quarta-feira, 25 de março de 2009

Pré-2009: O que vem do meio, te atinge?

Num ano que começaria já sob ambiente confuso, com ecos da crise financeira a assolar as montadoras e causarem a saída de uma delas, as novas regras instituídas à F-1 apenas ajudariam as equipes médias a sonhar com a possibilidade de evoluir e chegar mais perto das grandes. Foi com esse intuito que o regulamento técnico foi alterado: para democratizar a vitória e tirá-la da panelinha Ferrari-McLaren. A grande pergunta que se faz a poucos dias da abertura do mundial é: será que vai funcionar?

O leitor já deve estar sabendo: a crise exige que as equipes diminuam os gastos para que a categoria continue viável. Além disso, a influência da aerodinâmica nos carros, alma da F-1 moderna, foi reduzida, teoricamente com o objetivo de facilitar a aproximação e, por extensão, as ultrapassagens. O ambiente de mudanças produziu carros esquisitos e uma tremenda incerteza quanto à efetividade das medidas, que ainda só começaram a ser implantadas. Para os próximos anos são esperadas padronizações de várias partes do carro, além da adoção de um limite de gastos que torne a F-1 atrativa a um maior número de interessados. É, talvez, o fim da era de orçamentos com três dígitos na casa do milhões.

Antes de falar nas tais equipes médias, um esclarecimento: a Toyota, por exemplo, pode ser considerada uma equipe média? Uma equipe que gastou, estima-se, mais de 400 milhões de euros em 2008? Sim, para efeitos práticos, sim. O termo “média” será usado aqui para designar equipes que ficam no meio do grid. Será uma atribuição “geométrica” e não financeira.
__

A expectativa em torno dessas equipes ditas médias aumentou muito com a nova F-1 que estréia no próximo fim de semana. Entre as médias, muito se espera da BMW, a equipe que incomodou as grandes na primeira metade do ano passado, liderando os mundiais, tanto de construtores como de equipes. BMW que, aliás, cumpriu todas as metas de seu plano de desenvolvimento na F-1. Em 2007 a equipe esperava brigar por pódios, conseguiu. Em 2008 os bávaros ambicionavam as primeiras poles e vitórias e conseguiram. Em 2009 o alvo do time é brigar pelo caneco. A continuar com a rigorosidade monástica de trabalho quem põe em dúvida a capacidade dos alemães?

Considerando ainda a dupla de pilotos com a qual Mário Theissen, o chefe de equipe, trabalha, é impossível não criar esperanças de bons resultados para a BMW. Robert Kubica e Nick Heidfeld formam uma dupla que, no conjunto da obra, só fica devendo à Ferrari, em nível badalação que envolve os dois nomes. Kubica por ser um dos novatos-gênios que chegaram à F-1 nos últimos anos, demonstrando talento suficiente para já ser apontado como um dos melhores do grid. Heidfeld pela experiência de mais de 150 largadas e pelo talento que, se ainda não se converteu em vitórias, é inegavelmente presente no estilo de pilotagem do alemão.

Juntando o bom trabalho desenvolvido pela BMW à qualidade de sua dupla de pilotos, cresce a expectativa em torno das reais capacidades do time bávaro.
__

As outras equipes consideradas médias vêm de um grande equilíbrio. Em 2008 Renault, Toyota, Red Bull, Williams e Toro Rosso brigaram ferozmente pelos lugares intermediários e pelo direito de ir ao Q3, sessão final de classificação em que só são admitidos os 10 mais rápidos. Para todas essas equipes, há expectativa de crescimento e de maior acirramento na disputa. Mas no quesito “piloto”, duas podem desequilibrar.

Fernando Alonso da Renault e Sebastian Vettel na Red Bull são sinônimos de interesse e curiosidade da parte do público. Foram duas das surpresas de 2008, por motivos obviamente diferentes: Alonso por conseguir extrair leite de pedra e vencer duas corridas com o fraco R28, provando suas capacidades e seu oportunismo a quem ainda tivesse dúvidas. Vettel pela boa temporada e pela constante presença nos pontos, sem falar nas impressionantes pole e vitória com chuva em Monza. Ambos ganharam credenciais de showman no ano passado e, sem a obrigação de vencer (afinal, estão em times médios), são candidatos a continuar surpreendendo.
__

A Toyota chegou a impressionar nos testes de inverno. O TF109, modelo da equipe para a temporada, chegou a liderar algumas sessões de testes, mas ainda não mostrou confiabilidade suficiente para ser apontada como favorita. A Williams mantém-se sob as nuvens, e a capacidade de seu FW31 ainda desperta dúvidas. Na Toro Rosso o maior destaque é a semelhança do STR4 com o RB5 da co-irmã RBR. Nada mais.

Resta, enfim, a maior surpresa da pré-temporada: a Brawn GP. O time que chegou abalando as estruturas e liderando sistematicamente os treinos vai a Melbourne na condição de favorito. A continuar andando segundos a frente das rivais, a BGP é mesmo favorita, mas não ao GP Austrália e sim ao mundial. Mas é cedo para elevar a BGP a tão alto patamar. Uma equipe surgida de uma grande incerteza numa época de incertezas precisa ser avaliada com cuidado durante a temporada.

Não restam dúvidas, porém, de que o que vem de baixo pode sim atingir as grandes. E é esse o desejo do planeta-motor.

Nenhum comentário: