domingo, 19 de outubro de 2008

Noite do Pijama/China - Results & Coments [5]

Sobre o favoritismo, o jogo de equipe e a pressão

A derrota imprimida por Lewis Hamilton à Ferrari foi sonora e difícil de ser engolida: “ganhei onde meus principais rivais deveriam se apresentar com facilidade” – pode se gabar o inglês. Comprova (mais uma vez) que fazer previsões nessa temporada em que favoritismos caem a todo instante é mais arriscado do que investir na bolsa de valores.

Em nenhum (nenhunzinho mesmo!) momento desse fim de semana a Ferrari foi superior à McLaren. Olhando para a sexta-feira, agora que as atividades em Xangai foram encerradas, vê-se que os desempenhos da McLaren não eram blefes. A superioridade dos ingleses era real e absoluta. Num circuito com longas e retas e que exige eficiência aerodinâmica (pontos em que a equipe italiana se achava superior), a Ferrari sofreu uma derrota incontestável. É de chamar atenção.

Hamilton fez a pole, fez a volta mais rápida de prova e venceu. Foi mais rápido em todos os setores da pista de Xangai. Na parte de alta, de média, de baixa, em todos os trechos o MP4/23 moeu o F-2008. Não houve alternativa à equipe de Maranello senão se contentar com o 2º lugar.


Posição que foi de Raikkonen durante a maior parte da prova e que, atendendo à expectativa do mundo inteiro, foi trocada com Massa. Não há, pelo menos da parte do editor deste blog, nenhum problema com jogo de equipe. Na visão do escriba dessa página, é algo que já foi excessivamente discutido e sobre o qual já se chegou a uma conclusão: é necessário às equipes e, particularmente nesse caso, mantém o campeonato vivo até Interlagos. Não houve nada de perverso, a Ferrari não é a “grande vilã do automobilismo” e o mundo não vai acabar. A equipe apenas brigou para manter suas (difíceis) chances de título acesas.

Muita gente vai questionar: por que a equipe não fez a inversão na parada de boxes? Porque não havia como. Na primeira metade da corrida Raikkonen precisava pelo menos tentar se aproximar de Hamilton. Ele tentou, andou no limite e abriu mais de 6 segundos de vantagem para Massa, que não conseguiu acompanhar seu ritmo em nenhum momento. Para que a mudança acontecesse na parada, os ferraristas precisariam de menos distância na pista, senão a coisa seria por demais acintosa: a equipe teria de segurar Raikkonen por muito mais tempo do que o necessário e a manobra “daria na vista.”

Por isso optou-se por fazer a inversão de posições na pista, nas voltas finais. E o teatro protagonizado por Massa e Raikkonen foi um primor. Numa volta Raikkonen perdia 4 décimos, na outra ganhava 2 e assim aconteceu a aproximação de Felipe. No retão Massa encosta, tira de lado, Raikkonen levanta o pé e Massa leva o segundo lugar. A Ferrari evita que Hamilton abra mais 4 pontos, minimiza a diferença e, dentro de uma improvável esfera de possibilidades, ainda sonha com o título de pilotos no Brasil.

Claro, tudo isso é muito normal se você leitor, assim como eu, for uma pessoa que vive no mundo real. E eu espero que viva. Porque se você, que lê este texto, ainda pensa que o mundo é um próspero corpo celeste onde todo mundo é bonzinho e que quem obriga um competidor a deixar o outro passar é malvado, sinto muito, a vida não é bela. Relações, sejam elas pessoais, profissionais, econômicas e, por que não, esportivas, vão além desse maniqueísmo piegas e romântico. O esporte de hoje, assim como a maioria das atividades, gira em torno de uma só palavra: interesse. À Ferrari, que paga (e muito bem) o salário de Kimi e Felipe, interessava manter o brasileiro o mais próximo possível de Hamilton. A equipe fez valer seu interesse. Fim de papo!

De toda forma, a coisa não ficou bonita para Massa. O piloto da Ferrari chegará a seu país numa situação desconfortável: 7 pontos atrás do líder, precisando vencer e torcer para que Hamilton cruze a linha de chegada, na melhor das hipóteses, em 6º. Improbabilíssimo!

E ainda há um agravante: Massa estará diante de sua apaixonada tocida. E eu peço ao leitor que a palavra apaixonada seja explorada em todas as suas nuances: positiva e negativamente. O brasileiro é sedento por um campeão na F-1 há anos, já cansou de se frustrar com Barrichello e costuma se deixar levar pelo calor do momento. A pressão vai ser enorme, o clamor pela vitória será insuportável e aí veremos como Felipe se sai quando confrontado com um clima tão inóspito.

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