A ilógica do filme adaptado do conto homônimo de meados do século XX transita por uma questão que angustia a humanidade: o tempo. O tempo e suas conseqüências e, principalmente, o tempo indomável que faz seus estragos no físico e na psiquê do bicho homem. Benjamim inverte o processo pelo qual passa todo ser humano. Nasce como um bebê de aspecto bizarro, enrugado e com doenças típicas da 3ª idade. Sua mãe morre no parto, seu pai o abandona e Button (não é o Jenson!) é criado pela dona de um asilo. Enquanto todos os outros seres humanos trafegam da explosão da juventude às deficiências da velhice, Button faz o caminho inverso: nasce com o corpo débil de 80 anos e passa a remoçar (o prefixo “re” não faz nenhum sentido no contexto do filme, mas usá-lo é um vício). Vai entendendo a maturidade enquanto se torna mais novo, e atinge a plenitude da forma física se embriagando de sentimentos por Daisy, a menina que Benjamim conhecera quando era uma criança-velhinho debilitado e ela uma criança comum. Em determinado momento a idade dos dois é equivalente, mas as expectativas não poderiam ser mais diferentes. Enquanto Daisy espera pela velhice, Benjamim antecipa a juventude.
Enquanto seus entes queridos seguem o ciclo natural e morrem, Benjamin “afasta-se” deles, tornando-se mais e mais jovem.
A idéia reforçada ao fim da película é única: o fim da vida é de fato o adormecer lento e gradual do que antes fora uma máquina em pleno funcionamento. Apogeu e declínio são passagens obrigatórias para todos, mesmo para alguém que viveu, em tese, contrariando essa lógica. Em um primeiro momento “O Curioso Caso” tenta seu espectador, convidando-o a acreditar que a personagem central passará a última parte de sua vida no ápice. Nada mais desolador! Se no começo de sua vida Benjamim possuía uma mente infantil num corpo idoso, o fim de sua passagem terrena é marcado pela experiência de toda uma vida enjaulada no corpo de criança. O fim de Button é terminar como um bebê senil e só, voltando à mesma situação do início do filme: solidão e abandono, tão comuns à outra ponta da vida, a dos idosos esquecidos pela família.
O Curioso Caso de Benjamin Button é, por fim, um filme sobre paradoxos existenciais e contradições que a reflexão sobre juventude e velhice trazem.
__
No curioso caso de Rubens Barrichello não faltam paradoxos, coincidências e caprichos do destino que envolvem idade e tempo. Começamos pelo óbvio: Barrichello é o piloto mais velho do plantel, o mais experiente da história com mais de 260 largadas. Rubens, porém, descobriu que experiência não põe mesa. Seu contrato com a então Honda de 2008 não fora renovado e o piloto já começava a procurar um lar novo para correr. Barrichello, no entanto, foi traído por uma série de arestas não-aparadas na relação custo-benefício que envolvia seu nome: valeria a pena para uma equipe contar com um piloto que completará 37 anos no próximo mês de maio?
O que mais entravou a tentativa de Rubinho de arranjar um lugar para correr, porém, não foi a questão mercadológica ou sua idade propriamente dita. Bruno Senna era o nome da pedra no sapato de Barrichello. Era mais jovem (25 anos) e tinha um triunfo no bolso, além do sobrenome que funciona como uma palavra mágica: patrocínio pessoal para injetar na equipe que estivesse interessada, além de mídia garantida graças ao interesse geral em saber como se sairia o sobrinho de um dos mais míticos pilotos da história.
As condições, àquela altura, pareciam estar a favor de Bruno. O sobrinho de Senna só não contava com a saída da Honda em virtude da crise financeira, algo que remodelou as expectativas de, além do próprio Bruno, Rubens Barrichello. A equipe esteve, teoricamente, em muitas mãos. Os jornais apontaram meia dúzia de compradores para o time nipônico, e os nomes foram de Carlos Slim à Richard Branson. Nenhum deles esteve realmente perto de comprar o espólio da equipe.
Nesse meio tempo, a vaga na Honda parecia destinada a Senna. Era algo que atendia ao pensamento lógico geral da sociedade: “o novo substitui o velho em algum momento, afinal, é esse o motor da evolução do mundo em que vivemos.” É a mentalidade inevitável de pensamento que rege a vida na Terra.
Mas eis que Rubens Barrichello, à Benjamin Button, inverte a lógica. A confirmação de Ross Brawn como dono da equipe que surge da cova em que a Honda foi sepultada decidiu a seu favor a luta por uma vaga no time. Com Brawn no comando, tornou-se claro que a gestão do nova agremiação de Brackley será pautada pelo pragmatismo esportivo. Nesse contexto, a sede monetária pelos dólares de Senna vale menos do que a necessidade de contar com um piloto experiente. Tudo o que a Brawn GP não precisa é de jovens recém-aprovados na auto-escola. Brackley necessita de alguém que não tenha medo de queimar seu nome em um time fraco e perder futuros contratos. Nesse quesito a idade que sobra a Barrichello só lhe faz bem. Está em fim de carreira, oras. É o único piloto atual que já pilotou um F-1 com pneus slicks. Já esteve, enfim, na campeoníssima Ferrari dessa década, e foi lá que Brawn começou a confiar em Barrichello e em sua dedicação e devoção ao trabalho.
Sendo assim, o velho venceu o novo, e a juventude se tornou atributo periférico na briga por uma vaga na Honda. O sobrenome Barrichello, tantas vezes motivo de escárnio barato e gratuito em terras brasilis, botou no chinelo a marca de maior octanagem do automobilismo nacional. Uma história com uma virada cinematográfica.
__
3 comentários:
Rapaz... Perfeita analogia entre o filme e a carreira do bund.. digo Ruimbens!
Tordeceria por Ross se não fosseo tiro no pé de contar com dois fosséis em seu carro.
E não é por ser velho não, é por ser lento mesmo.
Button ao menos esteve envolvido de alguma forma com o projeto.
Até ir a Brackley dizer aos funcionários da fábrica que mantivesssem suas esperanças, que a situação ruim iria passar, ele foi. Enquanto Ruimbens ficou jogando golf e lamentando a propria sorte de estar desempregado.
Lamentável.
é Barrichello vai testar bastante o carro pra alguém poder correr com ele em 2010. e em 2010 é capaz da USF1,ops USGPE chamar o bravo e lento brasileiro outra vez.
Groo: bem, o fato é que o Rubinho mostrou que seu passe ainda é valorizado, independete da imagem que ele construiu aqui no Brasil;
Marcão: aí a coisa já entra no campo da especulação. E se é para especular, acho que esse deve ser, enfim, o último ano do Barrica.
É preciso saber a hora de parar.
Postar um comentário