quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Contradição Capital

Max Mosley, o presidente da FIA, falou em tom alarmista sobre o futuro da F-1 no período de crise que se desenha para os próximos tempos. Segundo o dirigente, os altos custos da categoria (que por si só já eram um grande problema para equipes não financiadas por grandes montadoras) podem comprometer a existência de pelo menos três escuderias do “fim do grid”.

Mosley espera que a FOTA, a associação formada pelas 10 equipes que integram o campeonato mundial, sugira ações visando o corte de custos imediato. Se a associação não apresentar idéias com essa finalidade a própria FIA irá tomar atitudes como limitar o desenvolvimento dos motores, por exemplo. De acordo com o dirigente, a crise mundial pode agravar ainda mais a situação.

O presidente tem razão ao chamar atenção de todos para o grande problema que é o custo de manter uma equipe de F-1 funcionando. Tudo bem para uma McLaren (parceira da Mercedes-Benz) ou uma Ferrari (propriedade do Grupo Fiat), que possuem grandes montadoras que financiam suas atividades e dispõem de enorme experiência de décadas nesse ramo. Mas e uma Force India, o que faz para sobreviver? "Tudo depende, no momento, de bilionários, milionários não servem mais” – disse Mosley, numa frase que causa arrepios na espinha de qualquer fã da velocidade e da F-1. Hoje a categoria congrega apenas 20 carros, longe dos quase 30 de uma década e meia atrás. A quantidade de equipes que desapareceu nesse período é assustadora, mas só agora a preocupação começa a se intensificar.

A F-1 não é mais atrativa a grupos independentes. Para entrar na categoria e obter sucesso é necessário, além da montanha de dinheiro que poucos dispõem, konw-how especializado, e isso os grandes times possuem e não abrem mão. Exemplos de equipes com muita grana e que não conseguem sair do lugar são vários, o mais notório dos dias de hoje é a Honda. A equipe tem toda o capital que a montadora japonesa lhe oferece, mas continua ocupando os últimos lugares do grid. A Honda, aliás, esteve envolvida no processo que culminou na falência da Super Aguri, equipe de Aguri Suzuki que era mantida em parceria com a montadora nipônica. O “time-cliente” estava conseguindo bons resultados, melhores do que os da equipe “oficial”, e caminhava para terminar 2008 em boa posição no campeonato de construtores, tendo em vista sua estrutura modesta. Mas um calote do patrocinador somado ao corte da verba fornecida pela Honda levaram a equipe a se retirar da competição.

Até mesmo grandes grupos encontram dificuldades no terreno arenoso que é a F-1. Anos atrás a Ford comprou a Stewart, que passou a se chamar Jaguar. Depois dos insucessos em série e do gasto faraônico que lhe trazia nenhum retorno, a montadora se retirou da competição. Atenção, leitor: estamos falando de uma das empresas mais poderosas do mundo!

Nessa perspectiva, a regra que proíbe a existência dos tais times-clientes pode ser um tiro no próprio pé. Equipes como a Toro Rosso, que exibe ótimos resultados para um carro médio, dependem do financiamento e do fornecimento de peças de equipes mais bem estruturadas para sobreviver. Se, a partir de 2010, a existência desse tipo de vínculo for vetada, como é a intenção, o futuro de times tão simpáticos como a STR estará em risco. E o perigo não se limita somente a equipes jovens. A vovó Williams, de tantas glórias no passado, apresentou um prejuízo de US$ 88 milhões em dois anos. A equipe multicampeã de Frank Williams não fabrica os próprios motores, apenas os compra da Toyota. Pode ter sua permanência na F-1 ameaçada.

Reduzir os riscos, portanto, é fundamental para a continuidade da categoria máxima do automobilismo. Mas há um dado curioso a se notar: ao mesmo tempo em que precisa cortar gastos, a F-1 tem cada vez mais fome por dinheiro. Reduzir custos é necessário, mas dispensar corridas com grande significado como o GP em Silverstone, simplesmente porque o valor pago pelos proprietários da pista é baixo, é uma tendência irritante da F-1. Ontem anunciou-se o corte do vínculo com o GP Montreal, que há anos não dá lucro, mas tem história pra contar. No lugar da pista canadense entra o GP Abu Dhabi, financiado pelos petrodólares dos sheiks ávidos por posarem de playboys. Teremos mais uma pista tilkenizada, que se seguir a lógica, deve resultar numa corrida morna. Isso em detrimento de um dos gp’s mais tradicionais da F-1 atual, que sempre reservava emoções e tinha muita história pra contar.

Pra continuar a existir a F-1 corta custos, mas quer cada vez mais dinheiro pra continuar a existir.

Dá pra entender?

2 comentários:

Felipe Maciel disse...

Parece que nem quando o assunto é dinheiro Ecclestone e Mosley falam a mesma língua...

Fábio Andrade disse...

Triste, né Maciel. Os caras que comandam o "circo" pouco estão ligando para o passado dessa competição fabulosa. Jogar a história no lixo é um ato que, cedo ou tarde, vai cobrar sua conta.

E o pior é que quem certamente vai sofrer somos nós, os fãs da F-1.