domingo, 29 de junho de 2008

Especial de Domingo

Sensacional replay, duas décadas depois

McLaren 2007 e Williams 1986. Troque as peças, faça as adaptações necessárias. É basicamente o mesmo ambiente, com alguma ou outra variação. São coincidências que evidenciam fatores que desempatam a relação entre o piloto e o time: nacionalidade, simpatia do chefe e um certo efeito-Mansell que ligam Piquet a Alonso.

No ano passado a inglesa McLaren apresentou sua nova dupla de pilotos. Chegava a equipe, trazendo consigo o número 1, o bicampeão Fernando Alonso, encarregado de levar o time de volta ao topo da F-1. O outro integrante era um inglês, Lewis Hamilton, um garoto de impressionante velocidade nas categoria anteriores a Fórmula-1, festejado como a nova esperança britânica nas pistas.

Na McLaren do início do ano passado ninguém podia imaginar Hamilton andando mais que Alonso ou disputando vitória com o espanhol. O que se esperava era que Ron Dennis utilizasse a tática inteligente, a de definir com clareza a hierarquia dentro da equipe. Mas Dennis preferiu a burra estratégia da igualdade e deu aos dois pilotos condições iguais na pista. O que poderia ser uma cordial relação de apredizado descambou para uma explosão de ira do espanhol. Alonso, que esperava ser tratado como um reizinho, se ressentiu, estourou um escândalo de espionagem e a McLaren se perdeu em sua briga interna, entregando um título garantido ao azarão Kimi Raikkonen.

Na Williams de 86 uma situação parecida: Mansell era um piloto que, embora não fosse novato na F-1 como Hamilton, carregava a esperança da torcida inglesa nas costas. Rápido, arrojado e destemido, Mansell era capaz de fazer uma façanha monumental no começo da corrida mas perdê-la por acenar para a torcida na última volta, e se desconcentrar. Apesar de tudo era o que a Inglaterra, o país mais tradicional no automobilismo mundial, tinha de melhor na F-1. Como companheiro do inglês Mansell na inglesa Williams, Nelson Piquet (assim como Alonso na McLaren em 2007, bicampeão), era o piloto contratado a peso de ouro para ser o guia da equipe rumo a novas conquistas no campeonato. Tinha na gaveta um contrato que lhe garantia as “mordomias” de 1º piloto do time de Frank Williams. Mas...

Piquet não contava com o acidente de carro sofrido pelo chefão Frank. Sem o dono dando as cartas na casa, Patrick Head comandava a equipe e parecia não estar muito sintonizado com Piquet. Head não teve pulso nem para controlar a situação de litígio da dupla de pilotos nem para corrigir o comportamento dos mecânicos (ingleses), que claramente preferiam trabalhar para que Mansell fosse campeão ao invés de Piquet. Entre brigas internas e a agonia de Frank no hospital, a favorita Williams entregava o título ao azarão Alain Prost, da McLaren.

Avance no tempo, e chegue a 2007. Hamilton aparece na F-1 como o novato-sensação. Venceu quatro corridas, duas delas como um veterano: segurou Alonso durante todas as 73 voltas em Indianápolis e guiou como um campeão no encharcado circuito de Fuji. O garoto conquistou o coração da equipe e do patrão, que começou a dar sinais de que preferia o novato. Mas quando Hamilton se viu pressionado e obrigado a vencer para levar a taça, cometeu erros, arriscou corridas confortáveis e jogou o campeonato fora.



Em 1987, na Williams, Piquet não estava disposto a brincar de gato e rato com Mansell. Sabendo que o rival copiava os seus acertos, Piquet passou a não revela-los à equipe. Apenas seus mecânicos mais chegados ficavam sabendo das configurações do carro. Mansell, inexperiente e mau acertador de carros, teria de se virar para dar uma condição rápida ao carro. Nelson também agiu no terreno psicológico: para tirar Mansell do sério, Piquet se valeu da fraca força mental de Nigel. Chamava a esposa do bigodudo de “a mais feia do paddock” e sempre tinha um comentário ácido para as situações em que Mansell não completava as corridas. Não se sabe com certeza se foi por conta das anedotas agressivas de Piquet, mas naquele ano o brasileiro sagrou-se tricampeão de Fórmula-1, enquanto Mansell teve que se contentar com o vice.


20 anos depois, em 2007, Alonso se valeu de artimanhas parecidas para tentar fazer o campeonato pender para o seu lado: sabendo que Hamilton não tinha grande experiência em desenvolver o carro e que o inglês copiava o seu acerto, Alonso não mais permitia que suas configurações fossem passadas a Hamilton. O espanhol, porém não conseguiu levar a taça em 2007 e não teve clima para permanecer na McLaren no ano seguinte. Depois que o chefe Ron Dennis disse que “a equipe correu contra Alonso”, o bicampeão achou melhor arrumar as malas e voltar para a Renault. Talvez esse seja o único ponto onde as histórias não se equivalem: enquanto Piquet se despediu da Williams como campeão em 1987, Alonso saiu da McLaren em 2007 sem nada a comemorar.

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