sexta-feira, 13 de junho de 2008

Metamorfose Opinativa

Bernie Ecclestone, chefe da área comercial da F-1, enviou uma comunicado aos times hoje condenando qualquer espécie de pressão pela saída de Max Mosley da presidência da FIA. Depois de alguns donos de equipes se manifestarem favoráveis a renúnicia do atual presidente (que se viu envolvido em um escândalo sexual com contornos sadomasoquistas), Ecclestone tentou pôr tudo em panos quentes: segundo ele, tudo o que os dirigentes querem é a formatação de um novo Pacto de Concórdia, um código de regras que rege a F-1, assinado em consenso pelas equipes.

A mudança de opinião de Ecclestone é muito curiosa. Semana passada, quando Mosley recebeu o voto de confiança da FIA para continuar no comando da entidade, Ecclestone reagiu de forma verborrágica: chegou a dizer que Max deveria se afastar da FIA. Para Bernie, a permanência de Mosley a frente da organização que regula o automobilismo no mundo poderia emperrar negociações com países que estivessem dispostos a receber corridas de F-1, em especial os países árabes, para onde a F-1 apontou sua artilharia em busca de um público que, entre outras coisas, não fosse muito exigente quanto a ocorrencia de ultrapassagens durante uma corrida, um público que estivesse satisfeito em pagar uma fortuna e simplesmente ver os 20 carros dando voltas no circuito. E Bernie não estava sozinho. Cartolas de escuderias importantes como Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari, também pediram a saída de Max. Também voltaram atrás e mudaram de opinião pouco depois.


A razão para a metamorfose dos dirigentes é uma só: ter Mosley a frente da FIA pode ser ruim para a categoria, mas tê-lo fora pode ser pior. Mosley é um Daví que tenta a todo custo impedir que os Golias representados pelas montadoras (as mais interessadas em sua saída) tomem conta da Fórmula-1 de vez. Isso aconteceu no passado e os efeitos foram devastadores para o esporte, já que quando as fábricas cansaram de brincar de carrinho, se retiraram da competição, deixando a F-1 a beira da extinção. A categoria foi salva por "garageiros" como Frank Williams e Bruce McLaren, pilotos-mecânicos-engenheiros que deram seus jeitos para continuar a tocar as equipes e dar continuidade a F-1. A existência de equipes nas maõs de donos independentes das montadoras é vital para a manutenção da Fórmula-1 como a conhecemos hoje, uma vez que times como Williams e McLaren não existem como fabricantes de automóveis de passeio, ao contário de Renault e Honda por exemplo. As equipes que contam com o sobrenome do fundador, (são o símbolo do sucesso dos garageiros e eram algo comum a 15 anos atrás. Hoje se tornaram peças raras de se ver, tal o domínio intenso que as montadoras já exercem) sobrevivem apenas da F-1 e se vierem a sofrer alguma espécie de crise financeira vão continuar na categoria mesmo que aos trancos. Já as montadoras, ao menor sinal de crise, pularão fora imediatamente, por não dependerem do lucro da F-1 para existir.


É aí que entram os interesses de gente como Berine Ecclestone, que anda se esforçando para apagar o incêndio que as montadoras tentam armar. Ecclestone lucra horrores com a atual configuração da F-1. Não quer correr o risco de ver a categoria nas mãos de montadoras que certamente iriam cortar suas asinhas.

Nenhum comentário: