelar para a estratégia”, o circo aportava em seu palco mais visado.

Até aquela altura, o campeonato seguia sob um ritmo monótono. Nas duas primeiras corridas do ano houve alguma incerteza quanto a superioridade da Ferrari. Na Austrália, ainda correndo com o F-2001, Schumacher venceu fácil. Na Malásia, no entanto, a Williams aplicou uma sonora lavada nos italianos, fazendo a dobradinha com Ralf Schumacher em 1º e Juan Pablo Montoya em 2º, fato que levou a Ferrari a adiantar a estréia do F-2002. O novo modelo, que estava previsto para debutar apenas em Ímola, na abertura da fase européia do mundial, foi precocemente levado a Interlagos, para a 3ª prova do ano, o GP Brasil. E de Interlagos até Monte Carlo, o F-2002 estava invicto.

E logo em Mônaco, corrida mais cobiçada do ano, o F-2002 conheceria pela primeira e única vez a derrota. No sábado a pole ficou, como foi relativamente comum naquele ano, com Montoya, seguido por David Coulthard, da McLaren. Pela primeira vez fora da 1ª fila no ano, a Ferrari colocou seus carros no 3º e no 5º posto, respectivamente com Schumacher e Barrichello. A 4ª colocação ficou com Ralf Schumacher.

No domingo Montoya foi surpreendido pela excelente largada de David Coulthard. Partindo do 2º posto, o escocês roubou a ponta antes mesmo da freada da Saint Devote, e ao contornar a 1ª curva na liderança, apenas precisou assinar, como beneficiário, a nota promissória com vencimento em 78 voltas, assim como Jenson Button fez ontem. Atrás dele estavam Montoya, o Schumacher mais velho e o Schumacher mais moço, respectivamente.

O colombiano da Williams durou até a volta 46, quando abandonou com uma quebra no motor. Entre os 3 primeiros, Ralf adotava a estratégia de duas paradas, contra apenas uma de Coulthard e Michael Schumacher, que se tornavam os únicos candidatos à vitória.

A grande vantagem, entretanto, era de David. Além de estar com a mesma estratégia de Schumacher, o escocês tinha 7 voltas de combustível a mais do que o alemão. E aí ficou fácil. David venceu a única da McLaren no ano e a Ferrari acompanhou, incrédula, a única derrota do esmagador F-2002, derrota que ganhou traços de castigo divino depois dos acontecimentos da Áustria. Se em A1 Ring o vencedor foi escolhido atrás do pit wall, em Mônaco ele foi consagrado legitimamente entre os guard-rails do principado.

domingo, 24 de maio de 2009

Mônaco - Results & Coments

Alguma Poesia

A pista de Mônaco, em seus poucos mais de 3300 metros de comprimento, é recheada de poesia. E isso nem sempre significa algo lisonjeiro. Um poeta inspirado pode enxergar poesia até mesmo num aparelho de ar-condicionado ou num saquinho de pipocas. Mas imaginemos que no caso de Mônaco a poesia exista pela beleza, pela opulência, e pelo curioso fascínio que as pessoas sentem ao ver carros que podem passar dos 330km/h serem enjaulados em ruelas castradoras de toda e qualquer potência motorizada.

É só sobre isso que falaríamos hoje.

Porque Button era o pole e venceu, fácil. Porque o 2º colocado ganhou a posição também de forma simples, na largada. Porque, surpreendentemente, o Safety Car não precisou ser acionado durante as 78 voltas. E sendo assim, Mônaco foi o que ela sempre é em corridas sem chuva ou confusões épicas: uma corrida com charme, com uma importância enorme, com muita poesia em cada uma das suas famosas curvas, mas na qual os carros são apenas um detalhe compondo a paisagem.

E viva Button!




GP Mônaco, após 78 voltas:


1. Jenson Button - Brawn GP, 1h40:44.282

2. Rubens Barrichello - Brawn GP, + 7.666

3. Kimi Raikkonen - Ferrari, + 13.443

4. Felipe Massa - Ferrari, + 15.110

5. Mark Webber - Red Bull, + 15.730

6. Nico Rosberg - Williams, + 33.586

7. Fernando Alonso - Renault, + 37.839

8. Sebastien Bourdais - Toro Rosso, + 1:03.142

9. Giancarlo Fisichella - Force India, + 1:05.040

10. Timo Glock - Toyota, + 1 volta

11. Nick Heidfeld - BMW, + 1 volta

12. Lewis Hamilton - McLaren, + 1 volta

13. Jarno Trulli - Toyota, + 1 volta

14. Adrian Sutil - Force India, + 1 volta

15. Kazuki Nakajima - Williams, + 2 voltas



Não completaram:


Heikki Kovalainen - McLaren

Robert Kubica - BMW

Sebastian Vettel - Red Bull

Nelsinho Piquet - Renault

Sebastien Buemi - Toro Rosso

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Mesma Praça, Outro Jardim: Mônaco 2008

Pilotos e equipes chegavam à Monte Carlo em 2008 querendo desempatar um mundial algo estranho. Na Ferrari, duas vitórias para cada volante, porém, os êxitos não se traduziam em superioridade acachapante na tabela. Na McLaren, Lewis Hamilton contava apenas uma corrida no alto do pódio, a da Austrália. E ninguém arriscava apontar um favorito.

