Superprodução épica!
Demorei para começar a escrever esse post. Ainda me recomponho das inacreditáveis emoções de Interlagos hoje. Eu não vou ser o único a dizer, mas não há como fugir de certos jargões: A Fórmula-1 viveu uma das maiores (não veja exagero se alguém disser que foi A MAIOR) decisões de sua história. Palavras jamais conseguirão descrever com exatidão o que se passou no autódromo José Carlos Pace.
A história dessa decisão pode ser dividida em três atos bem definidos, como num teatro: os minutos que antecederam a largada, a corrida até a volta 65 e as 7 voltas finais. Não se engane. A peça de hoje é uma superprodução que Hollywood não conseguiu e não conseguirá reproduzir jamais.
O 1ª Ato:
Faltando 5 minutos antes do virtual início do 37º Grande Prêmio do Brasil de Fórmula-1 a chuva caiu sobre Interlagos. Esparsa, fraca para gerar um spray denso, forte o suficiente para obrigar todo mundo a calçar pneus intermediários. E com um detalhe: a chuva só caiu na reta dos boxes e alguns pontos isolados da pista como o Laranjinha. A largada foi adiada para as 3 e 10 da tarde. Pontualmente nesse horário os pilotos partiram para a volta de apresentação e aquecimento de pneus. Estava para começar o GP Brasil, com suas 71 voltas, 7 delas com inimagináveis reviravoltas. O mundo não podia imaginar o que estava para acontecer.
O 2ª Ato:
No momento da partida, as posições dos líderes não sofrem grandes alterações. Com poucas voltas a pista seca e todos são obrigados a antecipar suas paradas para voltar a usar os pneus lisos. No entra-e-sai dos boxes, Hamilton cai para 6º e, por alguns instantes, vê o título escorregar pelas mãos. O inglês, porém, logo despacha Giancarlo Fisichella, numa surpreendente 5ª posição com a Force India, e volta a ser campeão.
Daí em diante, pouca coisa muda. A corrida se torna morna, com poucas trocas de lugares entre os ponteiros. O grande destaque da prova era Sebastian Vettel, que se tornaria uma dos principais nomes do final da corrida.
Felipe Massa continuava líder, levando o F-2008 à frente com folga. Hamilton se mantinha em 4º durante a maior parte da prova. A posição era mais do que suficiente para lhe garantir o título.
Passados os pit stops e com a corrida se aproximando do fim, tudo levava a crer que Massa, fazendo o papel que lhe cabia com louvor, venceria a corrida e Hamilton, idem, levaria o campeonato com tranqüilidade. Restando 15 voltas para o fim as equipes começavam a alertar seus pilotos: “chuva em 10 minutos.” E eis que a água veio.
Água que foi anunciada para o início da corrida, mas que teimou em vir no final.
O 3º Ato:
Como toda boa peça teatral, o melhor do decisivo GP Brasil ficou reservado para o final. Do momento em que Galvão Bueno anunciou o “olha a chuva aí” em diante, a F-1 pode dizer que viveu o ápice de sua emoção. Jamais houve uma decisão de título tão emocionante como a de horas atrás.
A água veio, sem muita força, de novo. De imediato, Heidfeld e Barrichello trocaram os pneus de pista seca pelos intermediários. Na volta seguinte é a vez de Raikkonen, Alonso e Hamilton. Na outra volta, Felipe Massa faz sua parada.
Tensão evidente em Interlagos. Torcida petrificada. O mundo assistia as voltas finais do derradeiro gp de 2008 em suspense.
Para a surpresa geral, Timo Glock surgia em 4º. O alemão da Toyota arriscou e continuou na pista com pneu de pista seca. Como o asfalto de Interlagos não estava encharcado, Glock se mantinha na pista. Mas não era esse o principal acontecimento das voltas finais.
Na penúltima volta do 59º Campeonato Mundial de Pilotos de Fórmula-1, outro alemão faz o que até então parecia impossível. Sebastian Vettel ultrapassa Lewis Hamilton. O inglês cai para a 6ª posição. Com esse resultado, Felipe Massa estaria quebrando um jejum de 17 anos sem um título brasileiro na F-1.
Tudo isso dentro de São Paulo, diante de sua apaixonada torcida.
Massa abria a última volta do GP Brasil na liderança. As arquibancadas de Interlagos exalavam nervosismo. Nada estava decidido, Hamilton apertava Vettel ferozmente. Bastava ultrapassar alguém para voltar a ser campeão.
O mundo se dividia entre Massa e Hamilton, entre aquela que é a maior rivalidade da história do automobilismo: Ferrari versus McLaren.
O panorama não muda, Massa leva o F-2008 até o fim e cruza a linha de chegada em 1º. Vence o GP Brasil. É o virtual campeão do mundo.
Mas, como bem cravou Juan Manuel Fangio, um dos gênios desse esporte, “carreras son carreras.” É outro clichê, mas não há como fugir deles. Em bom português, a frase de Fangio quer dizer algo muito simples e redundante: “só acaba quando termina.”
Com o 1º colocado já decidido, e com Hamilton em 6º, o mundial estava terminado. Massa protagonizara mais uma virada da Ferrari sobre Hamilton e sua McLaren. Um título épico, dentro do Brasil, diante de sua torcida, garantido a duas voltas do final com a ajuda preciosa do garoto Vettel. Mas, só acaba quando termina.
E não havia terminado para Hamilton. A chuva aperta na volta final, e o alemão Glock, que não quis parar para equipar-se com pneus intermediários, perde rendimento. Na Junção, penúltima curva do traçado de Interlagos, Timo é ultrapassado por Vettel e por Hamilton. O inglês volta a ser 5º. Volta a ser campeão, a 500 metros do fim da temporada.
Um feito épico.
A torcida que comemorava a vitória de Massa fica perplexa. O inacreditável acontece. Quando tudo parecia estar acabado, uma reviravolta sensacional se materializa.
É uma metáfora desse incrível campeonato. Diversão da primeira corrida até a última volta.
Com o 3º ato consumado, fecham-se a cortinas. Aplausos para Lewis Hamilton.
As imagens do dia
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O vídeo de ontem sobre *Nico Rosberg* e a sua nova vida, como "venture
capitalist", mostra que ele não é o primeiro, nem será o último, piloto
campeão...
Há 12 horas
3 comentários:
CLAP CLAP CLAP
BOOOOOOOOOOOOA FABIÃo
Assim como em uma ópera, seu post tem de ser reverenciado com palmas...
Parabéns pelo texto...
Ah, sim...
Sem exageros...
Também achei a maior de todas...
Bom texto, em relação á corrida acho que já se falava na decisão até à ultima curva, e desta vez a decisão foi mesmo na ultima curva.
Grande Abraço!
Kimi_Cris
Felipão: obrigado rapaz. A gente faz o que pode pra escrever direitinho!
E no fundo, acho que vimos mesmo a maior decisão de título da história;
Cris: de fato, a expressão "emoção até a última curva" foi levada ao pé da letra por Hamilton e Massa. Sensacional.
Como sempre, ficam os agradecimentos a vocês que comentam por aqui!
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