domingo, 26 de outubro de 2008

Especial: 2008 sai da vida para entrar na história

No próximo domingo, a essa altura do dia, a Fórmula-1 já conhecerá o nome do campeão desse inusitado ano de 2008. Um ano que teve 7 vencedores diferentes, 3 deles conquistando suas respectivas primeiras vitórias: Heikki Kovalainen ganhou em Hungaroring (uma trivialidade pra quem pilota uma McLaren) e Robert Kubica, com a BMW, venceu em Montreal, mas quem produziu a maior façanha do ano foi Sebastian Vettel, com a Toro Rosso, em Monza.

A temporada que se encerra no próximo domingo em Interlagos deixará suas marcas na história. Não é papo-clichê-de-blogueiro, é constatação. Se 2007, com seu escândalo de espionagem, com o racha dentro da McLaren e com a perda do título para o azarão Raikkonen, jamais será esquecido, 2008 também tem suas razões para ser lembrado por muito tempo, a começar pelos dados citados no 1º parágrafo: 7 pilotos venceram corridas nesse ano, o que comprova a tese que essa é uma das temporadas mais imprevisíveis dos últimos anos. Além disso, pelo menos 3 dessas vitórias são de pilotos apontados como expoentes da próxima geração de campeões, a exceção, talvez, de Kovalainen, que ainda não mostrou a que veio. Kubica e Vettel, que já chamavam a atenção do público mesmo antes de estrearem como vencedores, são os caras que, certamente, vão “aposentar” Alonso, Massa, Raikkonen e CIA (não cito Hamilton nessa turma de “aposentáveis” porque o inglês tem quase a mesma idade de Robert e Sebastian). Por essas, e algumas outras, 2008 merecerá citação no futuro: foi nesse ano que brilhou pela primeira vez a estrela de dois futuros campeões.

Assistir ao nascimento de talentos tão interessantes é um alento depois dos “anos-Schumacher.” Nada contra o alemão, pelo contrário, não escondo de ninguém minha idolatria pelo queixudo. O grande negócio é que durante o domínio do heptacampeão na F-1, os jovens talentos não conseguiam espaço para aparecer. A dobradinha Schumi-Ferrari foi tão unânime (em termos de resultados), que não ofereceu espaço à renovação. Durante anos foi escasso o número de pilotos que chegaram à sua primeira vitória, dada a previsibilidade das corridas. De 2006 pra cá, no entanto, a situação mudou de figura. Ainda que ano passado apenas Hamilton tenha debutado no lugar mais alto do pódio, os novatos já começavam a incomodar. Em 2008, mesmo com a briga pelo título aberta a vários pilotos até o fizinho da temporada, os garotos-prodígio aproveitaram as mancadas da equipes grandes para aparecer.

Mancada, aliás, será a marca de 2008, assim como foi também a de 2007. Ano passado as mais evidentes foram, claro, as de Lewis Hamilton em seu desastrado final de ano. Esse ano, porém, será difícil apontar um erro só. Equipes e pilotos ditos de ponta pareceram ter contraído uma endemia de erros. Se ano passado coube à McLaren o papel de boba da corte por não controlar o temperamento de seus pilotos, esse ano o “troféu-mico” fica com a Ferrari e com seus comandos e comandados: dois motores quebrados em Albert Park; a troca tardia de pneus que acarretou uma punição a Raikkonen e a errada escolha de calçados intermediários para Massa em Mônaco, fato que se repetiu em Silverstone; a quebra do motor de Felipe na Hungria; a mangueirada em Cingapura, gp que também contou com o abandono de Kimi; a sensação estranha de Massa em Sepang; enfim, um sem-número de situações evitáveis aconteceu dentro da escuderia italiana. Todos os erros estão cobrando a conta no mundial de pilotos e a equipe que era apontada como favorita desde a pré-temporada termina o ano assistindo o reinado de sua maior rival no campeonato com o favoritismo de Hamilton.

A McLaren também errou, lógico, mas as falhas estiveram dentro de um limite mínimo. Enquanto equipe, o time de Woking não cometeu falhas graves. Erros e atitudes precipitadas ficaram por conta do favorito ao título, Lewis Hamilton: as cortadas de chicane em Magny-Cours e Spa e a patuscada no pit stop de Montreal são as mais lembradas.

Quem também, assina seu nome no livro de causos de 2008 é Fernando Alonso. Descartado no início do ano na fraca Renault, o bicampeão recuperou a confiança, voltou a vencer com autoridade e renovou a esperança de que a Renault possa voltar a crescer em 2009.