Mônaco era a 6ª etapa do campeonato e, como sempre, trazia ao mundial o tradicional charme daquela que se tornou a mãe de todas as corridas de rua. Pela importância da corrida, a Ferrari sentia-se pressionada a vencer, algo que não acontecia desde 2001. A McLaren, no outro oposto, sentia-se muito confortável como a maior vencedora do passado recente da prova do principado. O mal retrospecto em Monte Carlo incomodava (e ainda incomoda) o time italiano, fato agravado pela grande adaptação da McLaren ao circuito monegasco.

No sábado a maioria dos palpites para a classificação apontavam Lewis Hamilton como o pole, certamente muito influenciados pelo sucesso recente e pela dobradinha da McLaren no principado em 2007. Para a Ferrari a 2ª fila era considerada como algo “de bom tamanho”, visto que havia a crença de que a equipe se especializara em produzir carros para pistas velozes. Engano generalizado.

Para surpresa geral, a scuderia conquistou a 1ª fila do grid de Mônaco com Felipe Massa em 1º e Kimi Raikkonen em 2º. Lewis Hamilton cravou o 3º melhor tempo, seguido por Heikki Kovalainen e Robert Kubica.

O domingo amanheceu chuvoso no principado e crescia a expectativa em torno de uma corrida molhada nas ruas estreitas de Monte Carlo. Antes da largada a Ferrari iniciou um penoso ritual de erros. Rompendo uma cláusula do regulamento, a equipe italiana decidiu torcar os pneus de Raikkonen no grid, a menos de três minutos da largada. O finlandês foi punido com um drive-through voltas mais tarde e teve a corrida comprometida. Outro prejudicado foi o compatriota de Raikkonen, Kovalainen, que com o motor apagado na partida da volta de aquecimento, teve de largar dos boxes.

Na úmida largada, Massa manteve a ponta, enquanto Hamilton pulou na 2ª posição. O brasileiro seguia num rimto seguro, abrindo vantagem em relação aos demais. Chuva e Mônaco, porém, formam uma combinação que praticamente exige a presença do Safety Car.

Vários incidentes povoaram as primeiras voltas. David Coulthard, Sebastien Bourdais, Nico Rosberg, Fernando Alonso e Nick Heidfeld eram alguns dos que se envolviam em toques e colisões pelas ruas monegascas. O erro mais significativo para a dinâmica da corrida, porém, foi o de Hamilton, que “raspou” o pneu traseiro direito no guard-rail da curva da Tabacaria. Depois da intervenção do carro-madrinha, Massa liderava, seguido por Kubica. Hamilton, carregado de combustível, era o 5º.

Na 15ª volta, um susto para Massa. Uma saída de pista, felizmente numa das poucas áreas de escape do traçado, na Saint Devote, quase pôs a corrida do brasileiro a perder. Felipe conseguiu retornar, mas agora em 2º, atrás de Robert Kubica. O brasileiro, entretanto, logo retornou ao 1º posto, assim que Kubica se dirigiu aos boxes para a 1ª parada.

Massa permaneceu 6 voltas a mais na pista até fazer sua primeira parada. Retornou em 2º, superou Kubica, mas não teve como segurar Hamilton, que tinha pela frente uma “perna” de corrida longa. O segundo trecho da corrida foi monótono e consistiu simplesmente em Hamilton andando velozmente para abrir os 40 segundos necessários para fazer o pit stop e voltar ainda líder.

Assim foi feito. Hamilton parou na volta 53 e voltou ainda líder. A Ferrari, por sua vez, dava uma ajudinha, atrasando o pit stop de Felipe Massa e devolvendo-o à pista em 3º.

Antes do fim, duas batidas marcaram a corrida. Nico Rosberg estampou com força o guard-rail do “S” da Piscina, provocando a entrada do Safety Car. Pouco depois da saída do carro-madrinha, Kimi Raikkonen acertou criminosamente a Force India de Adrian Sutil, que estava prestes a conquistar o melhor resultado da carreira e de sua equipe, o 4º lugar. O erro tirou Sutil da prova e levou o alemão às lágrimas nos boxes.

Ao final, vitória de Hamilton, que chegara ao principado em 3º e saía líder do mundial. E um efusivo inglês subiu ao pódio para ouvir, emocionado ao “Deus, salve a Rainha!"

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Rompimento Reticente

Ela, italiana, altiva, ainda em forma apesar de seus mais de 60 anos. Dama de Vermelho foi seu apelido de juventude consagrado até os dias atuais pelo fato de ela adorar trajes na cor da paixão. Vestia-se também de amarelo e outras cores, mas gostava de se olhar no espelho ao rubro. Achava que suas curvas sempre ficavam mais ressaltadas sob belos modelos rossos. Dona de um porte aristocrático, Ela despertava certa inveja em outras senhoras. Elegante, sabia se portar e se fazer notar sem apelar para outra coisa que não sua própria presença.

Ele, também sessentão, um senhor não tão interessante, não tão protagonista de sua própria vida, meio gagá, é verdade, mas velha raposa da vida.

Ela queria, intimamente, o divórcio, insatisfeita com um casamento de anos que não lhe fazia tão feliz nem lhe trazia muitos benefícios. Na verdade o casamento até era bom, já havia passado por alguns tremores, mas sempre resistiu. O problema é que Ela queria mais. Achava-se boa e conservada demais para ficar retida a um compromisso que a tornava prisioneira. Tinha desejos, vontades que eram irrealisáveis com o marido. Mas tinha medo de se arriscar em terreno novo. Também causava incômodo o fato de que, naquela idade, anunciar-se como divorciada não causaria um impacto social propriamente positivo. Achava mais conveniente manter um casamento de mentira.

