domingo, 2 de novembro de 2008

Brasil - Results & Coments [6]

Sobre a perda de um título


A imagem de Felipe Massa retornando de sua Volta da “Vitória” foi conclusiva. O golpe de hoje em Interlagos foi forte.

Depois de batalhar uma corrida inteira e de liderá-la praticamente de ponta-a-ponta, Massa venceu seu gp doméstico. Foi campeão por instantes. Mas a chegada do 5º colocado era o fiel da balança. E ela não pendeu para o lado de Felipe.

O brasileiro venceu em Interlagos pela 2ª vez em sua carreira. Foi o piloto que mais venceu em 2008, totalizando 6 triunfos em 18 corridas, ou seja, 1/3 das provas. Felipe demonstrou maturidade em seu 3º ano de Ferrari, suplantou Kimi Raikkonen e chegou até a última corrida com chances de título. Deveria estar contente. Não está.

Não está porque perdeu o mundial. Perdeu o mundial quando já era anunciado como campeão, diante de sua torcida. Perdeu o mundial quando sua equipe já comemorava o título de pilotos e o de construtores. Perdeu de forma particularmente cruel, com a bandeirada já dada. Situação inédita na história da F-1.

Nos próximos dias, haverá choro e ranger de dentes em terras brasileiras. A Ferrari será acusada de ser a culpada pela derrota de Massa, especialmente pela mangueirada em Cingapura. As vozes iradas da torcida e da impensa irão eleger o time italiano como o vilão do ano.

Um papo meio louco. A Ferrari tem sim, sua culpa na perda do campeonato de Felipe, mas não foi em Cingapura que Massa perdeu o título.

Quando acontece um acidente aéreo é comum ouvirmos especialistas dizerem que “um erro só não derruba um avião.” O conceito se aplica com fidelidade a um campeonato de automóveis. Não foi só o erro no Marina Bay Circuit o responsável pela derrocada da Ferrari no mundial de pilotos. Uma seqüência de erros tirou o título das mãos de Felipe.

E alguns deles são, erradamente, creditados à Ferrari. O de Cingapura, inclusive.

O leitor vai me achar louco, mas defendo minha tese com unhas e dentes. Massa dificilmente venceria esse GP Cingapura. A corrida seria inevitavelmente dominada pelos pilotos que já haviam parado nos boxes quando o Safety Car entrou na pista. Ok, sem a mangueirada Massa tinha chances remotas de pódio. Mas dificilmente venceria. É preciso que se perceba uma coisa: ainda que “o cara do botão verde” tenha feito a burrada mais perceptível, a corrida de Felipe já estava comprometida por causa da mangueira de combustível emperrada no bocal de sua Ferrari. Imaginem que Felipe não fosse autorizado a sair e que a equipe esperasse a retirada da mangueira de combustível para liberar sua saída. O brasileiro perderia 15 ou 20 segundos, como perdeu depois que os mecânicos o alcançaram no fim do pit lane. Isso bastaria para comprometer sua corrida inteiramente.

“Mas a mangueira de combustível é da Ferrari, logo a equipe é responsável pela peça defeituosa” – dirão os mais apressados.

Sinto informar, mas as mangueiras de combustível usadas no reabastecimento são provenientes de um mesmo fabricante, ou seja, iguais para todo mundo. O que aconteceu com Massa poderia acontecer com qualquer um dos outros pilotos. É o imponderável, afinal.

Problemas da equipe foram muitos, quase incontáveis. A quebra em Hungaroring, a errada escolha de pneus em Silverstone e mais muitos outros. Esses serão lembrados amanhã na edição do Globo Esporte. Mas apontar terceiros pela infelicidade própria é um comportamento de quem não segura a própria onda.

Além do mais, qual o problema em aceitar que Hamilton foi superior o ano todo? A Ferrari tem sim sua cota de culpa na derrota de Massa. Mas não é possível negar que o piloto inglês liderou quase a totalidade do campeonato. O normal hoje em Interlagos era o título de Hamilton, afinal ele chegou a São Paulo 7 pontos a frente. Hamilton foi campeão de forma merecida, como Felipe também seria.

A Ferrari passará sua vergonha porque, apesar de ser campeã do mundial de construtores, tinha o melhor carro da primeira metade do ano, indiscutivelmente. Na primeira parte de 2008 os vermelhos pareciam voar rumo ao título em céu de brigadeiro. Com a superioridade do início do ano, Massa e Raikkonen deveriam ter conseguido uma vantagem segura para esse final de temporada. Não conseguiram, em grande parte, graças aos erros da equipe. Portanto, eu não estou aqui defendendo e/ou tentando amenizar a responsabilidade da equipe. Os erros foram graves, incompatíveis a uma equipe do porte da Ferrari.

Mas eu insisto. Cada um é responsável pelo próprio destino e colocar a culpa de uma derrota “nos outros” é muito fácil. Difícil é assumir que se os 8 pontos da Malásia (quando Felipe rodou sozinho e abandonou quando era o 2º colocado), por exemplo, estivessem na conta de Massa, ele seria, a essa hora, campeão com 8 pontos de folga. Disso, meus amigos, Rede Globo nenhuma vai se lembrar.

Porém, a chegada de Massa aos boxes hoje, após a corrida foi tocante. Felipe é frio, lida bem com a pressão, já deixou isso provado em diversas ocasiões. Mas hoje, o vice-campeão do mundo acusou o golpe. A vitória em Interlagos foi uma das mais melancólicas de toda a F-1.

Foi a maior batida na trave da história.

2 comentários:

Felipão disse...

Concordo plenamente...

Massa conseguiria, com certeza, os pontos necessários para a conquista do título...

Assim como em 79, a Ferrari fica em débito com ele...

Fábio Andrade disse...

É Felipão, fica em débito sim, mas cada um é responsável pela própria vida. Acho meio injusto colocar a culpa só na equipe.

Valeu pela sempre esperada visita, cara!