quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sobre o talento nato

Como ter certeza de que se está diante de um talento nato?

Para começar é preciso traçar a diferença entre um talento nato e aquele que é adquirido. O talento nato, como é explícito, já está com o indivíduo. É natural. Não é preciso estudar, ou decorar, o treinar durante anos para consegui-lo. A pessoa que o possui simplesmente o possui.

O talento adquirido é aquele que precisa ser talhado. O indivíduo já vem ao mundo com uma predisposição para fazer determinado serviço, mas durante a sua formação ele trabalha, se especializa, se dedica e consegue ascender ao topo do nível de excelência. O melhor exemplo desse tipo de talento na F-1 atual, talvez, seja Felipe Massa.

Agora voltamos à pergunta que inicia essa postagem.

Nos últimos anos, piloto algum conseguiu reunir em torno de si tanta expectativa quanto Sebastian Vettel. O alemãozinho recebe olhares cobiçosos desde suas primeiras corridas na F-1. As primeiras impressões de que o garoto alemão é acima da média começaram a se formar no Grande Prêmio do Japão de 2007, quando o calouro caminhava para levar a STR até o pódio debaixo de um dilúvio. O menino tinha chances de conseguir, não fosse a colisão com Mark Webber durante uma entrada do Safety Car.

Na corrida seguinte, na China, Vettel novamente surpreendeu. Numa prova em que Lewis Hamilton cometeu sua patacoada histórica, Vettel levou a Toro Rosso a um encorajador 4º lugar. A corrida chinesa também contou com pista molhada no seu início.

Em 2008 o alemão terminou 9 das 18 corridas na zona de pontuação, um feito louvável para uma equipe média e que não passa de uma filial de uma organização maior. Vettel, por fim, conquistou sua primeira vitória num dos palcos sagrados da F-1, a pista italiana de Monza, sob chuva, depois de ter cravado a pole no sábado também sob chuva. Em ambas situações, Vettel triunfou com todos os grandes carros e pilotos consagrados na pista.

O menino fez aquilo que se chama de entrada triunfal. Em poucas corridas na F-1 já é considerado talento nato. Já foi imediatamente comparado a seu conterrâneo papa-recordes, Michael Schumacher. Já se fala que é questão de tempo para que Sebastian esteja disputando um título. Diz-se, por fim, que não demorará até que ele ocupe um cockpit de um grande time como Ferrari ou McLaren.

Nenhuma dessas evidências, porém, é mais latente do que a admiração dos patrões. São eles – os chefes - que desejam ter em sua equipe os melhores pilotos. São eles, normalmente, as raposas mais experientes do circo, os caras que vão longe para garimpar os talentos mais reluzentes. E também são eles que tem a noção exata da posição de seu time numa competição como a F-1. Pode-se ter a certeza definitiva sobre um talento nato quando o patrão – o dono ou o chefe da equipe – dá um tiro no próprio ego e admite colocar de lado obrigações contratuais para que um piloto com capacidade alce vôos mais altos. É a confirmação do potencial de um piloto, potencial que ninguém quer correr o risco de atrapalhar.

Eis que Dietrich Mateschitz, dono da Red Bull, assegurou de vez que Vettel é talento nato:

"Temos dois anos de contrato de Sebastian. Se não conseguirmos dar a ele um carro de ponta, certamente não queremos ficar em seu caminho rumo ao título mundial.”

Vão achar que o blogueiro está variando, mas as palavras acima valem tanto quanto uma vitória. Para a carreira de um piloto, valem.

É o chefe assegurando que seu equipamento pode não estar a altura de Vettel. No poço de vaidades que é a F-1, é raro ver tal demonstração de reverência da parte de um boss. Na categoria em que Enzo Ferrari afirmava que "pilotos apenas servem para perder corridas", Sebastian Vettel é a contradição em pessoa.

A Toro Rosso, enquanto equipe-satélite de outra maior, existe para perder corridas. Seria essa sua função. Girar em torno da RBR, apenas acompanhado sua trajetória. Seria uma espécie de derrota prévia, contratual. Afinal, não faria (e não faz) sentido a filial dando um banho na matriz.

Na lógica a Toro Rosso, enquanto filial, existe para perder corridas. Vettel, talvez, exista para ganhá-las.

Enzo Ferrari se revira na tumba.

5 comentários:

Diego Maulana disse...

Vettel tem um talento natural mesmo, é um piloto que vai certamente brilhar muito nos próximos anos e sabemos que não será na RBR. Agora, a declaração do Mateschitz não me surpreende. Ele não é um cara da F1. Ele tem duas equipes na categoria, e só visa expandir sua marca. Não acho que seja humildade de chefão reconhecendo que o carro não é bom, quando não é mesmo.

http://nomundodavelocidade.blogspot.com/

Anônimo disse...

Sem dúvida é um talento nato. Na minha opinião ele é o que tem maior talento natural no grid atual. O que não quer dizer que seja o melhor piloto atualmente (para mim Alonso é o melhor), mas potencial ele tem de sobra!

Felipe Maciel disse...

Grande texto, Fábio! O Vettel tem um talento notável e não é fácil, muito menos na F-1 atual - vencer numa equipe pequena, muito menos de ponta a ponta. O alemão vai dar muito show ainda...

Ron Groo disse...

Perfeito!
Massa teve de evoluir dolorosa e gradativamente, enquanto Vettel foi apenas passando as etapas como se fosse apenas imposições burocráticas normais.
A vitória dele em Monza foi fenomenal.
Penso que ele nunca pilotará uma McLaren e se os boatos sobre Alonso na Ferrari forem - como esperamos - infundados tenho certeza de que Enzo vai deixar de se revirar e começar a sorrir na tumba.
Penso nele como substituto natural de Massa ou Kimi no time rosso.
O chato é que ai poderemos ter mais um dominio daqueles e outra vez de um alemão.
O moleque manda bem!
E você mandou otimamente neste texto, parabéns.

Fábio Andrade disse...

Maulana: acho que por ser um empresário querendo expandir a marca ele teria toda a razão em querer Vettel. É o garoto o futuro da equipe, foi ele que trouxe a única vitória que o "grupo RBR" possui na F-1. O que será que não pode fazer num carro bonzinho?

Pra mim continua a ser o chefe a admitir que o carro não está a altura do piloto;

Flávio: humhum. Concordamos plenamente, então;

Maciel: sem dúvidas que sim;

Groo: obrigado e sim, corremos o risco sério de ver um outro domínio alemão na F-1. Não é possível que estejamos tão enganados, rs!