sábado, 28 de março de 2009

Austrália - Results & Coments [2]

A Identidade Brawn

A primeira classificação da temporada, apenas por ser a primeira, já guarda uma série de particularidades entre os torcedores. Costuma ser a primeira oportunidade efetiva de o torcedor ver os F-1 em ação depois do sempre longo período de “férias” da categoria. É uma sessão em que a ansiedade já é naturalmente maior, e nesse caso não só da parte da torcida, mas também dos pilotos, dos mecânicos, e do circo em geral. Apenas por isso, a primeira sessão classificatória já é especial, além de, claro, ser a primeira chance de apurar a geopolítica do paddock. E nesse quesito, a classificação do GP Austrália mostrou definitivamente que há algo de novo na F-1 2009.

Sei não, mas tenho a impressão de que foi qualquer coisa histórica a classificação dessa madrugada de sábado aqui no Brasil.

No princípio, carta fora do baralho, agora, favorita à vitória. A Brawn exibiu tanta superioridade na primeira classificação de 2009 que chega a soar estranho certificar-se de que a primeira fila é toda dela. Jenson Button, espinafrado até aqui nesse blog, dado como piloto sem motivação e como promessa que não aconteceu, é o pole. Rubens Barrichello, veterano, historicamente ignorado pela torcida de seu país, é o segundo. E os dois botaram um caminhão de tempo na concorrência.

Como primeira demonstração oficial da hierarquia da F-1 para 2009, a classificação do GP Austrália deixou uma infinidade de marcas. A primeira e mais óbvia: a Brawn não era blefe. Os dois carros brancos (agora com patrocínio acertado com o Grupo Virgin, que foi especulado como virtual comprador da equipe em janeiro) fecharam todas (todas!) as etapas do treino classificatório na ponta da tabela. Mais rápidos em todos os setores da pista, Jenson Button e Rubens Barrichello disputaram uma classificação particular entre si. A primeira fila inteiramente brawniana é sinal de a nova regra aerodinâmica criou um efeito de bomba de nêutrons a sacudir a categoria máxima. E todo mundo parece ainda se acostumar a esse favoritismo já declarado, mas que ainda aguardava confirmação.

A conquista da primeira fila no grid australiano é o maior reconhecimento que o trabalho de Ross Brawn poderia conseguir. Desnecessário citar mais uma vez os predicados do engenheiro mais cobiçado da atual F-1. Necessário, talvez, é o questionamento: a Honda resolveu sair cedo demais?

Tivesse ficado na categoria, a montadora poderia estar colhendo agora os louros de ser, finalmente, a favorita às vitórias no primeiro terço do campeonato. Esse, afinal, sempre foi o objetivo jamais alcançado pelos japoneses em sua volta à F-1 nos últimos anos. O símbolo maior da mediocridade da Honda nessa década é sua única vitória com Button num GP Hungria confuso, chuvoso e em que alguns favoritos abandonaram e outros ficaram relegados às posições intermediárias. A saída da montadora em dezembro, no cenário de agravamento da crise mundial, não deixa de ser sinal de que medíocre foi pensar em sair da F-1 ao menor sinal da iminência de um prejuízo. Uma dose de paciência e os executivos de olhos puxados poderiam estar diante de uma possibilidade de sucesso paralela a dos anos dourados da empresa na F-1 há 20 anos.

Enfim, a Brawn é favoritíssima amanhã. Resta apenas saber se o ritmo alucinado demonstrado em todos os treinos será mantido na corrida. Se sim, Button e Barrichello disputarão uma corrida isolada entre os dois. Devem chegar uma semana a frente do resto. E depois de fazer história marcando os dois melhores tempos na primeria classificação de sua vida, a Brawn é séria candidata a vencer seu primeiro grande prêmio com dobradinha.

É o maior tapa de luvas que a Honda poderia levar.
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Que Williams que nada! Sebastian Vettel foi quem mais chegou perto da BGP na classificação. Um louvável terceiro tempo na classificação põe o alemão em ótima condição para as 58 voltas de amanhã. É outra daquelas situações cheias de significado que só Vettel é capaz de produzir: sua antiga equipe, com os tais motores Ferrari que eram apontados como foco da superioridade em 2008, ficou para trás logo no Q1. A própria e toda pomposa Ferrari comeu a poeira de Vettel. O companheiro de equipe também ficou (muito) para trás. Por fim, Vettel leva um carro de motor Renault ao 3º lugar, enquanto os dois pilotos oficiais da montadora, com o carro próprio da montadora, sequer chegaram ao Q3.

Ano de regras novas, mas com as mesmas e boas surpresas de sempre.
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Como de costume, a acompanhar Vettel como grande showman da F-1, lá está Robert Kubica. Quarto lugar para o polonês, que continua a dar um banho em Heidfeld. Muda ano, mudam as regras, e a BMW continua a ter em Kubica seu piloto mais regular e competitivo.
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De onde muito se esperava, veio pouco: a Williams foi, de forma relativa, a decepção da classificação. Depois de fazer os dois melhores tempos nos treinos livres de ontem, a equipe inglesa foi discreta na classificação oficial: 5º lugar para Rosberg, 13º para Nakajima.

De toda forma, é notável o ganho de rendimento da equipe de Grove em relação a 2008.
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Toyota no meio do Top-10, dando a impressão de que não basta um difusor eficiente para garantir lugar na ponta.
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Ferrari no meio do texto? Sim, e com algum esforço para estar aqui. Não é confortável a posição do time italiano: 7º lugar para Massa, 9º para Raikkonen. Rumor da vez: os dois vermelhos ficaram no limite do Q2, em 9º e em 10º, e tiveram que suar o macacão para seguir para a superpole. Novos tempos em Maranello.

Não adiantou trazer o KERS, apesar da aparente contribuição que o dispositivo forneceu aos rossos. Perto do desempenho da Brawn, talvez a alta cúpula da Ferrari já comece a questionar a real eficiência do sistema de recuperação de energia cinética.

Porém, jamais se pode desconsiderar os italianos. Nunca se sabe o coelho que os carcamanos podem tirar da cartola e o KERS ferrarista parece ser bem desenvolvido e se integra bem ao conjunto da F-60. Mas mesmo que não haja cartola nem coelho, a Ferrari não é totalmente desconsiderada. É mais um exemplo da tal força psicológica que um nome carrega consigo e sobre a qual falávamos num outro dia. O cavalinho rampante possui essa tal força, é inegável.

Mas, inevitavelmente, a Ferrari já não é mais aquela favorita de 5 meses atrás. O mundo dá voltas...
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Previsão de acirramento da pressão envolvendo o nome de Nelsinho Piquet na Renault. O brasileiro não passou do Q1, ficando com uma indigesta 17ª posição. Depois de passar 2008 justificando os resultados medíocres, levando 18 x 0 na briga de classificações com Alonso e dando desculpas que as vezes eram piores do que o silêncio, Piquetzinho começa 2009 outra vez explicando as razões de um mau resultado. Nelsão, o pai, estava em Melbourne, talvez ciente de que sua presença é necessária para apaziguar a cobrança sobre o filho.

O carro continua ruim, mas a inevitável comparação com o 12º lugar de Alonso coloca Nelsinho numa fogueira. E não há mais a desculpa de que o garoto é estreante.
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Kovalainen 14º, Hamilton 15º. Escancarada a situação de decadência da McLaren. Hamilton, aliás, sequer foi a pista no Q2, ausência justificada pela equipe em razão de um problema de câmbio. Será isso mesmo, ou o time prateado não quis queimar a imagem da estrela?

Fato é que o número #1 no bico do MP4/24 não torna o carro de Hamilton mais veloz. O que era uma mera suposição na pré-temporada materializa-se como uma dura realidade para a McLaren: a equipe foi a que mais perdeu terreno com a mudança radical das regras.
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Na turma que sempre vai embora mais cedo, além do já citado Piquet, há pelo menos uma novidade: Toro Rosso, acostumada a ir ao Q3 no ano passado, não passou do Q1 hoje em Melbourne.

Enquanto isso, a Force India começa 2009 do mesmo jeito com terminou 2008: fim da fila.
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O difusor que tanto deu o que falar mostrou-se um atributo periférico na classificação. Dos 6 carros que usam a polêmica peça (Brawn, Toyota e Williams) apenas a Brawn real e unicamente brigou pela ponta. Garantia, portanto, de que não apenas uma parte isolada do carro a razão do sucesso da equipe, mas o conjunto como um todo.
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Só pelo que aconteceu hoje, a história já vai se lembrar com carinho desse GP Austrália. Cresce a expectativa a respeito do que se dirá no futuro sobre o dia de amanhã. Estamos diante do fim de uma era e iniciando outra?

As 58 voltas do domingo vão nos responder.

Grid de Largada, GP Austrália 2009:

1°. Jenson Button (Brawn), 1min26s202

2°. Rubens Barrichello (Brawn), 1min26s505

3°. Sebastian Vettel (Red Bull), 1min26s830

4°. Robert Kubica (BMW), 1min26s914

5°. Nico Rosberg (Williams), 1min26s973

6°. Felipe Massa (Ferrari), 1min27s033

7°. Kimi Raikkonen (Ferrari), 1min27s163

8°. Mark Webber (Red Bull), 1min27s246

9°. Nick Heidfeld (BMW) 1min25s504

10°. Fernando Alonso (Renault), 1min25s605

11°. Kazuki Nakajima (Williams), 1min25s607

12°. Heikki Kovalainen (McLaren), 1min25s726

13°. Sébastien Buemi (Toro Rosso), 1min26s503

14°. Nelsinho Piquet (Renault), 1min26s598

15°. Giancarlo Fisichella (Force India), 1min26s677

16°. Adrian Sutil (Force India), 1min26s742

17°. Sébastien Bourdais (Toro Rosso), 1min26s964
18°. Lewis Hamilton (McLaren), sem tempo
19°. Timo Glock (Toyota), punido
20°. Jarno Trulli (Toyota), punido
Atualizado em 28/03/09, às 17:04

6 comentários:

Ron Groo disse...

É... contra fatos não tem argumentos.
Está surgindo uma nova ordem na F1 moderna. Até quando a grana deles vai deixar eu não sei. Mas esta surgindo sim...

Daniel Médici disse...

É por isso que eu gosto do Ico. O blog dele tem sempre as informações mais relevantes para entender o que acontrece ne F1. Ross Brawn era o chefe da famosa comissão de estudos de ultrapassagem, que durante 3 anos elaborou este pacote aerodinâmico que estreou nos carros. Acho que isso explica boa parte dos treinos de hoje.

Mas estou como sempre cético em relação a essa 'nova era'. As mudanças repentinas da F1 parecem legais, mas as reformas lentas continuam a ocorrer.

Se trocam apenas os nomes e as cores dos carros nas primeiras posições, não acho que isso basta para dizer que a F1 mudou.

Marcos Antonio disse...

Se a Honda continuasse não seria tão bom pois a Honda não sabe fazer motores V8, especialidade da Mercedes. Ela seria apenas uma equipe na meiuca do pelotão.

Tb esperava mais da Williams, mas o salto de qualidade foi evidente, talvez aconteça um podio

Grid GP disse...

Pode ter certeza, meu caro: foi histórica mesmo! Afinal, que carros são esses que ninguém conhece e que já têm a petulância de tomar toda a 1ª fila do grid?

Sobre a Honda, tive exatamente o mesmo pensamento...

Também acho que a Ferrari está, e muito, “correndo por fora” em termos de mídia. Na hora H, podem aparecer com força, embora o peso do Massa tenha me surpreendido um pouco.

E quanto ao Nelsinho, será que vai ficar no 35 x 0 em treinos com o Alonso? Não é possível, né?

Se que você é como eu, portanto, deve estar sofrendo e contando cada minuto para, enfim, chegar a hora dessa corrida!

Abraços!

Xará Campos

Loucos por F-1 disse...

Foi algo muito louco esse domínio total da Brawn GP, ninguém imaginaria tamanha superioridade dos carros de Rubens Barrichello e Jenson Button. A expectativa é grande para a largada na madrugada deste domingo, não vejo a hora.

Abraço!

Leandro Montianele

Fábio Andrade disse...

Groo: pois é. Hoje, segunda-feira, fiquei sabendo que o contrato com a Virgin é temporário, só dura até a Malásia. Tomara que seja prorrogado por um período mais longo. Agora que a BGP já é realidade, seria uma pena perdê-los por falta de grana;

Médici: você deve imaginar o quanto passei o fim de semana repensando essa "nova" F-1 nos posts lá no Cadernos e nesse comentário seu. O que dá pra ficar claro é que mudaram, pelo menos os nomes. E no fundo, me parece que a genética da F-1 praticamente exige uma ou duas equipes francamente favoritas;

Marcão: será? Mesmo que fosse para ocupar o meio do pelotão, já seria um grande negócio para os japas, afinal, passaram 2008 todinho no fim da fila;

Xará: não acho impossível o Nelsinho levar outra lavada. Sou uma das pessoas mais céticas que eu conheço em relação à capacidade dele;

Leandro: como todo viu, os caras deram um chocolate em todo mundo, mesmo com a páscoa relativamente longe.