Genebra, Suíça. A Genebra dos tratados sobre convenções de guerra e direitos humanitários não traiu sua tradição em sediar tratados e entendimentos entre partes conflitantes. Genebra foi agora o lugar em que generais de exércitos montados sob alta tecnologia se encontraram para traçar as estratégias na incessante batalha contra o ditatorial Mosley.
Desnecessário dizer que política sempre fez parte da F-1, em menor ou maior grau dependendo da época. Peso e significados políticos do recente e cordial entendimento entre as equipes são uma das melhores novidades surgidas nesse campo nos últimos anos. A F-1 ganha com a FOTA (Associação dos Times de F-1) como esporte. As equipes agora possuem um poder muito mais reconhecido justamente porque suas propostas são apresentadas em grupo, com aprovação total de todos os membros que fazem o circo viajar o mundo.
Notável também é o efeito que essa paz declarada entre as equipes causa no outro lado da batalha. A FIA inquisitora que sempre fez o que quis sem dar satisfações agora possui um contraponto à altura. A federação que nunca se contetou apenas em regular a categoria mas sempre fez questão de governá-la com mãos de ferro será obrigada a repensar parte de suas ações. Equipes coesas significam menos espaço para a atuação imperial da entidade presidida por Max Mosley.
Há ainda um terceiro vetor que sentirá os efeitos da liga de equipes: Bernie Ecclestone, o chefão comercial da F-1 também terá de minimizar suas tentativas alegóricas de imprimir suas vontades no grito. A FOTA já tornou público que as equipes estão insatisfeitas com a atual divisão dos lucros e que vão querer uma reformulação do modelo. Ecclestone bem que tentou engessar a entidade que representa os times adquirindo parte da Honda e tendo direito a uma cadeira na FOTA, mas sua investida não teve sucesso.
Vai ter de sambar miudinho.
A reunião dessa semana em Genebra definiu pontos que as equipes desejam alterar na atual configuração da F-1. A proposta que mais chama a atenção é a da necessária mudança da tabela de classificação. O atual sistema, bolado para tentar frear Michael Schumacher depois da massacrante temporada do alemão em 2002, já se mostrou anacrônico, primeiro por não atingir a meta de barrar o heptacampeão, segundo por desvalorizar a vitória. A idéia da FOTA é valorizar o pódio de uma maneira geral, e dar mais peso a vitória. Oito carros continuariam a pontuar, mas os pontos seriam divididos de forma diferente. Se até o ano passado o sistema premiava os pilotos com 10 – 8 – 6 – 5 – 4 – 3 – 2 – 1, respectivamente do vencedor para o oitavo colocado, a idéia da FOTA é dar 12 pontos para o vitorioso, 9 para o segundo colocado e 7 para o terceiro, mantendo a pontuação do quarto colocado em diante.
A proposta da FOTA tenta corrigir um sistema que já nasceu errado. Retirar valor da vitória não foi lá uma decisão inteligente. Schumacher continuou ganhando, e tanto fez se o segundo marcasse 6, 8 ou 9,9 pontos. O alemão continuou a marcar 10 com a regularidade mítica que lhe foi peculiar. Ganhou dois títulos com o sistema novo.
As outras propostas apresentadas pelas equipes são um tanto quanto inúteis e artificiais, como é de costume na F-1 pós-moderna: divulgar para o público a quantidade exata de combustível que cada piloto carrega em seu tanque para que o entendimento da corrida torne-se mais fácil. O efeito prático da medida é altamente discutível, afinal, que graça tem saber em que volta o piloto X vai reabastecer? Aliás, já é possível saber disso hoje através de contas matemáticas feitas pelas equipes com base no tempo de volta do Q3. O espectador que possui uma noção mínima de F-1 identifica quem está pronto para uma ou duas paradas somente pelo tempo de volta na classificação e isso, vamos combinar, já é o suficiente.
A FOTA ainda pretende adotar outras papagaiadas como: divulgação de dados referentes ao desempenho dos pilotos (live timing who?); pontuação para o pit stop mais rápido da corrida (?); redução do tamanho das provas dos atuais 305 km para 250 e diminuição do limite de tempo das provas para 100 minutos, em detrimento dos 120 atuais.
As intenções da FOTA entrarão em votação no Conselho Mundial da FIA.
O burburinho de Genebra: Ross Brawn estava lá, discutindo a F-1 como integrante do circo.
As conclusões ficam por conta dos leitores,. Ainda sou fiel à promessa de não falar da ex-futura-eventual-hipotética-Honda enquanto não sair um comunicado oficial.
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6 comentários:
Que esses engravatados melhorem a situação das equipes na F1, pois levam desvantagem na divisão do bolo...
Ok fizeram boas propostas e um tanto de oba-oba...
Por quê não atacaram de frente um outro aspecto importante, tipo o preço abusivo da superlicenças?
Falar da parte esportiva tudo bem... Mas ir de frente com o Bernie de verdade, ah! Isto nem um deles fez e nem vai fazer.
Acho que a alteração no sistema de pontuação era necessário, mas a publicação do combustível que será usado na corrida acho que é desnecessário...
Grande Abraço!
Kimi_Cris
As mudanças eram necessárias, principalmente no sistema de pontuação. Acho que estão indo por um bom caminho.
As mudanças d apontuação e das corridas são bem legais,assim como maior interação dos pilotos com o público,onde alguns serão destinados a sessões de autográfos nos GPs. É uma ideia ótima, nos EUA isso é muito comum e isso acaba atraindo mais publico.Tem algumas propostas estapafúrdias, mas a média no geral foi boa.
Felipão: é, as equipes reclamaram, reclamaram, mas o Bernie já cortou as asinhas delas. Deve ficar tudo como está na área financeira, pelo menos por agora;
Groo: essa questão das superlicenças foi meio abafada. Parece que teve piloto que já pagou e a coisa ficou por isso mesmo.
Nem de longe existe mais aquele grupo de piloto unidos que peitavam a organização como há 30 anos;
Cris: tô contigo;
Maulana: era um desejo geral, enfim. Essa coisa de o 2º marcar 8 pontos impedia viradas na tabela de classificação;
Marcão: até acho legal essa coisa de priorizar o espetáculo, o show, mas acho que o foco precisa continuar a ser o que acontece na pista. E algumas intenções dessa reunião me parecem absurdas.
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