domingo, 11 de janeiro de 2009

McLula

Durante a semana a McLaren foi declarada a equipe mais popular entre os fãs da F-1. O time de Woking obteve 29% dos votos da pesquisa realizada pela revista F1 Racing com 70 mil pessoas.

O resultado da pesquisa é, ao mesmo tempo, um clichê e uma surpresa. Clichê porque é até natural que a McLaren seja a equipe mais popular da F-1. O time inglês possui uma história de sucesso magnífico na F-1, tendo em seu cast campeões do quilate de Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, Alain Prost, Ayrton Senna, Mika Hakkinen e (por que não?) Lewis Hamilton. São 11 títulos de pilotos e 8 de construtores. É uma história gloriosa, de uma grande equipe da mitologia da F-1, assim como a Williams. Puro clichê.

Mas a “eleição” da McLaren como a mais popular ganha ares de surpresa porque o título destrona a Ferrari, mundialmente célebre pelo mito do cavalinho rampante. Especialmente em tempos pós-Schumacher a equipe italiana é uma espécie de Flamengo da F-1, arrebatando a maioria dos torcedores em praticamente todos os autódromos onde a F-1 se apresenta. A massa de bonés e camisas vermelhas supera a de bonés prata e azuis com facilidade. Não falta fôlego ao cavalinho para a disputa.


Quem desequilibrou essa rinha McLaren X Ferrari foi Lewis Hamilton. O jovem que faturou seu primeiro mundial aos 23 anos deu à McLaren a velha popularidade que desapareceu em 2007, graças ao escândalo de espionagem. Popularidade que a equipe alcançou nos anos 80 com a dobradinha Senna/Prost, em especial com Senna, adorado como um semi-Deus motorizado. O fenômeno que acontece com Hamilton agora guarda suas semelhanças com o que aconteceu com Senna 20 anos atrás: ambos são pilotos jovens, de talento impressionante, que desafiaram poderosos e campeões companheiros de equipe, e ganharam o mundo com um carisma que só a pscologia de massa explica. Com Hamilton ainda há um diferencial. O talento inglês é negro, ganhando uma aura que anda muito na moda na sociedade atual: o negro que dá certo, que, de uma certa forma, vinga as injustiças que ocorreram com os africanos durante a história da sociedade ocidental. É o cara certo para ser promovido a estrela, posando de rapper com cara de mau.

A repentina subida nos índices de popularidade da McLaren remete ainda ao incrível e permanente estado de bem-estar da imagem do presidente Lula no Brasil. Lula goza de índices sem paralelo na história do Brasil, desde o início de seu primeiro mandato. Atualmente a taxa de brasileiros que consideram seu governo bom ou ótimo supera os 70%. A imagem também ajuda o presidente, assim como auxilia Hamilton. Filho do nordeste flagelado, Lula carrega consigo a figura do metalúrgico leninista que seduziu a massa e os intelectuais do Brasil nos anos 80. Um mito pronto, que precisou apenas de um empurrãozinho para emplacar.

Porém, jamais se pode desconsiderar a Ferrari, apenas 1% atrás da McLaren na tal pesquisa. O mito sobre rodas italiano está ligado à F-1 por raízes tão profundas que há um famoso ditado envolvendo a equipe: “sem Ferrari não há F-1.” Exageros à parte, a frase dá uma idéia do que significa a equipe italiana no universo da categoria máxima. Se a McLaren é Lula, a Ferrari é Getúlio Vargas, aquele mandatário ora afável, ora totalitário, que consolidou de vez a característica personalista da república nacional e é figura obrigatória quando se fala do histórico da política brasileira.

Mas não se esqueçam, a McLaren é Lula. E todo Lula que se preze, se reelege de forma consagradora na próxima eleição. Seria sinal de um bis da McLula de Hamilton em 2009?

3 comentários:

SAVIOMACHADO disse...

Ótimo post Fábio. Muito bom mesmo. A comparação com os políticos brasileiros ficou muito bom. Acredito que Lula será novamente eleito presidente do Brasil. Até porque não vemos ninguém páreo para acompanhá-lo na disputa a presidência. Mas pode ser que apareça. Quanto a Hamilton já temos uma paisagem diferente. Temos competidores a altura dele com grandes probabilidades de ganhar a disputa do campeonato de 2009. O próprio Felipe Massa com a Ferrari e esse ano a Renault se mostrará mais competitiva com Fernando Alonso.
Um grande abraço!!
SAVIOMACHADO

Anônimo disse...

OLÁ PARABÉNS PELO BLOG. ÓTIMO TRABALHO, JÁ SOU SEGUIDORA!!
www.paddockformula1.blogspot.com

Fábio Andrade disse...

Sávio: acho que se a legislação permitisse, o Lula seria reeleito de novo. A imagem dele é um fenômeno carismático. Não possui rivais.

Rapaz, acho que fazer sobre a temporada que está pra começar é impossível. Essas novas regras transformaram tudo numa grande nuvem negra;

Sheila: obrigado!