Ele, velho gatuno, já fora descoberto pulando a cerca e tinha um fogo sexual ainda ativo, mesmo para o respeitável senhor. Era capaz até mesmo de ter fantasias sadomasô que nunca concretizaria com a madame oficial. Para isso Ele procurava as distintas moças da rua. Ela, no entanto, preferiu manter o casamento, mesmo que apenas de fachada, para preservar-se perante os amigos.

Só que a paciência Dela não era perpétua. E Ele, já na 3ª idade, estava farto de viver sob os julgos conservadores da sociedade. Desejava livrar-se das convenções e mandar em casa sozinho, sem interferências, fazendo as coisas do seu jeito. Algo que Ela não permitia, pois como boa mulher, queria palpitar em todas as instâncias dos assuntos da vida Dele.

Ele começou a sabotá-la. Ameaçou limitar os gastos da velha companheira. Tomar medidas sem consultá-la tornou-se praxe. A irritação Dela crescia a ponto de alguns amigos ficarem sabendo, pela boca Dela, dos problemas de casa. Algo raro, visto que Ela sempre fora muito discreta quanto aos problemas de relacionamento doméstico e procurava resolvê-los por meio da diplomacia. O ápice dos problemas foi quando Ele decidiu que abrigaria algumas novatas em casa, nos fundos, no quarto das empregadas. Fachada, lógico, para as novas amantes da rua poderem estar acessíveis. Pelo que Ela sabia, Ele sempre se envolvia com moças mais novas e, quase sempre, se aproveitava da fortuna de anos de trabalho para ganhar vantagem. Sua principal arma de sedução, evidentemente, não era a virilidade da juventude e sim de sua conta bancária.

Para Ela, aquilo era o cúmulo da humilhação. “Como Ele pode me trocar por várias menininhas deslumbradas?” – Ela pensava, deixando transparecer que apesar das birras, havia uma pontinha de paixão no meio daquele relacionamento gasto pelo tempo. Mas Ela não podia admitir. O que as pessoas pensariam se Ela se calasse diante de algo tão vexatório? Ela o procurou, num belo dia, e disse que se Ele realmente continuasse com seu comportamento imprevisível e desafiador, Ela sairia de casa. Fez ameaças, falou alto, em tom firme, certa de que Ele também se iria se preocupar com o prejuízo social que um divórcio traria. Ela falou durante longos minutos, sem ser interrompida por Ele, que ouvia tudo com ares de desdém. Quando terminou, Ela chegou a considerar, por uma fração de segundos, que Ele pediria desculpas. Em outra fração de mínima de tempo, Ela imaginou que Ele certamente continuaria a ter relacionamentos extra-casamento, mas isso não a incomodava, desde que fosse bem acobertado. O que se seguiu, entretanto, não foi nenhuma coisa, nem outra.

Ele a olhou fixamente e disse laconicamente que estava disposto a comprar a briga. Se Ela tivesse de sair, que saísse. “A porta da rua é a serventia da casa” – disparou Ele, fazendo com as palavras entrassem pelos ouvidos Dela como se fossem flechas em chamas. Ela estremeceu, e ficou por segundos sem ação, como se realmente tivesse sido atingida por flechas incandescentes. Seu rosto mudou de feições, ameaçou um quase choro. Estava preparada para tudo, menos para descobrir que as convenções socais já não eram a maior preocupação de seu ainda marido.

O pouco caso Dele a deixou irada. Só que Ela ainda não era capaz de viver com a vexação social de ser uma senhora divorciada naquela idade. Por hora ela engoliu alguns sapos, não teve coragem de ir embora e mantém-se até o presente momento estudando uma forma de golpear as pretensões Dele. Mas, claro, de forma elegante, como sempre foi próprio de seu estilo.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Analogia Debutante

No final de semana Max Mosley resolveu metaforizar. E juntou a atual ameaça da saída da Ferrari com a morte de Ayrton Senna em 1994, para provar que ao final, a F-1 sempre sobreviverá: “É como o que aconteceu com o pobre Senna. Ele era o piloto mais importante do mundo, quando morreu e a F-1 continuou”.

A noção análoga do velho é quase boa. O problema é que ele atirou pro lado certo, mas errou o alvo.

Sob esse ângulo Senna e Ferrari dificilmente podem andar juntos. Porque a escuderia italiana não está (hipoteticamente) saindo da F-1 por força de uma circunstância inevitável e inapelável como aconteceu com Senna. A Ferrari, junto com Renault e CIA, está ameaçando (e no fundo, todo mundo sabe que é só ameaça mesmo) sair porque, além do esdrúxulo regulamento que cria duas categorias em uma, está insatisfeita com a possibilidade de aumento no número de times disputando o mundial. Com o teto orçamentário fixado em 40 milhões de libras, Lola, USGPE e Prodrive já admitiram que a F-1 passa a ser viável e possível. E com mais equipes disputando o mundial, a divisão dos lucros entre os times seria reformulada e o valor ficaria abaixo do atual. É essa a pedra no sapato de Ferrari e outras montadoras. E é aí que a metáfora com Senna se torna possível.

Porque em 1993, irritado com a saída da Honda do circo e com a medíocre temporada da McLaren em 92 e sonhando com a Williams onde Alain Prost vetara seu nome, Ayrton Senna apelou para a encenação. Ameaçou ir para a Indy (o que seria um duro golpe contra a F-1, já que a categoria americana havia surrupiado Nigel Mansell, campeão de 92 e também insatisfeito com a contratação de Prost por Frank Williams), e também falou em “tirar um ano sabático”, inconformado que estava com a posição mediana que o equipamento lhe permitia disputar. Chegou a simular uma briga com o chefe Ron Dennis e passou a exigir U$S 1 milhão por corrida para competir. A Philip Morris acreditou na história, passou a comparecer com o dinheiro em todas as corridas e Ayrton seguiu calmamente em 93, fazendo o ano em que, se não foi campeão, colecionou apresentações históricas, para, finalmente, sentar no sonhado carro azul em 94.

Aí a analogia é quase perfeita. A Ferrari de hoje e o Senna de uma década e meia atrás apenas se encontraram insatisfeitos com alguma situação momentânea e jogaram com seus respectivos pesos políticos, inteligentes e sabedores da força que seus nomes carregam. Senna conseguiu o que queria há 15 anos atrás, talvez porque percebeu que política também é imposição de força. E isso já faz parte da sintaxe da F-1 há bastante tempo.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Em Primeira Pessoa - Concordo Contigo, Garoto!

Bem, o texto tá todo lá no Tazio, não vou me dar ao trabalho de fazer o ctrl + c ctrl + v.

Não sou o maior fã do rapaz. Não contesto sua capacidade. Só não costumo concordar com o que ele fala e faz fora das pistas. Mas isso também é irrelevante, porque, para fins de discussão em um blog sobre F-1, a pessoa Lewis Hamilton precisa ser menor do que o piloto Lewis Hamilton.

Antes de julgar (se é que me cabe fazer isso. Mas todo mundo, intimamente, faz) se Lewis fala o que fala porque não está mais na ponta da tabela, acho que é a hora de dizer algo com o qual quase todos os que acompanham esporte a motor pensam: como é chata a politicagem que permeia a categoria que se diz máxima.

É chato para os pilotos, e imagino como deve ser frustrante para profissionais da área, que passaram alguns anos estudando para atingir o topo de sua área e são obrigados a reportar a mais nova reviravolta no caso dos velhinhos engravatados que resolveram ter uma briga de madames.

É chato também para palpiteiros de plantão, acredite. Há momentos em que o esporte passa a ser apenas um detalhe no mundo de cifras e interesses milionários da F-1. E tudo isso tira o tesão de criar, de inventar, de interagir, simplesmente porque não foi para falar de política que criei um blog. Já vivo questionando qual o papel de um amador num universo como a blogosfera, com profissionais altamente preparados trabalhando no blog ao lado. Questiono diariamente se o que faço aqui possui alguma serventia e se uma pseudo-análise esportiva da F-1 feita por mim é relevante para alguém. Imaginem então, o que eu posso dizer a respeito de algo que me incomoda muito, o jogo de interesses feroz dos bastidores, olhando para tudo de longe? Não será nada que valha a pena.

Por isso eu prefiro me calar. Querem acompanhar as ameaças de Ferrari e CIA contra Mosley e sua trupe? Os endereços dos sites especializados estão aí ao lado. Blogs de profissionais da área também não faltam e os tais sites os divulgam. Só abro a boca para concordar contigo, menino Hamilton.

É chato, é muito chato.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Fórmula-Racha?

Unilateralismo. Essa parece ter sido a palavra-chave escolhida por alguns personagens do circo da F-1 para demonstrar insatisfação com os rumos tomados pela categoria. Declarações em tom ameaçador têm ditado o ritmo do noticiário durante essa semana.

A Ferrari se reuniu ontem em Maranello e decretou: se o limite orçamentário passar, a equipe não disputa o mundial de 2010. A tática dos italianos é antiga e conhecida. Consiste em pressionar os opositores acenando para a torcida a possibilidade de a F-1 perder sua equipe mais famosa e tradicional. A notícia da possível saída da Ferrai do mundial foi recebida com ceticismo na Europa. Pouca gente acredita que a real retirada se concretize, até porque o debate em torno do teto ainda está no começo.

Até porque o problema não é o teto em si. A grande cláusula que incomoda as equipes é a que cria duas categoria dentro de uma só. Recapitulando, na semana passada a FIA divulgou um rascunho do regulamento para o ano que vem, e nele consta o tal teto orçamentário de 40 milhões de libras. Até aí os problemas não são tão graves. Limitação de custos é algo que há muito tempo é aguardado na F-1. O problema é que a FIA instituiu duas Fórmulas-1, uma para quem adotar o teto (na prática, equipes pequenas e garageiros sem ajuda de montadoras, caso único na F-1 de hoje, a Williams) e outra para quem quiser romper o limite de gastos (maioria esmagadora do grid de hoje, as montadoras que possuem grana para torrar).

Para os competidores que admitirem disputar o campeonato de 2010 sob o teto, várias regalias seriam permitidas, como uso de motores sem limitação de giros, testes ilimitados em túneis de vento e introdução de apêndices móveis, entre outras. Para quem puder e quiser trabalhar acima do teto, o desenvolvimento do carros ficaria praticamente como hoje, engessado, com motores congelados e testes rigorosamente diminuídos. Ou seja, a F-1 viraria duas e a união entre as equipes estaria em risco.