Destaques do lado negativo: Kimi Raikkonen é o maior deles. O atual campeão esteve irreconhecível em 2008. Depois de vencer o mundial em 2007, Raikkonen apagou, e provou ser um piloto ímpar. Não é piada, é fato. Kimi vai bem em anos ímpares e some em anos pares. Acompanhe: em 2003 Raikkonen disputou o título com Schumacher até o último gp, no Japão, e perdeu o campeonato por míseros 2 pontos. Em 2004, sua McLaren não foi páreo para os carros da Ferrari, e o finlandês só venceu uma corrida, o GP Bélgica. Em 2005 novo período de luzes, e Raikkonen voltou a ter bons resultados. A confiabilidade do carro, entretanto, era um problema, e as constantes quebras lhe fizeram dar adeus ao título, que ficou com Alonso. Em 2006, novas trevas, nenhuma vitória e um jejum que só seria quebrado em 2007 no GP Austrália. No final do ano o finlandês, na Ferrari, finalmente sagrava-se campeão do mundo. E 2008 foi isso que a gente viu: apenas duas vitórias e sem chance de ser campeão.

Um caso a se tratar com uma numeróloga.

Por fim, os dois pilotos que polarizaram a briga: Lewis Hamilton e Felipe Massa fizeram por merecer o favoritismo que passaram a possuir desde o meio da temporada. Tudo bem, não são pilotos suficientemente geniais para lembrar Prost, Senna, Piquet e Mansell, como queriam alguns. Claro que não. São jovens, frutos de uma geração que teve de substituir com extrema rapidez o sumiço de um campeão único e dominador como Schumacher. Seria natural que esse retorno ao equilíbrio vivido pela F-1 fosse um pouco acidentado. Independente dos erros e da imaturidade de ambos, Hamilton e Massa nos proporcionaram um campeonato divertido, senão na pista, pelo menos na tabela. Os dois ainda precisam de lapidação, mas a evolução já começa a aparecer, especialmente em Felipe Massa. O brasileiro conseguiu reverter a imagem de piloto afoito que o perseguia desde seu ano de estréia na Sauber, e impediu que Raikkonen se tornasse a figura principal na Ferrari. Hamilton, por sua vez, continua o mesmo de 2007, e isso não necessariamente é algo ruim. O inglês ainda precisa controlar o ímpeto e o ego, mas já se apresenta como um piloto mais constante. É a consistência mais regular do que a dos ferraristas que, afinal, oferece a Lewis a vantagem de 7 pontos sobre Massa em Interlagos.

Domingo que vem, a essa hora, o ano de 2008 já terá “morrido” para a F-1. Assim que o GP Brasil acabar os olhares se voltarão para 2009 e para as intensas mudanças que a categoria sofrerá. Qualquer que seja o resultado, a história estará feita.

6 comentários:

Marcos Antonio disse...

exceltente resumo,exatamente da maneira que eu penso.Só acho que o título se for do Hamilton,será muito também por mérito das cagadas da Ferrari com Felipe Massa.

Felipão disse...

CLAP CLAP CLAP

Excelente, Fabio...

Ainda bem que o único escândalo ficou por conta do Mosley em desventuras sexuais...

Anônimo disse...

Bela análise e retrospectiva da temporada, um ano realmente interessante e agitado, realmente melhor do que o ano passado, pois teve um equilíbrio envolvendo mais pilotos no geral mesmo que só dois ao contrário dos três chegassem na última prova com chances de título.

O GP Brasil vai ser mais uma vez uma grande atração.

kimi_cris disse...

E Hamilton vai voltar a "borrar a taça", acho que sim...

Grande Abraço!

Kimi_Cris

Grid GP disse...

Belo resumo, bela análise. Também acho que se tivermos que escolher uma marca para esse ano de 2008, seria justamente o aparecimento de novos pilotos como vencedores de um GP de Fórmula 1.

O detalhe interessante é: tudo isso aconteceu exatamente no ano em que o controle de tração foi embora da F1. Será coincidência? Acho que não.

Abraços, xará. Peço perdão pela longa ausência, vou tentar aparecer mais!

Fábio

Fábio Andrade disse...

Marcos: É rapaz, a Ferrari cometeu erros além da conta mesmo. Só faço uma observação: é meio perigoso cair na armadilha de apontar só a equipe como a grande vilã dessa possível perda de título. Alguns jornais adotaram essa tendência, como o "A Gazeta", o mais influente daqui de Vitória. É bom lembrar que Massa deixou 8 pontos pra trás na rodada de Sepang;

Felipão: agora que vc lembrou que eu percebi que o escândalo sexual do Mosleu passou batido. Mas tenho uma desculpa, foi um caso extra-pista, hehe!;

Net: esse é um dado curioso desse ano: venceram mais pilotos, mas a quantidade de postulantes ao título caiu;

Cris: a torcida por aqui é justamente essa;

Grid: estive ruminando esse texto na tarde de hoje e pensei nisso. O Controle de Tração foi abolido e os caras demonstraram uma boa adaptação, pelo menos a um 1º momento. Mas em Monza, por exemplo, Hamilton e Raikkonen não passaram do Q2 debaixo daquele chuvaréu. Seria assim em outros tempos com o TC?;

Senhores, as visitas e os comentários sempre são recebidos com muita satisafação por aqui, como sempre. Como já disse em um outro comentário abaixo, as palavras de feras como vocês são a grande motivação. Obrigado!