Antes é sempre bom relembrar: testes de pré-temporada podem ser extremamente enganosos. Em condições normais eles costumam não dizer muito sobre o campeonato, por vários motivos. Um deles: o ano é longo, com 17 corridas e pistas com características singulares. Outro: há sempre o risco de vermos tremendos blefes da parte de equipes que querem apenas impressionar para atrair patrocinadores, e a Brawn se encaixa perfeitamente sob essa ótica. Mas o bom desempenho da equipe não tem cara de blefe, até por um motivo óbvio: os testes durante o ano foram rigidamente diminuídos e uma equipe que nasceu na semana passada não tem muito tempo a perder com pirotecnias.
Comecemos, então, pelo final... da lista de tempos. A McLaren dá pinta de não ter carro bom o suficiente para brigar por vitórias nesse início de campeonato. Desde os testes de janeiro a equipe de Woking já demonstrava algum despreparo para essa F-1 de tantas regras novas. Nessa semana em Barcelona o carro deu claros sinais de que, se não estiver escondendo o jogo para surpreender em Melbourne, Lewis Hamilton terá que trabalhar duro para conseguir desempenhos razoáveis. Uma bela oportunidade para descobrirmos se o garoto é tão bom em melhorar máquinas como é acelerá-las.
O MP4/24 da equipe inglesa emitiu um aviso inequívoco: Woking está encontrando sérias dificuldades, especialmente na área aerodinâmica traseira do carro. Durante os últimos testes a McLaren, vez por outra, aparecera com o aerofólio de 2008. Em Barcelona, na maioria das vezes, o time prateado treinou com o apêndice desse ano, menor, mais fino e mais alto, mas continuou a deixar claro que a estabilidade não é a maior virtude do carro que Woking produziu para 2009. Com poucos testes durante o ano, a equipe que iniciou a pré-temporada como favorita depois de fazer o piloto campeão no ano passado viaja para a Austrália sob olhares desconfiados do público, depois de fechar dias seguidos com tempos nada animadores nos testes de inverno.
Na outra ponta da tabela está a maior surpresa da pré-temporada. E ela tem nome e um sobrenome de peso: Brawn GP, a equipe que nasceu dos escombros da Honda, provocou enorme susto. Em 4 dias de testes o time recém-nascido liderou dois, um com Button e outro com Barrichello, que fez o melhor tempo da semana. Nos outros dois dias o time de Brackley também andou rápido, fazendo dessa semana a mais interessante da F-1 desde o último dia 2 de novembro.
Há o sério risco de que as palavras tortas desse blogueiro subestimem o fantástico desempenho da BGP. Porque o que a equipe fez nessa semana de testes foi avassalador. De um mero sonho de termos 20 carros alinhando na Austrália, a Brawn se converteu na maior surpresa que de uma pré-temporada nos últimos anos. Foi uma bomba de nêutrons jogada sem prévio aviso no mundo da F-1.
A BGP é a boa surpresa por uma série de razões e desrazões que a categoria máxima viveu nos últimos meses. Primeiro, porque a equipe emergiu de uma estrutura vacilante que, apesar de investir milhões na F-1 há anos, colheu apenas uma vitória enquanto equipe própria: a Honda. Depois que a montadora anunciou sua retirada da F-1 em dezembro, a pré-temporada tornou-se um enjoado jogo de especulações, com apenas uma certeza informal que permeava a expectativa: fosse quem fosse o comprador da estrutura do time japonês, o resultado seria um só: fim de grid em 2009. É lógico! Fim de grid era tudo com o que a nova Honda poderia sonhar porque era essa a herança que a montadora deixaria: um carro extremamente ruim em 2008 (e também em 2007). Mas, não há nada como uma mudança radical nas regras e uma mente notável para mudar um panorama.
Desde o meio do ano passado, a Honda já abandonara o projeto do seu carro. O bólido era tão lento que a equipe imaginava que seria mais apropriado focar no desenvolvimento do monoposto de 2009. Foi essa a chave para o nascimento fulgurante que Brawn viveu nessa semana. Já ciente das mudanças que o regulamento sofreria para esse ano e sendo, junto com outros líderes de várias escuderias, um dos integrantes do conselho que formulou as regras da “nova” F-1, Ross Brawn começou a projetar o carro com meses de antecedência. Foi o trabalho desse engenheiro formado na Inglaterra e notável por fazer parte de vários projetos vencedores na F-1 a principal razão para o êxito e o otimismo que rondam a atual BGP.
O resultado do esforço de Brawn não poderia ter causado melhores impressões: de segunda-feira pra cá times campeões como a McLaren caíram e a Brawn ascendeu à condição de favorita para a primeira corrida do ano, em Melbourne. Mesmo equipes que vinham bem como Toyota, BMW e até mesmo a Ferrari acusaram o golpe: “o carro da Brawn está inalcançável” – afirmou Felipe Massa, que ficou quase 2 segundos atrás do melhor tempo marcado por Rubens Barrichello na quinta-feira.
É cedo para afirmar que a Brawn vem para o campeonato. Em duas semanas os times podem aprontar pequenas inovações em seus carros. Mas a Brawn é, sem dúvidas, a melhor notícia da pré-temporada.
2 comentários:
Gran ''análisis'' la verdad que para resumir esta semana de tests, basat con decir '' hay mucha igualdad''
Sim sim, Ovi. Um campeonato equilibrado se desenha.
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