“Sem Ferrari não há Fórmula-1.” A frase é velha, figurinha repetida no álbum da categoria, um clichezão daqueles que todo mundo conhece. E Bernie Ecclestone proferiu essa máxima, confirmando o que é uma heresia para muitos:
"É ruim para mim dizer isso, mas a única equipe que realmente sentiríamos falta é a Ferrari. Não gostaria de perder a McLaren, certamente, assim como a Williams.”
Vamos lá: uma declaração dessas, vindo de quem vem, já possui potencial sísmico para abalar meio mundo na F-1. Do alto se de sua fortuna, Bernie Ecclestone sabe a falta que cada equipe faz. Muito mais com a Ferrari, maior torcida e maior mito motorizado que a F-1 exibe. Não se nega o poder que a imagem do corcel negro impõe. Também é notável que a escuderia movimente uma massa de fãs monstruosa em todos os países em que o navio da F-1 aporta. Por essas razões, o senhor Ecclestone até tem razão em dizer que “sentiria mais falta” da Ferrari do que das outras. Com alguma boa vontade, é compreensível.
Considerando ainda o mito construído por Enzo Ferrari também se compreende Bernie. O fanático italiano chegava a ponto de dizer que os problemas que acaso surgissem nos carros de Maranello eram sempre culpa do piloto, jamais do carro. A mística de Enzo elevou a equipe a um patamar folclórico, lendário. Foi com esse carisma que a fábrica italiana atravessou décadas e convocou uma série de fanáticos como Enzo, que engrossaram as fileiras da torcida do cavalinho rampante. Esse mito sobreviveu ao próprio caos nos anos 80, sempre acompanhado de perto pela massa rubra. O mito estava na U.T.I., mas não morria. Sobreviveu tempo suficiente para voltar aos louros da vitória de forma desconcertante, conduzido por certo alemão de queixo pronunciado.
Para elencar os motivos que fazem da Ferrari a principal equipe da F-1, passaríamos dias falando e falando e falando. Participar de todos os mundiais já é argumento suficientemente bom. Mas mesmo que uma equipe seja tão tradicional, ela deve ser tratada com tal preferência?
Mudemos para o futebol. Imaginemos que o Flamengo anuncie sua saída do Campeonato Brasileiro. Seria o caos histórico e financeiro para o futebol do país. Uma torcida composta por 35 milhões de pessoas simplesmente deixaria de consumir a marca Flamengo nos estádios. A arrecadação diminuiria drasticamente. E mais: o futebol nacional se veria sem um de seus times mais vitoriosos e tradicionais. Faltaria substância ao campeonato nacional. Mas ele sobreviveria, porque competição alguma é feita apenas de um indivíduo ou agremiação. O futebol brasileiro sobreviveria sem Flamengo, Corinthians, Vasco, Palmeiras, Grêmio, Cruzeiro, Bahia, Botafogo, São Paulo, Fluminense, Santos, Vitória, Internacional ou qualquer outro grande time. Porque o futebol é vivo, é maior do que qualquer time. Assim como a F-1.
É lógico que uma possível saída da Ferrari seria doída. O campeonato estaria esvaziado, sem sua atração principal. Mas a categoria não deixaria de existir. Porque ela é maior. Porque o grid não é composto apenas por dois carros. Porque a história desse esporte não foi feita apenas pelos pilotos vermelhos.
É justamente por causa dessa mensagem dúbia que mitos esportivos são interessantes. Eles são importantíssimos para a sobrevivência de modalidades, até o ponto em que as modalidades não se tornam reféns de seus gigantes. E eu sinceramente acredito que as forças na F-1 ainda estão equilibradas. A categoria ainda encontra vitalidade em suas veias, ainda carrega vida própria, ainda é reverenciada como a mais nobre do esporte a motor. Enquanto for assim, a F-1 sobrevive aos possíveis adeus, como sobreviveu à saída da Honda ou, num episódio que prova a força da categoria de forma trágica, à morte de Ayrton Senna. Porque ela é maior.
Então vamos combinar com tio Bernie assim: ninguém gostaria de ver Williams, McLaren, Ferrari ou qualquer outra fora. Mas se acontecer, a vida continuará. Porque o esporte é maior.
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3 comentários:
Concordo contigo... Só não vai sobreviver se todos saírem, deixando o Bernie com cara de bobo. Aliás, ele sempre faz esse tipo de comentário... Fez quando a Aguri saiu do mundial...
O Bernie tá doidão!!!
Ele faz cada comentário infeliz. Concordo com vc Fábio, mesmo sem a Ferrari a Fórmula 1 sempre continuará viva.
Abraços!
Leandro Montianele
Felipão: O Bernie solta algumas pérolas de vez em sempre. Tem talento nato;
Leandro: acho que ela continua viva sem qualquer equipe. Esvaziada, mas viva. A não ser, claro, que haja uma quebradeira geral. Aí é fim de papo.
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