Sob tudo isso há o reincidente pano de fundo político que permeia a F-1. As sucessivas mudanças e a falta de solidez da F-1 a médio prazo se dão porque quem dirige a categoria está menos preocupado com coerência e mais com poder político. Max Mosley, o todo-poderoso presidente da FIA está claramente engasgado com a união das equipes sob a Associação dos Times de Fórmula-1 (em inglês, FOTA), que se tornou um contraponto político importante o suficiente para incomodar, e o tal regulamento para o teto orçamentário é nada mais do que uma tentativa de minar a agremiação das equipes. Mosley sempre foi unilateral por natureza e jamais se contentou apenas em regular a F-1. Ditar as regras faz parte de seu estilo e ao criar condições vantajosas para alguns e onerosas para outros, Mosley consegue semear discordâncias entre as equipes, retirando da FOTA a coesão que lhe foi peculiar até aqui. Assim, Mosley fica mais perto de voltar a imperar sobre a F-1 como sempre fez.

O prazo para inscrição das equipes para o mundial de 2010 termina no próximo dia 29. Mas a discussão apenas está começando. E o racha entre equipes e FIA deixou de ser possibilidade para ser realidade.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Um Dia das Mães, Uma Não-Vitória

Como A1-Ring saiu do calendário em 2003 para nunca mais voltar, achei que jamais tocaria no assunto "Áustria-2002" de forma profunda, específica.

Mas eis que, em um dia das mães, como aquele de 2002, Rubens Barrichello é protagonista de uma não-vitória, como aquela de 2002.



Há 7 anos uma outra situação (um time claramente hierarquizado), uma outra equipe (Ferrari), um outro companheiro (Michael Schumacher, com ares de manda-chuva), o mesmo engenheiro-estrategista: Ross Brawn.

No último domingo, porém, o script parece ter se repetido em alguns pontos: Barrichello fez uma corrida segura, rápida, veloz, mas acabou em segundo. Domingo passado não foi na última curva, na última volta, a 50 metros da linha de chegada. Mas ficou no ar uma sensação de deja vu.

Você, leitor, acha que a sensação se justifica? Brawn foi novamente acometido pela síndrome do "vamos preservar nosso piloto mais bem colocado"? Ou simplesmente os engenheiros de Jenson Button "leram" a corrida de forma mais eficiente?

Dúvidas, muitas dúvidas. Os próximos dias e o comportamento da Brawn na próximas corridas nos dirão mais.

domingo, 10 de maio de 2009

Espanha - Results & Coments [Excepcionalmente Curto]

Seria o GP Espanha, finalmente, a vingança de Rubens Barrichello contra o blogueiro falastrão que finalmente queimaria a língua?

A resposta é quase.

Porque a corrida de Barrichello foi boa, porque o brasileiro foi rápido durante toda a prova e correu disputando a vitória segundo a segundo com Jenson Button. Mas Rubinho não fez o suficiente.

A fase de Button é excepcional.

Mas mesmo que vencesse, é bom que se diga, Rubinho não estaria se vingando de ninguém, pelo menos não nesse blog. Por que o que andou sendo contestado por aqui há alguns dias foi o Barrichello fora da pista. Dentro dela, são outros 500 e outra esfera de discussão.

Mas o fato é que Jenson Button fez uma corrida segura e a mudança de estratégia operada em sua corrida se mostrou tremendamente correta na dinâmica da prova espanhola. 41 X 27, diferença que deixa Barrichello, o único que parece ter condições de superá-lo, obrigado a virar o jogo. Por mais que pareça difícil.

Quanto ao resto da corrida, foi mais uma amostra da F-1-Brawn. Jogo de xadrez, sem contato, distante, frio, psicológico, higiênico. Ao estilo das melhores dobradinhas Schumacher-Barrichello.

O tempo é curto, por isso, vamos em tópicos:

- Falamos ainda do estilo Brawn de vencer corridas. Certo? Errado? Eficiente, me parece ser a resposta. Porque F-1 jamais foi kart, e enfrentamento corpo-a-corpo raramente fez parte da sintaxe da categoria. O que não deixa de ser irônico (e uma tecla na qual insisto em bater) é ver a categoria tão igual aos anos Schumacher, justamente no momento em que várias mudanças regulamentares foram introduzidas e quando a atual geração começava a se desapegar da lembrança do heptacampeão. São curiosas as voltas que esse mundo dá;

- Jenson Button gostou do papel de predador. O inglês vestiu a fantasia de caçador e se sentiu confortável nela. O inglês começa a pintar como uma figura felina, sempre à espreita, preparando o bote. Button começa a adquirir auto-estima e ares de piloto dominador. Começam a surgir na face de Jenson os traços do cara com mentalidade de predador.

Como que faz bem estar em um carro de ponta;

- Pra Barrichello foi quase, mais uma vez. A manutenção da estratégia de três paradas se revelou ineficiente. Difícil entrar no pantanoso terreno do mérito, mas Barrichello fez uma corrida boa. Rápido, sem esmorecer, mas não suficientemente veloz para superar o “plano B” do companheiro.

O necessário numa hora dessas e deixar a pose de presa e assumir-se como caçador, como Button parece já ter aprendido. Explicações depois da corrida já não fazem diferença;

- O que acontece com a Ferrari? Complicado responder tão depressa. Clássico é dizer: os anos 80 parecem ter voltado a assombrar o time italiano. Paixão rubra, clamor da torcida, história tradicional misturados à boa vontade do staff, mas com uma pitada de erros circenses. E, como todos os erros circenses, os da Ferrari são infantis.

Serão necessários mais 21 anos de fila?

quinta-feira, 7 de maio de 2009

[Informativo] Pequena Pausa

Alguns problemas de saúde me impediram de blogar durante a semana. E, infelizmente, compromissos familiares vão me ocupar até segunda-feira.

Não sei se é o caso de pedir desculpas aos leitores (alguém realmente liga para o que é escrito aqui?), mas faço questão de deixar claro que não me resta outra alternativa.

Boa corrida e bom fim de semana a todos!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sílvio Santos Vem Aí?

A FIA definiu: em 2010 o campeão será o piloto que vencer mais corridas. Ou seja, a federação ressuscitou a medida que já havia sido amplamente criticada em março, quando a FIA acenou com a proposta de implantar a medida para o campeonato desse ano.

Ainda é cedo, a regra ainda vai gerar muita discussão e até o início da temporada 2010 muita água ainda passará sob a ponte. Mas a insistência na regrinha maluca é surpreendente.

Enfim, não é preciso parar e discorrer longamente sobre tudo o que uma regra como essa representa e sobre como ela desconstrói toda a história dos campeonatos da F-1, rompendo um dos cânones da categoria, a regularidade.

Também não vou me repetir em dizer como a FIA/FOM anda desesperada para fazer da F-1 um show, uma overdose de emoção quase sempre mentirosa e artificial. Já falei disso em uma infinidade de posts e já estou enfadonhamente repetitivo.

Só não vou resistir a fazer uma crítica pequena: para comandar uma mega-evento-mundial como o campeonato de F-1 é exige-se, no mínimo, coerência. E isso anda faltando aos dois senhores que comandam o circo. Max Mosley e Bernie Ecclestone insistem em nortear a F-1 sem um plano de vôo. As medidas são tomadas e editadas sem uma séria reflexão e um debate maduro, apenas sob o calor da emoção e sob a intensa necessidade da afirmação da força política da FIA e da força econômica de Ecclestone. Os dois senhores imperam na F-1 como se fossem uma espécie de Sílvio Santos e como se a F-1 fosse um SBT. Não há planejamento, a programação é mudada a cada semana, mas o público continua fiel a programas tradicionais como o Chaves e o Chapolin.

Aliás, que personagens do circo fariam o papel de segurar o público diante de uma F-1-Baú da Felicidade? Uma equipe? Um piloto? Um sentimento? Uma fixação somente explicada por complexos estudos psicológico-freudianos?

Vai saber... Mas talvez agora o SBT possa direcionar o estudo de seus telespectadores nos utilizando como cobaias. Afinal entre nós, fãs de corridas de F-1 e os acompanhantes do canal de Sílvio Santos não há diferenças. Não ligamos para mudanças esdrúxulas na rotina do nosso objeto de adoração. Só exigimos que ele continue a existir, mesmo que totalmente desfigurado.

domingo, 3 de maio de 2009

A Tentação de Fazer o Mais Fácil

Apesar de não ter me interessado muito quando soube da entrevista nas chamadas da Globo, parei para assistir ao Na Estrada, quadro do Esporte Espetacular comandado por Galvão Bueno. O convidado de hoje foi Rubens Barrichello.




Uma entrevista num tom intimista, com a presença da família, algo quase agradável. Quase se Rubinho não continuasse com a mania de se portar como vítima de uma terrível teoria da conspiração em que ele sempre é inocente.

Não é pancadaria gratuita contra Barrichello. É apenas uma chamada à realidade.

Para começar, preciso dizer que eu e Rubinho nos aproximamos na superficialidade. Enquanto eu via o início da matéria, me escandalizei com a beleza e o luxo de seu sítio no interior do estado de São Paulo. “Não é ídolo mas fez a vida”, pensei, numa babaquice que me revoltou instantaneamente. Claro que sim, Rubinho usufrui de um excelente nível de vida. Ou eu queria que ele tivesse vergonha de ser rico? Claro que não, Barrichello tem o nível de vida que sua profissão lhe proporciona e, até onde se sabe, prosperou de forma decente e honesta. Justíssimo! Me desculpei intimamente pelo pensamento raso. Coisa de latinoamericano estigmatizado pela patrulha esquerdista que nos rodeia, especialmente no meio acadêmico. Gostaria então que Rubinho também fizesse uma reflexão mental de (pelo menos) duas passagens muito inapropriadas em sua fala:

- “Ele [Michael Schumacher] faria qualquer coisa para ser campeão. Eu faço quase tudo para ser campeão, mas não o que ele faria”.


Essa é clássica e talvez seja a grande diferença entre um piloto bom, caso de Rubinho, e um que se coloque acima da média, caso de Schumacher. O piloto acima da média tem mesmo de querer fazer tudo para ser campeão, e desestabilizar os companheiros de equipe está dentro do pacote. Ser intransigente a ponto de considerar-se o dono do mundo foi um traço de personalidade observado em muitos dos maiores pilotos da história. Ayrton Senna e Nelson Piquet foram mestres em fazer isso e são heróis. Schumacher é vilão, só por não ser brasileiro? Ou seria só por que sua intransigência emudeceu a exuberante capacidade de um brasileiro?

Seria interessante largar o maniqueísmo barato e partir para a realidade, Mr. Rubens. Não há cordeiros na F-1, só lobos. Se deseja um ambiente lúdico e inocente, o mais recomendado é um campeonato de Gran Turismo na categoria infantil. Assim como é muito fácil para Galvão Bueno fazer uma reportagem em tom de absolvição, também é mais cômodo ser a eterna vítima. É mais cômodo, mas nem sempre mais condizente com a realidade.

- “Quando eles [Ralf e Michael Schumacher, em 2003] perderam a mãe e eu fiquei atrás dos dois em Ímola, vi eles disputando uma freada, batendo rodas (...) aquilo pra mim não caiu muito bem”.

Eu não sei qual é o nível cultural de Rubens Barrichello. Desconheço o que ele tem como verdade em seu entendimento de mundo. Mas me parece algo universal e comum a todos os seres humanos que julgar uma pessoa por um ato isolado é um tremendo pecado. Não no sentido cristão-apostólico do ato, mas sim no da honestidade necessária a toda relação interpessoal.

É possível rotular os Schumacher como frios e insensíveis tendo como base os acontecimentos de Ímola-03? Sim e não. Depende do objetivo de quem fala.

Alicia Klein, nas páginas 230 e 231 de A Máquina, me ajuda a explicar:

O episódio da morte da mãe de Schumacher, em 20 de abril de 2003, reforça a idéia de robô de coração gelado. A imagem do homem caloroso começava a se fixar no senso comum, até que a decisão – sua e do irmão Ralf – de disputar uma prova seguida à notícia do falecimento de Elisabeth Schumacher pôs tudo a perder. Em sinal de luto, Michael correu com uma faixa negra no braço e Ralf com o capacete pintado de preto.

Mas se ambos optaram por correr, isso não explicaria alguma coisa sobre a família? Rolf, o pai, separara-se da mulher seis anos antes para se casar com uma jovem senhora. "Meus pais se mataram de trabalhar dia e noite, durante a vida inteira", conta Michael. "Quando não precisaram mais e finalmente tiveram tempo para si, aí perceberam que na verdade não tinham absolutamente nada em comum". A partir daí, Elisabeth mergulhou de vez suas mágoas na bebida, falecendo em decorrência de uma cirrose hepática causada pelo alcoolismo. Afinal, quem pode julgar o que se passa na casa alheia, como cada um reage a determinadas situações, o que sente uma pessoa ao saber da morte de um ente querido? É certamente difícil compreender que Michael não só tenha participado daquele GP de San Marino, como o tenha vencido; sua formação cultural, nacional, emocional, familiar, entretanto, não pode ser colocada de lado para simples e superficialmente taxá-lo de insensível.

A reação da imprensa e de personalidades alemãs ao fato esclarece um pouco o comportamento desse povo. "Eu respeito a decisão. Claro que não foi fácil para eles tomá-la", revelou Rudi Voller, à época técnico da seleção de futebol da Alemanha. "Cada um deve ver por si. Agora uma coisa é certa: um piloto de Fórmula-1 tem de ser julgado por outros critérios. São pessoas excepcionais, que em uma situação excepcional se comportam de modo totalmente diverso da gente", argumentou o então presidente do Bayern de Munique e ídolo tedesco, Franz Beckenbauer. O periódico Suddeutsche Zeitung ressaltou: "o carro é um refúgio. O lugar de trabalho onde dominam as regras e a rotina, onde as pessoas se sentem bem em momentos difíceis". Frankfurter Allgemeine Zeitung: "Onde um piloto de F1 encontra sua tranqulidade? No carro de corrida. Eles fugiram, antes de serem confrontados com perguntas do tipo ‘como podem se concentrar?’ A participação dos irmãos mostrou onde um piloto se sente mais seguro em um dia tão horrível". O berlinense B.Z. engrossou o coro: "Os Schummies pareciam ter entrado no carro para fugir".


Ou seja, é muito fácil taxar os Schumacher’s de insensíveis por um fato como esse. Dependendo das intenções de que o faz, os irmãos alemães podem ganhar contornos de novos Hitler’s. É exagero, mas num caso desses é mais fácil exagerar do que se prender aos fatos.

É preciso tomar cuidado com a tentação do caminho mais fácil. Não sou advogado da família Schumacher nem odeio Rubinho a ponto de desclassificar tudo o que sai de sua boca. Só enxergo falta de responsabilidade da parte de Barrichello ao dar determinadas declarações. É preciso ser responsável e pesar as palavras antes de ir para frente de uma câmera da maior audiência do país. Cobro, intimamente, essa responsabilidade do William Bonner, do Cid Moreira ou do Galvão Bueno, quando esse se põe a usar eufemismos para relativizar o mau desempenho dos brasileiros e supervaloriza as vitórias. É preciso cuidado ao falar com milhões de pessoas via tela da tv. Especialmente quando o raciocínio usado possui a profundidade de um pires.

sábado, 2 de maio de 2009

[Informativo] Cara Nova

Como já deu pra reparar, o De Olho tá de visual novo. O escriba, no entanto, continua sendo o mesmo de sempre.

A mudança não tem como objetivo comemorar nenhuma efeméride. Bem, não necessariamente. Por uma tremenda coincidência essa reformulação de espaço ocorre no dia em que o blog comemora 11 meses de atividades oficiais. Mas foi um grande acaso, já pensava em mudar os ares do blog há semanas.

O antigo layout me incomodava principalmente por deixar o texto muito compactado, espremido. Nesse novo layout há mais espaço para o texto, para fotos e para vídeos. Bem mais funcional do que o antigo.

