quinta-feira, 31 de julho de 2008

A mesma praça, outro jardim: Hungria 2007

Foi na Hungria, ano passado, que o racha existente dentro de equipe McLaren se tornou público em toda sua gravidade. Quer se lembrar? Acompanhe:


Foi no sábado, durante o Q3, última etapa da classificação para a corrida. No momento de fazer a última troca de pneus para tentar a última volta rápida, Fernando Alonso fica parado no box da equipe McLaren, mesmo já tendo recebido autorização para seguir. As imagens são curiosas: os mecânicos (todos de mãos levantadas, num sinal de que já haviam terminado o trabalho de troca de pneus) se entreolham enquanto Alonso continua parado. Atrás do espanhol, esperando vaga para fazer seu pit stop, estava Lewis Hamilton.

A cena havia sido programada por Alonso para impedir Hamilton de fazer sua volta rápida. O espanhol ficou obstruindo o box da McLaren com o objetivo de atrasar a volta de Hamilton a pista e fazer com que o inglês não pudesse abrir sua volta rápida. Alonso conseguiu o que queria.

A confusão da classificação no gp húngaro tem uma trama um tanto complexa: o leitor deve se lembrar que Alonso foi contratado pela McLaren a toque de caixa, trazendo para equipe alguns patrocinadores, e que o espanhol esperava ter as regalias de 1º piloto no time de Ron Dennis. É bom lembrar também que o bicampeão se considerava o fiel da balança que trouxe a McLaren de volta pra briga com a Ferrari, o cara que trouxe "os 6 ou 7 décimos" que faziam a disputa do campeonato estar tão equilibrada àquela altura.


Lembrando disso, vamos aos fatos: na McLaren em 2007 havia uma alternancia na ordem de saída para o Q3. Em cada gp, um dos dois pilotos tinha o direito de sair dos boxes na frente e fazer a volta primeiro do que o outro. No GP Hungria, era a vez de Alonso. Faltando poucos minutos para o fim do treino, Hamilton estava posicionado a frente de Alonso na pista. Foi o momento em que Ron Dennis interviu, e numa conversa de rádio deu ordens para que Hamilton permitisse a ultrapassagem de Alonso. O inglês se irritou com a ordem, não permitiu a aproximação de Alonso e disparou, via rádio, um recadinho para o chefe: "fuck you!"

A partir dái o que se viu foi o show de Alonso. O espanhol (que fez valer seu sangue latino fervente) respondeu à insobordinação de Hamilton com a mesma moeda. Fez pirraça no pit lane húngaro e impediu que Hamilton abrisse nova volta. Depois, partiu calmamente para cravar a pole position do GP Hungria.

Mas (sempre há um "mas" nesses casos) Alonso não se deu tão bem. As imagens (televisionadas, expondo para o mundo o estado de guerra dentro da equipe. Se cobrisse virava circo, se cercasse virava hospício) de Alonso parado, impedindo Hamilton de continuar seu treino foram interpretadas pela FIA como "atitude anti-desportiva". O espanhol perdeu 5 posições no grid e a pole caiu no colo do segundo colocado. E quem era o segundo? Olha a foto do cidadão aí:

Na Ferrari, o clima era muito menos bélico, mas não totalmente confortável. Massa ficou fora do Q3 por (adivinhem) um erro da equipe: Felipe ficou sem combustível durante sua segunda tentativa de volta no Q2 e teve de contentar com o 14º lugar. Raikkonen fez o 4º tempo, mas acabou subindo para 3º depois da punição imposta a Alonso.

Se no sábado o treino foi marcado por emoções fortes, a corrida no domingo foi, como de costume na Hungria, chatíssima. Hamilton liderou a prova de ponta a ponta e não deu chances ao rivais. Sofreu uma pequena pressão de Raikkonen no fim, mas nada suficiente para causar preocupações. Alonso foi 4º e Massa (vítima da fila indiana húngara) chegou em 13º.

Depois da corrida o Ron Dennis deu uma declaração curiosa: "era mais fácil controlar Senna e Prost", disse o dirigente, fazendo alusão aquela que talvez foi a maior rivalidade da história da Fórmula-1 e que ocorreu também dentro da equipe McLaren. Tal como na briga entre Senna e Prost (depois de fechar Senna na chicane em Suzuka, provocar uma batida e sagrar-se tricampeão, Prost não tinha mais o apoio da equipe e saiu da McLaren), Alonso se viu sem clima na equipe. Depois do episódio em Hungaroring, ficou claro para a F-1 que a saída do espanhol da McLaren era só questão de tempo.

Nenhum comentário: