quinta-feira, 26 de março de 2009

A mesma praça, outro jardim: Austrália 2008

Em março do ano passado a Fórmula-1 se perguntava: a Ferrari seria imbatível em 2008? A pré-temporada fora muito proveitosa à equipe italiana e Felipe Massa e Kimi Raikkonen, o então campeão, chegavam a Melbourne na condição de favoritos absolutos. Nada como um grande prêmio tumultuado para estragar as previsões de domínio dos comentaristas!

A outra grande novidade daquela corrida de estréia era o fim do controle de tração. A medida humanizou a pilotagem e tirou os pilotos de seu pedestal inalcançável de perfeição. Era preciso aprender a dosar o pé no acelerador e controlar o carro com perfeição nas saídas de curva. Felipe Massa aprenderia a necessidade de um rápido aprendizado de forma um tanto quanto traumática.

Depois de muita expectativa pela F-1 sem controle de tração, o dia 15 de março viu acontecer a primeira classificação sem o dispositivo em anos. A sessão foi marcada por imagens de um Lewis Hamilton escorregando com as quatro e controlando o MP4/23, para delírio dos mais saudosistas. Muita gente apressou-se em dizer que verdadeira F-1 estava de volta.

Logo no Q1 a Ferrari começou a desenhar o caos que lhe era reservado para o domingo: Kimi Raikkonen, o homem que defendia o título, apresentou um problema mecânico e ficou limitado ao 16º lugar no grid. Um mau começo para quem vinha de uma pré-temporada arrasadora.

Ficou, portanto, para Felipe Massa a expectativa de pole position, sobretudo pelo desempenho da Ferrari nos testes de inverno e pelo grande destaque que toda a mídia e os comentaristas davam ao F-2008. Para desespero de quem fez apostas levando em consideração as páginas do jornais, o brasileiro não fez nada melhor do que o 4º tempo. A pole ficava com a McLaren de Lewis Hamilton. Em 2º, uma grande surpresa: Robert Kubica, da BMW, ficara a apenas 0,155s do inglês. Era a demonstração de força da equipe que se mostraria desafiante em 2008.

Kovalainen em 3º e Heidfeld em 5º suscitavam expectativas de que a corrida fosse particularmente disputada entre McLaren e BMW, com a Ferrari de Massa correndo por fora. Mas o domingo australiano faria da abertura da Temporada 2008 uma das mais confusas e divertidas do passado recente.

Logo na primeira volta vários toques fizeram com que 5 carros abandonassem a prova. O toque mais relevante, no entanto, não era o mais grave do ponto de vista do impacto, mas sim da importância de quem se acidentou: Felipe Massa rodou infantilmente na saída da curva 1, batendo de leve na proteção de pneus e vendo todo o pelotão passar por si. Era o começo do inferno-astral da Ferrari na corrida, e de Felipe no campeonato.


Difícil avaliar até em qual ponto a ausência do controle de tração foi a responsável por incidentes como os de Massa e os outros que se viram durante a corrida. É preciso levar em conta que a geração atual é marcada pela divertida rotina de afobamento misturada a falhas um tanto quanto pitorescas, sem falar nas características particulares do circuito de Albert Park, um misto de parque com ruas da própria cidade de Melbourne, onde o asfalto geralmente fica repleto de detritos que dificultam a pilotagem fora do “trilho.” Além disso tudo, o muro está sempre a uma distância relativamente próxima.

A verdade é que pelas as circunstâncias da corrida, a primeira da F-1 sem o controle de tração em anos, tudo foi interpretado como festa e louvou-se o banimento do CT como o motivo das seqüências de quebras e batidas. A comemoração em torno da saída do dispositivo não era totalmente injustificada, porém, era exagerada. As corridas subseqüentes, como o chatíssimo GP Malásia provariam que apenas a ausência de um aparelho eletrônico era muito pouco para fazer da F-1 o show que os organizadores desejavam (e ainda desejam).

A corrida seguiu, com os dois ferraristas a vir do final do pelotão, tentando desesperadamente avançar. E em suas tentativas de ultrapassagem, Raikkonen e Massa não hesitaram em exagerar e levar suas disputas às últimas conseqüências. Resultados: duas saídas de pistas para Raikkonen; um enrosco de Massa com Coulthard que resultou em fim de corrida para o escocês, com a suspensão quebrada. A manobra discutível de Massa, que tentou dividir a curva mesmo estando com mais de meio carro atrás da RBR, gerou palavras duras da parte de David: “eu olho para frente, não para trás. Ele tinha melhor visão do que iria acontecer. Ele está disputando o mundial, eu não.”
Para completar o fim de semana de pesadelo de Massa, seu F-2008 não completou a prova, confirmando o péssimo início de ano do brasileiro.

Voltas depois, um susto: a Toyota do estreante Timo Glock saiu da pista, atingiu um desnível na grama e levantou vôo como um avião. O carro voltou a pista semi-destruído, provocando imagens plasticamente bonitas para quem gosta de batidas. Glock saiu do que restou de sua Toyota ileso.


Enquanto isso, Lewis Hamilton seguiu intocável, a despeito das seguidas entradas do Safety Car. Correu sozinho, como se não existissem adversários.

Quase no final da corrida, o impensável acontece com a Ferrari: a favoritíssima equipe vê Kimi Raikkonen abandonar a prova a 6 voltas do fim, porém, classificado em 8ª, devido às várias quebras que reduziram o número de carros a chegar ao final a apenas 7.De toda forma, foi um duro golpe no cavalinho rampante. Dois motores quebrados na primeira corrida do ano, prévia do campeonato complicado que seria vivido pelo tiffosi.

A grande surpresa do final da corrida era a presença de Rubens Barrichello entre os pontuáveis. Beneficiado com a hecatombe que dizimou mais da metade dos carros ao longo da corrida, o brasileiro caminhava para um pódio. No entanto, a entrada nos boxes com as luzes vermelhas acionadas levou o brasileiro a ser desclassificado após o fim da corrida.

Ao final das 58 voltas, Lewis Hamilton venceu com autoridade, seguido por Heidfeld e Rosberg (este último dando a falsa impressão de um bom ano para a Williams), num pódio incomum. Seria, na verdade, uma dobradinha da McLaren, não fosse a azarada entrada do Safety Car justamente às vésperas do reabastecimento de Kovalainen, que foi obrigado a esperar o pit lane se abrir. Mesmo assim, chocolate de Ron Dennis: a McLaren foi a única equipe a terminar a corrida com os dois carros intactos.
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Pequeno resumo da corrida:


4 comentários:

Anônimo disse...

eu nem me lembrava mais dessa pancada do Glock e ali com o Massa, foi o início do fim da chicane ambulante Coulthard neh? Flw.

Ron Groo disse...

Foi uma corrida muito louca. E foi também o inicio de uma sequencia incrivel de porradas do David Coulthard, que originou minha expressão:: Vai jogar bingo, velho!
pra ele.

Marcos Antonio disse...

Grande corrida! Ainda mais com um pódio da Williams!

OBS:po foi mal por ter furado o seu antigo post! Sabe como é, foi vitória da Williams,né?hehehe

abraços!

Fábio Andrade disse...

Maeda/Groo: o velhote se especializou em tirar outros pilotos da pista em 2008. O cara estava em franca ausência de forma para pilotar;

Marcão: nada, bobeira da minha parte pra perturbar.

Só seria mais interessante se o desempenho da Williams se mantivesse durante todo o ano passado.