Espero que fique mais prático também para os gatos pingados que me lêem.

Sugestões são bem-vindas nos comentários!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O Dia de Hoje

O dia de hoje praticamente exige uma palavra. Ayrton Senna é um personagem sobre o qual todo mundo tem uma lembrança, uma passagem, um momento para recordar. O gigantismo de sua figura e de sua memória tornam Ayrton um personagem paradoxal e simultaneamente fácil e difícil.

Hoje completam-se 15 anos da morte de Senna, em San Marino, na Itália. Sua morte está debutando. Mais do que isso, em 2009 comemoram-se 25 anos do debut do próprio Ayrton, em 1984, na miúda Toleman em que o tricampeão estreou. Há 25 anos o garoto tímido e franzino começava a se transformar no campeão doentia de desesperadamente ávido pela vitória. E a F-1 ganharia seu personagem mais representativo.

Senna colecionou desafetos, comprou brigas, valeu-se da força política de seu nome em determinados momentos e foi traído pelo excesso de confiança em outros. Em 10 anos de F-1 teve tempo de ser perseguido por adversários, que viam nele um rival forte demais, sejam eles outros pilotos ou cartolas como o francês Jean-Marie Balestre, presidente da então FISA. Os boatos sobre sua suposta homossexualidade, levantados por Nelson Piquet aliados à inesquecível desclassificação no GP Japão de 1989, o tornaram figura com fama de vingador, que fez justiça com as próprias mãos em 1990. Curioso notar como o discurso sobre a ética foi abandonado para que aplausos se fizessem. O mundo parecia ter esquecido que a manobra de Ayrton sobre Alain Prost em Suzuka-90 tinha sinais de premeditação. Somente figuras que realmente têm noção de sua força conseguem virar a opinião comum a seu favor. Além de seu espetacular talento dentro das pistas, Ayrton tinha plena consciência da reverberação que seus atos causariam fora dela.

Mas Senna foi muito maior do que sua picuinha com Prost. Foi o cara do GP Mônaco-84, que chegou em 2º tendo partido na 13ª posição, sob chuva. Foi o timoneiro que navegou a Lotus no encharcado circuito de Estoril em 85 para vencer sua primeira corrida com autoridade. Foi o guerreiro que não se deu por vencido quando o motor de sua McLaren apagou na largada de Suzuka-88 e foi buscar a vitória e o primeiro título. Foi o herói do povo que completou o GP Brasil com apenas uma marcha de seu carro funcionando em 1991. Foi o gênio habilidoso que segurou a Williams de outro mundo de Nigel Mansell em Mônaco-92 e deu uma inigualável aula de pilotagem sob chuva em Donington Park em 1993. São inúmeras as lembranças da genialidade de Ayrton. São poucos (eu me arrisco a dizer que é nenhum) os pilotos que possuem uma gama tão vasta de memórias tão fantásticas.

Tudo isso, catapultado pelo ardor midiático, fez de Senna um ícone de grandeza maior do que a própria F-1, em determinados momentos. Pode-se acusar o exagero imagético de várias formas. O que não dá pra fazer é negar que seu objeto de adoração era, realmente, uma figura diferenciada. Senna observou isso naquela que considero sua melhor frase: “não há marketing que sustente um blefe”. Por mais que a massificação de sua imagem o tenha lançado ao panteão dos ídolos que não podem ser criticados, Ayrton Senna realmente pertenceu à classe dos maiores homens em suas respectivas vocações. Senna nasceu para guiar e o fez com maestria. Não há marketing que sustente um blefe – disse o tricampeão. Ayrton, de fato, foi genial.

Senna, óbvio, não foi só perfeição. Foi humano, como a rixa com Prost deixou claro, e também caiu na vala da pirraça. A opinião pública o costuma isentar dessas lembranças. Talvez exista um motivo. Durante a semana misturei Senna, Che Guevara e Jesus Cristo num só balaio de gatos numa caixa de comentários do Cadernos. Difícil encontrar figuras com histórias tão coincidentes de perseguição, glória e ocaso. Perseguidos, os três fizeram de seus perseguidores os algozes. Vencedores, encontraram a glória de serem reconhecidos pela massa idólatra. No fim, tiveram sua expiação transformada em calvário público para entrarem, infalivelmente, na história, e não mais serem esquecidos como símbolos de positividade.

Talvez sua maior vitória tenha sido a garantia da vida de seus pares nos anos subseqüentes ao seu desaparecimento. Sua morte ao vivo causou um impacto que tornou a segurança uma obsessão dos organizadores da F-1. E há 15 anos piloto algum morre numa pista de F-1. Engana-se quem pensa que a categoria não assistiu a acidentes tão graves quanto os de Senna. Alguns até foram piores. Mas o máximo que se viu foram pilotos momentaneamente desacordados.

Ayrton Senna, sobretudo, exprimiu a imagem do cara que nunca desistiu. Sedento por vitórias, sonhou com a Williams que lhe fez inveja em 1992 e 1993. Quando, finalmente, conseguiu sentar-se no cockpit azul não completou uma só corrida. Morreu no carro em que sonhava estar e deixou a F-1 órfã de um herói absoluto. Nesse, e em muitos outros papéis, Senna continua insubstituível. É um cara grande demais para ser analisado por um blogueiro amador de 20 anos. Da mesma forma, é grande demais para que um dia como esse passe em branco.