sexta-feira, 13 de março de 2009

Uma Semana às Avessas

A semana que acaba trás consigo uma marca: a da surpresa. Na verdade, são duas as marcas dos 4 dias de testes no circuito espanhol de Barcelona: a da surpresa e a da reviravolta. Houve nesses dias uma constatação que promete alterar a geopolítica das forças das equipes nesse início de temporada: a McLaren parece não ter força para estar entre as favoritas e a Brawn, incógnita ambulante até a semana passada, dá sinais de que pode vir para lutar por vitórias.

Antes é sempre bom relembrar: testes de pré-temporada podem ser extremamente enganosos. Em condições normais eles costumam não dizer muito sobre o campeonato, por vários motivos. Um deles: o ano é longo, com 17 corridas e pistas com características singulares. Outro: há sempre o risco de vermos tremendos blefes da parte de equipes que querem apenas impressionar para atrair patrocinadores, e a Brawn se encaixa perfeitamente sob essa ótica. Mas o bom desempenho da equipe não tem cara de blefe, até por um motivo óbvio: os testes durante o ano foram rigidamente diminuídos e uma equipe que nasceu na semana passada não tem muito tempo a perder com pirotecnias.

Comecemos, então, pelo final... da lista de tempos. A McLaren dá pinta de não ter carro bom o suficiente para brigar por vitórias nesse início de campeonato. Desde os testes de janeiro a equipe de Woking já demonstrava algum despreparo para essa F-1 de tantas regras novas. Nessa semana em Barcelona o carro deu claros sinais de que, se não estiver escondendo o jogo para surpreender em Melbourne, Lewis Hamilton terá que trabalhar duro para conseguir desempenhos razoáveis. Uma bela oportunidade para descobrirmos se o garoto é tão bom em melhorar máquinas como é acelerá-las.

O MP4/24 da equipe inglesa emitiu um aviso inequívoco: Woking está encontrando sérias dificuldades, especialmente na área aerodinâmica traseira do carro. Durante os últimos testes a McLaren, vez por outra, aparecera com o aerofólio de 2008. Em Barcelona, na maioria das vezes, o time prateado treinou com o apêndice desse ano, menor, mais fino e mais alto, mas continuou a deixar claro que a estabilidade não é a maior virtude do carro que Woking produziu para 2009. Com poucos testes durante o ano, a equipe que iniciou a pré-temporada como favorita depois de fazer o piloto campeão no ano passado viaja para a Austrália sob olhares desconfiados do público, depois de fechar dias seguidos com tempos nada animadores nos testes de inverno.

Na outra ponta da tabela está a maior surpresa da pré-temporada. E ela tem nome e um sobrenome de peso: Brawn GP, a equipe que nasceu dos escombros da Honda, provocou enorme susto. Em 4 dias de testes o time recém-nascido liderou dois, um com Button e outro com Barrichello, que fez o melhor tempo da semana. Nos outros dois dias o time de Brackley também andou rápido, fazendo dessa semana a mais interessante da F-1 desde o último dia 2 de novembro.

Há o sério risco de que as palavras tortas desse blogueiro subestimem o fantástico desempenho da BGP. Porque o que a equipe fez nessa semana de testes foi avassalador. De um mero sonho de termos 20 carros alinhando na Austrália, a Brawn se converteu na maior surpresa que de uma pré-temporada nos últimos anos. Foi uma bomba de nêutrons jogada sem prévio aviso no mundo da F-1.

A BGP é a boa surpresa por uma série de razões e desrazões que a categoria máxima viveu nos últimos meses. Primeiro, porque a equipe emergiu de uma estrutura vacilante que, apesar de investir milhões na F-1 há anos, colheu apenas uma vitória enquanto equipe própria: a Honda. Depois que a montadora anunciou sua retirada da F-1 em dezembro, a pré-temporada tornou-se um enjoado jogo de especulações, com apenas uma certeza informal que permeava a expectativa: fosse quem fosse o comprador da estrutura do time japonês, o resultado seria um só: fim de grid em 2009. É lógico! Fim de grid era tudo com o que a nova Honda poderia sonhar porque era essa a herança que a montadora deixaria: um carro extremamente ruim em 2008 (e também em 2007). Mas, não há nada como uma mudança radical nas regras e uma mente notável para mudar um panorama.

Desde o meio do ano passado, a Honda já abandonara o projeto do seu carro. O bólido era tão lento que a equipe imaginava que seria mais apropriado focar no desenvolvimento do monoposto de 2009. Foi essa a chave para o nascimento fulgurante que Brawn viveu nessa semana. Já ciente das mudanças que o regulamento sofreria para esse ano e sendo, junto com outros líderes de várias escuderias, um dos integrantes do conselho que formulou as regras da “nova” F-1, Ross Brawn começou a projetar o carro com meses de antecedência. Foi o trabalho desse engenheiro formado na Inglaterra e notável por fazer parte de vários projetos vencedores na F-1 a principal razão para o êxito e o otimismo que rondam a atual BGP.

O resultado do esforço de Brawn não poderia ter causado melhores impressões: de segunda-feira pra cá times campeões como a McLaren caíram e a Brawn ascendeu à condição de favorita para a primeira corrida do ano, em Melbourne. Mesmo equipes que vinham bem como Toyota, BMW e até mesmo a Ferrari acusaram o golpe: “o carro da Brawn está inalcançável” – afirmou Felipe Massa, que ficou quase 2 segundos atrás do melhor tempo marcado por Rubens Barrichello na quinta-feira.

É cedo para afirmar que a Brawn vem para o campeonato. Em duas semanas os times podem aprontar pequenas inovações em seus carros. Mas a Brawn é, sem dúvidas, a melhor notícia da pré-temporada.

2 comentários:

Ovi disse...

Gran ''análisis'' la verdad que para resumir esta semana de tests, basat con decir '' hay mucha igualdad''

Fábio Andrade disse...

Sim sim, Ovi. Um campeonato equilibrado se desenha.