segunda-feira, 18 de maio de 2009

Analogia Debutante

No final de semana Max Mosley resolveu metaforizar. E juntou a atual ameaça da saída da Ferrari com a morte de Ayrton Senna em 1994, para provar que ao final, a F-1 sempre sobreviverá: “É como o que aconteceu com o pobre Senna. Ele era o piloto mais importante do mundo, quando morreu e a F-1 continuou”.

A noção análoga do velho é quase boa. O problema é que ele atirou pro lado certo, mas errou o alvo.

Sob esse ângulo Senna e Ferrari dificilmente podem andar juntos. Porque a escuderia italiana não está (hipoteticamente) saindo da F-1 por força de uma circunstância inevitável e inapelável como aconteceu com Senna. A Ferrari, junto com Renault e CIA, está ameaçando (e no fundo, todo mundo sabe que é só ameaça mesmo) sair porque, além do esdrúxulo regulamento que cria duas categorias em uma, está insatisfeita com a possibilidade de aumento no número de times disputando o mundial. Com o teto orçamentário fixado em 40 milhões de libras, Lola, USGPE e Prodrive já admitiram que a F-1 passa a ser viável e possível. E com mais equipes disputando o mundial, a divisão dos lucros entre os times seria reformulada e o valor ficaria abaixo do atual. É essa a pedra no sapato de Ferrari e outras montadoras. E é aí que a metáfora com Senna se torna possível.

Porque em 1993, irritado com a saída da Honda do circo e com a medíocre temporada da McLaren em 92 e sonhando com a Williams onde Alain Prost vetara seu nome, Ayrton Senna apelou para a encenação. Ameaçou ir para a Indy (o que seria um duro golpe contra a F-1, já que a categoria americana havia surrupiado Nigel Mansell, campeão de 92 e também insatisfeito com a contratação de Prost por Frank Williams), e também falou em “tirar um ano sabático”, inconformado que estava com a posição mediana que o equipamento lhe permitia disputar. Chegou a simular uma briga com o chefe Ron Dennis e passou a exigir U$S 1 milhão por corrida para competir. A Philip Morris acreditou na história, passou a comparecer com o dinheiro em todas as corridas e Ayrton seguiu calmamente em 93, fazendo o ano em que, se não foi campeão, colecionou apresentações históricas, para, finalmente, sentar no sonhado carro azul em 94.

Aí a analogia é quase perfeita. A Ferrari de hoje e o Senna de uma década e meia atrás apenas se encontraram insatisfeitos com alguma situação momentânea e jogaram com seus respectivos pesos políticos, inteligentes e sabedores da força que seus nomes carregam. Senna conseguiu o que queria há 15 anos atrás, talvez porque percebeu que política também é imposição de força. E isso já faz parte da sintaxe da F-1 há bastante tempo.

3 comentários:

Ron Groo disse...

A coisa é que o velhinho da fuzarca nao quer mais acreditar nas ameaças da Ferrari, Da outra vez Enzo chegou a mandar construir um Ferrari Indy e o apresentou.
Mas e agora?

Felipão disse...

Quando o Senna morreu foi um golpe duríssimo contra a categoria. Pelo mundo -não só no Brasil, perderam bastante audiência. Agora, a situação é pior. A Ferrari é um país... Tem torcedor espalhado pelo mundo todo... A quantidade de bandeiras espalhadas por um autódromo é absurda. Lá na China, tinha meia dúzia assistindo. Mas a meia dúzia tava com bandeira da Ferrari, uniforme, boné e etc... As vezes fica a impressão que a categoria existe em função dela. A Ferrari emociona, em momento bom ou ruim. Agora, como o Ecclestone chega na Conchinchina do Norte, com a pastinha dele embaixo do braço, pra vender uma etapa??? Ou pra tv estatal daqueles paises do sudoeste asiático, como se vende uma competição sem a Ferrari?. F1 eles não conhecem direito. Mas a Ferrari eles conhecem... e muito.
E a Ferrari sobrevive sem a F1. Assim como Porsche, Lamborghine e outras...

Felipe Maciel disse...

É o que eu digo. A FIA precisa da F-1, que precisa da Ferrari. A Ferrari precisa da F-1, que não necessariamente precisa da FIA.

As equipes querem fazer suas próprias regras para promover o campeonato e tem condições de aplicar isso. Os fãs estão contra a FIA. A FIA é quem chata que se voltou contra tudo e contra todos para lançar esse bando de disparates que surgem da mente do Mosley, que deveria encerrar a carreira, ao invés de criar encrenca na construção de um regulamento.

Quem sobra na história é a dona FIA, a máFIA, o FIAsco, ou a FIAdap... Como preferir.