segunda-feira, 7 de julho de 2008

Vídeo da Semana



A corrida de ontem em Silverstone foi histórica. Uma pilotagem consistente de Lewis Hamilton (que finalmente venceu em casa), um 3º lugar heróico de Rubens Barrichello (com o fraco carro da Honda, fez 6 ultrapassagens na 1ª volta), uma corrida cheia de alternativas que certamente entrará para o hall das grandes exibições de talento dos 20 malucos que pilotam os F-1.


Mas Silverstone guarda em suas curvas e retas histórias não menos brilhantes e gloriosas. No vídeo acima estamos em 1991. A temporada estava bipolarizada: de um lado o bicampeão Ayrton Senna com sua McLaren. De outro o leão inglês Nigel Mansell em sua segunda passagem pela Williams. O carro de Mr. Frank era pouca coisa superior a McLaren, e já começava a desenvolver o uso da suspensão ativa, que revolucionou a disputa nas pistas na década de 90. Mas Mansell era Mansell, e com quebras ou batidas em corridas confortáveis ia (de novo) entregando o título aos rivais.


Mas a despeito de tudo isso o leão chegou em Silverstone querendo vencer. Para quem não sabe, a Grã-Bretanha é o berço da F-1 e um dos países que mais incentiva o automobilismo. Os britânicos, apaixonados por carros e velocidade, não tinham um piloto campeão na F-1 desde James Hunt, em 1976. Mansell era a esperança dos súditos da rainha e já havia batido na trave diversas vezes. Arrojado, Nigel era o piloto que encarnou com perfeição a gíria "win or wall" (em tradução ao pé da letra, vitória ou muro). Esse jeito aguerrido de pilotagem fez de Mansell uma espécie de Hamilton da época: seus compatriotas estavam hipnotizados pela sua maneira agressiva de pilotar.


Também vale lembrar que Mansell, de bigodões e jeito bonachão, era uma figura inusitada. Não tinhas grandes desavenças com seus rivais (a exceção de Nelson Piquet, com quem viveu um período de guerra na sua 1ª passagem pela Williams) e acabava por se tornar um cara "gente boa", querido por quase todo mundo no paddock. No final de 1992, quando foi (finalmente) campeão e anunciou sua saída da F-1, recebeu declarações lisonjeiras de Ayrton Senna: "acredito que a Fórmula-1 sentirá bastante a sua falta, porque não pode prescindir de campeões como ele". O carisma de Mansell contribuia ainda mais para a euforia britânica em Silverstone.


O leão não decepcionou a torcida. Fez a pole no sábado e venceu com autoridade no domingo, repetindo os anos de 86 e 87. O autódromo explodiu num frisson poucas vezes visto na F-1. A vitória naquele momento reduzia um pouco a grande diferença que Senna conseguira abrir na tabela de pilotos. E Ayrton protagonizou com Mansell uma das cenas mais curiosas da história da Fórmula-1 (essa que o vídeo acima retrata). O brasileiro ficou sem gasolina na última volta do GP, mas como estava uma volta a frente do restante dos pilotos, ficou com o 4º lugar assegurado. Enquanto Mansell fazia sua "volta da vitória", Senna caminhava em direção aos boxes. Quando Nigel chegou ao ponto onde Senna caminhava, parou a Williams. O brasileiro não se fez de rogado: pegou uma carona na carenagem do bólido do inglês. Um fiscal de prova ainda tentou retirar Senna do carro (dados os riscos de Ayrton escorregar e sofrer algum tipo acidente), mas Senna lhe deu um "chega pra lá". Foram os dois, juntos, rumo ao pit lane de Silverstone.


O vídeo é o retrato de um tempo que não existe mais na F-1. Não que os pilotos fossem melhores amigos naquela época. Mais havia espaço para um relacionamento minimamente civilizado. A cena, improvisada, porém simpática, refletiu o respeito e o clima de cordialidade da F-1 naquele ano. A disputa pelo título foi limpa, sem fechadas em chicanes ou batidas na 1ª curva.

E há um dado: depois do episódio acima ficou proibido que alguém se sente na carenagem dos bólidos. Nem precisava. Com a quantidade de adereços aerodinâmicos de hoje, ninguém se arriscaria a colocar o popô ali.

Nenhum comentário: