E o que foi visto na noite de domingo no Marina Bay Circuit foi quase que conclusivo: a Ferrari trabalhou duro para fazer do F-2008 um carro definitivamente melhor do que o MP4/23. O favoritismo da McLaren foi esmagado por um bólido que não demonstrou problemas no aquecimento de seus pneus e que se saiu muito bem na pista travada de Cingapura. Massa largou bem e em 14 voltas abriu uma distância de mais de 4 segundos para Hamilton. Enquanto isso, Raikkonen fazia voltas de classificação no 3º lugar, possivelmente pronto para atormentar a vida do piloto da McLaren. A Ferrari certamente planejava uma dobradinha que lhe daria a liderança total no campeonato de pilotos e no de construtores.
Mas aí Piquetzinho bateu (e eu andei lendo algumas teorias arrepiantes sobre o acidente do Nelsinho. Há quem diga que tudo foi armado pela brilhante mente de Flávio Briatore para que Alonso surgisse na ponta. Eu prefiro acreditar que ninguém seria tão sórdido a esse ponto, apesar de já ter visto muita coisa errada na F-1). E a batida de Nelsinho promoveu a entrada maciça nos boxes. E na hora do pit stop toda a vantagem que a equipe de engenheiros construiu, que os pilotos testaram e “retestaram” e que estava dando a Massa a liderança do campeonato, tudo isso foi jogado fora por uma decisão precipitada do chefe dos mecânicos.
Não foi a primeira vez, como o leitor já deve saber. Tomara que tenha sido a última. Não só por Massa ser brasileiro, mas para que não tenhamos de ver uma equipe de tantos títulos como a Ferrari nivelando o campeonato por baixo. Porque foi isso que a mangueirada ferrarista conseguiu: entregar o campeonato a Hamilton, que a partir de agora não precisará mais se arriscar. O inglês poderá optar por ser conservador, se resignar em chegar ao pódio e não mais nos brindar com seu estilo agressivo, por vezes em excesso, é verdade, mas deliciosamente agressivo. Não mais teremos a perspectiva de um duelo entre Massa e Hamilton, que eu tenho certeza, não hesitariam em levar uma disputa de posição às últimas conseqüências se estivessem separados por poucos no campeonato. A não ser que aconteça algum problema com o inglês nas próximas provas, Massa continuará a ser o leão que sempre tem sido em 2008 porque não tem muito a perder. Mas Lewis pode se conformar em ser um gato doméstico, dócil, afável e sempre a espera da recompensa de seu dono.
E ainda há um dado: Raikkonen passa a ter um papel fundamental na vida de Massa daqui até o fim do ano. Afinal, o brasileiro precisa, além de ganhar, de que Hamilton chegue em 3º ou pior posição em todas as corridas que restam. Trocando em miúdos, a Ferrari precisa de três dobradinhas em três corridas se quiser ter um piloto campeão. Desempenho total, 100%, full time. E pelo que nós temos visto, Raikkonen dificilmente poderá proporcionar essa ajuda a Massa.
O fim de ano que poderia ser de uma interessante guerra mental e psicológica será o fim de ano de um piloto que não precisa se pôr em risco, contra outro que terá de se esfalfar se quiser ser o campeão. Foi essa a pior conseqüência do circo no pit stop vermelho em Cingapura. E com um dado alarmante: a bagunça interna da Ferrari parece sinalizar uma volta no tempo. É um arrepio frio que já deve ter passado pela espinha de Massa e Raikkonen. O elenco técnico do time italiano parece estar voltando aos anos 80, quando a equipe simplesmente perdeu uma década graças a sua própria desorganização.
4 comentários:
haha !! eu andei falando por aí da tal 'armação' do Briatore, claro que foi tudo em tom de brincadeira e irônia !!!!!!!!!
O interessante nessa sua análise é pensarmos como um esporte onde são investidos milhões de dólares, onde as equipes possuem fábricas gigantescas com diversos galpões para fazer chassis, motor e etc, onde a máquina em si é fundamental, enfim, tudo isso pode ser perdido por um erro humano! E às vezes o "humano" no caso nem é o piloto!
Automobilismo pode ser tudo, menos esporte individual.
E eu prefiro manter o otimismo de achar que o campeonato ainda está aberto.
Será que o Hamilton vai mudar seu estilo de guiar mesmo? É uma boa questão. Eu acho que ele vai manter a faca nos dentes.
Tudo pode acontecer, ainda mais porque a chuva pode aparecer também!
Abraços xará! Saiba que és um dos grandes, talvez o maior, parceiro atual do Grid GP!
Fábio (Campos)
Puxa, complicou demais, realmente...
E essa batida do Piquet... realmente rendeu...
Mas não foi nada planejado, ainda mais que os caras estão no pé pelo rádio...
Net: também estive lendo algo a respeito da batida do Nelsinho no Blog do Ico. Preferi acreditar que tudo não passa de uma viagem do pessoal. Segue o link, se quiseres ver com os próprios olhos (redundantemente):
http://blog-do-ico.blogspot.com/2008/09/eu-duvido-mas-plausvel.html
Grid: Individual um esporte que conta com uma equipe que envolve, diretamente, 100, 200 pessoas? (e acho que minha estimativa está subestimada)
Concordo contigo. O automobilismo é tudo menos individual. Aliás, mesmo que o piloto fosse (numa loucura hipotética) o responsável por todo o preparo do carro (apenas imagine, mesmo que seja impossível) o desempenho não depende só dele. Depende da infinidade de peças (como uma biela que atormentou a vida de certa equipe) que compõem o carro.
Cara, o campeonato está aberto, claro. Sete pontos não constituem uma vantagem absolutamente segura. Mas se Hamilton aprendeu alguma coisa com o ano de 2007 ele deve diminuiur o ritmo daqui pra frente.
Felipão: por essa do rádio e por outras que eu duvido da teoria do Briatore e etc. Mas, do jeito que as coisas rolam debaixo dos panos, não seria estranho se um dia alguém desenterrasse essa história. Infelizmente, a gente sabe que os bastidores da F-1 nem sempre são limpos.
Galera, não imaginam a satisfação que tenho com tanta gente boa me visitando e comentando aqui. Como disse certa vez, é extremamente encorajador para um cara que faz um trabalho hiper-despretencioso.
Fábio, ser parceiro de um espaço tão top-line como o Grid GP só pode me deixar feliz. Eu agradeço imensamente.
Abraços a todos!
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