A hecatombe catarinense é perfeitamente justificável. Nos últimos dias choveu no estado um volume de água 4 vezes superior ao esperado para todo o mês de novembro. Em lugar algum do mundo, seja esse mundo o “desenvolvido” ou o “em desenvolvimento”, uma quantidade de água dessas cairia sem causar prejuízos. O que acontece em cidades como Blumenau, quase que totalmente submersa, teria de acontecer, independente da infra-estrutura da cidade. Simplesmente pelo fato de que a quantidade de água foi excessivamente exorbitante. Claro, sujeira nas ruas, assoreamento dos rios, tudo isso deve ter contribuído para o desastre, mas a enchente aconteceria, independente desses fatores.
Enquanto isso, aqui no meu modesto Espírito Santo, também chove de forma insistente desde a última sexta-feira. E não é porque esse blog diz que está "De Olho na F-1" em seu título que as impressões sobre o resto do mundo precisam ser ignoradas.
São quase 80 horas de chuva praticamente ininterrupta. E nesse tempo o caos se instalou nas principais cidades do estado. Em Vitória várias barreiras desabaram sobre casas e a defesa civil, abarrotada de chamados, não consegue atender a todas as ocorrências. Na Serra, a Lagoa de Carapebus subiu mais de 3 metros e ilhou os moradores do Balneário Carapebus. Em Vila Velha, cidade mais populosa do estado, os alagamentos se espalham com a velocidade de uma endemia. As principais avenidas da cidade, pólo turístico que guarda o monumento mais visitado do Espírito Santo, o Convento da Penha, se transformaram em rios, situação se repetiu na capital do estado.
A diferença entre a enchente catarinense e a capixaba é uma só: lá ela era inevitável. Aqui ela poderia, no mínimo ser amenizada. A chuva que cai no Espírito Santo é insistente, mas não forte. As pancadas mais violentas foram registradas apenas na sexta-feira. De lá pra cá a chuva cai de forma muito menos intensa. Qualquer cidade com um sistema de escoamento decente conseguiria atravessar esse período com menos problemas. Ao contrário, a região metropolitana de Vitória pára a cada chuvisco, se transformando numa São Paulo em escala muito reduzida. Bastam 5 minutos de chuva. Pára o trânsito, pára a vida do cidadão, que (sempre vale lembrar) trabalha quase 5 meses para encher o bolso do poder público e não recebe esse investimento de volta.
Na maior cara-de-pau, o governo do estado anda fazendo campanha para incentivar a emissão de nota fiscal. Parece piada.
Pra quem não conhece Vitória e suas artimanhas, vai uma pequena explicação: várias áreas da minúscula capital do Espírito Santo são frutos de aterros e outras tantas estão centímetros abaixo do nível do mar. Regiões como as da Avenida Maruípe e Leitão da Silva necessitam de um sistema de bombeamento para retirar a água das galerias e enviá-la até o mar. O grande problema é que essa bombas há muito estão defasadas e não dão conta de fazer o transporte de toda a água. Quando coincidem chuva forte e maré cheia, é caos na certa.
O resultado são os alagamentos faraônicos e os congestionamentos quilométricos. Na sexta-feira houve quem levasse 3 horas para cortar a Avenida Reta da Penha, com risíveis 2,5km de extensão. A situação mais grave, porém é a de Vila Velha, cidade localizada do outro lado da baía de Vitória. Com seus 400 mil habitantes e muitos cursos d’água convertidos em valões, a cidade amarga grandes prejuízos a cada chuva. Por se tratar de um município essencialmente plano, Vila Velha sofre com alagamentos que tomam bairros inteiros.
Lá, os efeitos da chuva são sentidos com mais força. Na Avenida Carlos Lindenberg, uma das principais ligações com a capital Vitória, a água atinge os joelhos de quem se arrisca a trafegar a pé. E a cidade continua parada.
Continua parada porque o poder público se omite, pra variar. A cada chuva, a cada sereno, a região de Vitória pára. A chuva dos últimos dias tem sido insistente, é inegável. Mas não tem sido forte. Soluções simples, como limpeza adequada de bueiros e valões, facilitariam a situação. A omissão de quem existe para garantir a boa ordem é assustadora. Na própria Carlos Lindenberg um senhor se enfiou num buraco com água até a cintura, tudo para sinalizar aos motoristas que naquele ponto, trafegar é impossível. Sinalização do trânsito é responsabilidade da prefeitura, mas é o cidadão quem precisa, mais uma vez, tomar a iniciativa de resolver o que os senhores (ir)responsáveis que lidam com as cidades não resolvem.
Continua parada porque o poder público se omite, pra variar. A cada chuva, a cada sereno, a região de Vitória pára. A chuva dos últimos dias tem sido insistente, é inegável. Mas não tem sido forte. Soluções simples, como limpeza adequada de bueiros e valões, facilitariam a situação. A omissão de quem existe para garantir a boa ordem é assustadora. Na própria Carlos Lindenberg um senhor se enfiou num buraco com água até a cintura, tudo para sinalizar aos motoristas que naquele ponto, trafegar é impossível. Sinalização do trânsito é responsabilidade da prefeitura, mas é o cidadão quem precisa, mais uma vez, tomar a iniciativa de resolver o que os senhores (ir)responsáveis que lidam com as cidades não resolvem.
Um poder público que contribui para que a sociedade contabilize prejuízos dá um tiro em sua própria existência. Um poder público que não se mexe, permanece imóvel enquanto o cidadão perde casa e móveis, trai sua própria essência. Mas só reclamar da paralisia alheia é muito cômodo.
É esse o poder público que a gente legitima em cada eleição. O discurso é ridiculamente repetitivo, mas válido: num país em que se troca um voto por um saco de cimento, muita gente ainda vai ver esse cimento derreter na próxima enxurrada.
3 comentários:
Realmente, esse período é bastante complicado...
Logo logo começa aqui em São Paulo também...
Jah começou Felipão.
Vc viu como ficou a cidade, com as chuvas de ontem?
E eu dei uma sorte danada pq não choveu onde eu trabalho, só fiquei sabendo qdo cheguei em casa.
Aki tb dias obscuros virão...
É galera, nada que se compare ao que acontece em SC. Assustador o que se vê por lá...
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