segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Há o que Comemorar?

No último fim de semana a Ferrari comemorou seu 16º campeonato de construtores. A equipe italiana é, de longe, a mais vitoriosa da F-1, mas sabe que deve esse número expressivo de títulos ao alemão Michael Schumacher. Dos 16 mundiais conquistados pelo cavalinho rampante, 6 deles tiveram Schumacher como ponto de apoio.

A festa da equipe foi realizada na pista particular de Mugello, como acontece tradicionalmente. Mecânicos, pilotos e o alto comando da equipe estiveram presentes, com direito a uma exibição de Kimi Raikkonen e Felipe Massa. No mais, foram brincadeiras do presidente Luca di Montezemolo e as tradicionais fotos de toda a escuderia reunida, como uma grande família italiana.

No meio disto tudo, fica a pergunta: há o que comemorar? Por um lado sim, a Ferrari conquistou o mundial de times, o objetivo maior da equipe desde sempre. Mas a própria equipe, a imprensa e os torcedores sabem que a Ferrari não foi 100% em 2008. Pelo contrário, esteve longe disso. A equipe técnica falhou, a equipe de estrategistas falhou e a dupla de pilotos falhou. Foram erros no atacado, em série, do alto comando até os mecânicos, passando pelas estrelas Raikkonen e Massa. Felipe se redimiu dos erros de Melbourne e Sepang no decorrer da temporada, mas as patacoadas do restante do time puxaram o desempenho do brasileiro para baixo.

No domingo do GP Brasil, dia 2, esse blog ganhou uma postagem que tocava num ponto: por mais que a Ferrari tenha cometido erros inadmissíveis, Massa não perdeu o título por culpa (exclusiva) de seu time. Sem o erro da Malásia (que até onde se sabe foi pessoal e não mecânico), Massa teria vencido o mundial desse ano por 8 pontos de vantagem. É chato tocar nesse ponto mais um vez, mas essa é uma questão que merece uma revisão. Acompanhe:

- Com os 8 pontos que viriam no GP Malásia, Massa terminaria o GP Brasil com 105. Hamilton, que encerrou a corrida em Sepang em 5º, ficaria com o 6º posto. Na tabela de classificação o inglês encerraria com 97, ao invés dos 98 conquistados ao fim do GP Brasil.

Resultado: terminar o ano como vice-campeão dependeu, basicamente, apenas do próprio Felipe Massa. Eu pensava assim até o último fim de semana, quando me ocorreu um outro pensamento: “Hamilton também cometeu seus erros, até mais graves do que os de Massa. Por que foi campeão, afinal?”

É aí que entra a responsabilidade de uma equipe.

A McLaren jamais cometeu erros tão gritantes como os da Ferrari. O erros mais importantes dos quais me lembro foram os de Hockenheim, gp em que a McLaren vacilou ao não chamar Hamilton para o pit stop quando o Safety Car entrou na pista; e Monza, quando a equipe calçou o carro de Hamilton com pneus intermediários numa pista que secava rapidamente, forçando o inglês a fazer nova parada. Fora isso, a McLaren forneceu carro e táticas de corrida impecáveis a Hamilton. O inglês não sofreu um só abandono por falha mecânica em 2008, ao contrário de Massa que quebrou a três voltas do fim em Hugaroring. O inglês não sofreu um probleminha de reabastecimento, enquanto Massa foi vítima de falhas em Montreal e Cingapura. O inglês teve uma equipe que realmente merecia o mundial de construtores pela grande evolução demonstrada durante a temporada, nada a ver com a Ferrari, que começou o ano com um carro expressivamente superior e cedeu ao assédio das rivais.

Com o carro do início do ano, a equipe italiana era franca favorita ao mundial de pilotos e de construtores. Raikkonen e Massa davam a impressão de que 2008 seria um ano de briga doméstica dentro da equipe vermelha, ao estilo Schumacher. A equipe, porém, sofreu com a evolução da McLaren no meio do ano e não construiu uma boa vantagem na tabela. Para completar o inferno vermelho, faltou uma liderança que chamasse a responsabilidade para si. Stefano Domenicali é um chefe de equipe que não inspira a confiança de um Ron Dennis ou de um Jean Todt. Não mesmo.

Resumo da obra: a comemoração em Mugello foi murcha. Não há muito o que comemorar. A derrota no mundial de pilotos foi sentida e foi vergonhosa porque, no conjunto da obra, o F-2008 foi superior ao MP4/23. Era carro para a Ferrari fazer campeão, vice, e vencer o campeonato de times.

Eis a razão do sorriso amarelo de Montezemolo ao lado de Domenicali.

6 comentários:

Felipão disse...

Mas uma coisa é certa...

Se com esse monte de problemas conquistaram os construtores, imagine o que não está por vir no ano que vem...

Marcos Antonio disse...

A Ferrari se importa muito mais com o título de construtores do que o de pilotos.por isso a comemoração.Meio sem graça,mas importante pra eles.

Anônimo disse...

Me lembro que no começo do ano todos os comentaristas achavam que o campeonato seria uma briga particular entre Massa e Raikkonen. Corridas como a da Espanha foram chatas e tiveram dobradinha da Ferrari. Depois as coisas começaram a embolar e a Ferrari se perdeu.

Deram muito mole. Tinham todas as chances de fazer o piloto campeão, mas fraquejaram.

Anônimo disse...

Clap!Clap!Clap!Clap!Clap!

(pra vc Fábio não para a Ferrari)

Mais um grande post, realmente não vejo nada que a Ferrari deva comemorar. Ela só ganhou o titulo de construtores pq Kovalainen não honrou o cockpit q usou este ano. É para se pensar...

Diego Maulana disse...

A Ferrari fez uma péssima temporada como time, mas teve um piloto que foi acima da média. Por isso ficou de bom tamanho só o campeonato de construtores, até porque o Kimi também não honrou a posição de campeão do mundo que tinha.
Belo post Fábio.

http://nomundodavelocidade.blogspot.com/

Fábio Andrade disse...

Felipão: se o F-2009 conseguir ser o sucesso que o F-2008 foi no início do ano, a Ferrari deve fazer o piloto campeão.

Será?;

Marcos: sempre foi assim. Mas perder um título de pilotos da forma que foi, é traumático.

Será que eles só ligavam pro mundial de pilotos quando o Schumacher estava por lá?;

Sérgio: me lembro disso. O consenso era de que Kimi e Felipe duelariam entre si. Doce ilusão!;

Paulo: muito obrigado, meu irmão! E vc está corretíssimo, se o Kovalainen tivesse honrado o carro que tem, a McLaren teria feito os dois campeonatos;

Diego: valeu, mlk! E olhando por esse lado do Raikkonen, o mundial de times saiu mesmo de bom tamanho para a Ferrari.

Valeu pelos comentários, galera!